sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

RECORDANDO O "A AÇOTEIA"

Entrada principal da Escola
Título da notícia:

"OS PORTÕES DA ESCOLA E A DISCIPLINA"


Com a distribuição das entradas e saídas dos alunos e das alunas por dois portões afastados resolveu-se um importante problema disciplinar da nossa Escola.


Acabou-se com o espectáculo verdadeiramente deseducativo e indecoroso, provocado pela afluência, junto do portão principal, de enormes magotes de alunos turbulentos e indisciplinados e evitaram-se os vexames a que se sujeitavam as colegas e até pessoas estranhas à Escola.


Verificou-se posteriormante que alguns alunos aproveitavam a circunstância dos portões se encontrarem abertos para sairem nos intervalos e se postarem junto do portão das alunas molestando as colegas com palavras e atitudes menos correctas.


Em consequência, deram-se ordens para uma maior vigilância e para que os portões só fossem abertos nas horas das entradas e das saídas.


O portão principal ficou reservado para os casos imprevistos e justificados, a qualquer hora.


Pretende a Direcção que todos os alunos e alunas colaborem, no sentido de prestigiar a Escola e a si próprios, não tentando iludir ou sufismar as normas estabelecidas e procurando facilitar a tarefa dos empregados.


Sabemos que muitos alunos são respeitadores, educados, auto-disciplinados. Mas, infelizmente, não há processo de os distinguir dos outros, dos muitos que não possuem ainda essas qualidades. As normas têm de ser extensivas a todos.


O que não é possível é fazer educação e ensino sem um mínimo de ordem, de respeito e de disciplina.


O ideal seria que a ordem e a disciplina se conseguissem expontâneamente, sem coacção.


Está nas vossas mãos, jovens que frequentam a Escola, contribuirem para que nos aproxtmemos desse ideal dando sempre exemplos de uma conduta digna, particularmente os mais idosos e os que têm já uma personalidade formada.


O corpo directivo da Escola acolhe sempre com toda a atenção e interesse os alunos que se lhe dirigem expondo os seus problemas e procura solucioná-los dentro do possível e do razoável.


Não pode, porém, abster-se de chamar à ordem aqueles que, pelo seu comportamento anti-social, põem em perigo a obra educativca da Escola.


Contudo, todos, sem excepção, podem contar com a nossa boa-vontade e compreensão mesmo quando prevaricaram arrastados, quantas vezes, por impulsos momentâneos que não souberam ou não puderam controlar.


O Director

Jorge Monteiro


(IN AÇOTEIA - ANO I - Nº 3 -Maio de 1962)


Recolha de Rogério Coelho
NOTA: Algo se falou dos portões da Escola para alunos e alunas, achei que esta notícia do "A AÇOTEIA" vinha em altura própria.


3 comentários:

Anónimo disse...

CARO ROGER,

Muito oportuno o artigo e concordo com a publicação. O Dr. Jorge Monteiro foi um grande amigo da Escola. Foi bom recordá-lo aqui.
Gostei da publicacão do artigo pela oportunidade.

Parabens mano,
JBS

Anónimo disse...

COMENTÁRIO DE WASHINGTON

Esperei, esperei mas não desesperei….por alguma reacção ao texto “ Recordando o Açoteia” os portões da escola
Só vi um, do JBS .talvez por ser ele próprio um docente , sentiu que deveria dar opinião
Será que o texto não mereceu reflecção, meditação e reacção?
Será que ninguém se atreveu a comparar esses tempos de respeito pelos professores colegas e escola em si com o que se passa hoje?
Será que hoje, algum DR JORGE MONTEIRO se atreveria a uma medida desta natureza sem que lhe caísse em cima “o politicamente correcto” e o esmagassem?
O nosso director que eu já havia esquecido o nome mas fui aluno da sua digníssima esposa, a Drª MARIA JOSE’, teve razão nessa medida…..Havia já nesse tempo
Na nossa escola um pequeno numero de colegas [?..!] que eu chamaria hoje arruaceiros profissionais e instigadores da indisciplina , mas muito poucos….Aquela medida foi necessária e teve êxito
Hoje, com todas as liberdades conquistadas e concedidas, basta abrir um jornal e…vê-se o que grassa pelo ensino que temos
Aqui ocorre-me o dito quase constante na boca de um amigo, citando o grande PADRE AMERICO…”.Não há meninos maus! “…..Mas será que não os ha’?;pergunto eu.

DIOGO TARRETA

avlis disse...

Que tempos!!!

Tem cinquenta anos esta "postura" da Direcção da nossa Escola! Conceito de disciplina, aquele, que impedia a entrada pela mesma porta de acesso à Escola, de alunos de sexo oposto!!! Conceito que, igualmente, impediu que durante muitos anos se formassem turmas mixtas!

Hoje, parece impensável o pronúncio de semelhante "postura"!

Eu fui aluno do Dr. Jorge Monteiro, Português das Secções Preparatórias. Homem de educação irrepreensível Sensibilidade de poeta, que se manifestava na paixão com que expunha Sá de Miranda ou Bocage ou dissertava sobre a beleza narrativa de Viagens na Minha Terra.. Lembro um episódio, a salientar a sua educação e sensibilidade. Num exercício escrito o Marcelino empregou a palavra "gravidez" em lugar de "gravidade" do problema. Aquando da entrega dos exercícios, o Dr. Jorge Monteiro observou que o "sr. Marcelino tinha cometido um grave erro de utilização de termos, manifestando uma enorme confusão. Que não iria referir na aula a palavra utilizada, porque a turma era mixta e poderia ferir susceptibilidades!"

Mas, voltemos à "postura" em apreço. Em meu entender, não me pareceu necessária! Viviam-se tempos em que o respeito que se manifestava pelo sexo oposto, pelos mais idosos ou pelos socialmente mais privilegeados, tinha muito peso e não eram cometidos desaforos nem se adoptavam condutas indignas ou repulsivas. Havia, naturalmente, as manifestações próprias da irreverência da juventude, mas estas não eram ofensivas do decoro que se impunha no trato com uma colega mais "vistosa" ou com uma professora "mais saliente". Repito, pareceu-me sempre que tal medida foi desadequada.

Talvez que medidas daquele exagero tenham contribuido também, pelo efeito de descompressão, para o exagero em que as relações entre sexos opostos se encontram hoje, como se pode aquilatar observando agora, durante um intervalo, um qualquer pátio de uma qualquer Escola deste país.

Foram os tempos que vivemos! E que mutação sofreram!!!
Melhores?! Piores?! Não interessa! Foram os nossos tempos. Neles crescemos, nos formámos, modelando personalides. As que trouxeram o país até hoje...

Arnaldo silva
Felizmente reformado