quarta-feira, 19 de março de 2008

CORREIO COSTELETA

(hortas)

A PROPÓSITO DE MONTANHEIROS.

texto de JORGE TAVARES

Tuesday, March 18, 2008 4:25 PM

A propósito da evocação, com alguma regularidade, dos chamados "costeletas montanheiros", proponho-me duma forma sintética, falar da origem de tal qualificação.

À época e em termos geográficos, a cidade de Faro começava nas seguintes entradas:

- Vindo de Loulé, no ex-posto da polícia de viação e trânsito;
- Vindo de São Brás de Alportel (antiga estrada de Lisboa),no final da Rua do Alportel, e quando se virava para o chamado bairro da Barulha;
- Vindo de Olhão, junto ao posto da Marinha, no conhecido Radio Naval.

Esta delimitação servia para a qualificação dos seus habitantes como citadinos ou farenses.

À saída da cidade e até ao início da serra, as hortas de regadio espalhavam-se por vários quilómetros. Os habitantes desta região, na sua maioria produtores agrícolas, autodenominavam-se de montanheiros.

Na zona da serra, também conhecida por barrocal, os habitantes eram conhecidos por serrenhos.

Será curioso olhar um pouco sobre o tecido social dessas três zonas, na época de que falamos e verificar como elas correspondem sem grandes diferenças a três classes distintas:

- Os citadinos, na sua grande maioria, distribuíam –se pelas seguintes actividades profissionais: marítimos, funcionários públicos, corticeiros, empregados na CP, comerciantes, artesãos, entre outras, que em regra viviam com algumas dificuldades, justificadas como se dizia na altura, por terem de comprar da “água ao sal”.
-
- Logo, os costeletas, oriundos dessa classe social, ficavam-se pelo curso comercial ou industrial, excepcionalmente secções preparatórias e mercado de trabalho (escritórios, bancos, função publica, oficinas de serralharia ou mecânicas).

Os licenciados desse grupo, atingiram esse grau académico porque foram para Lisboa trabalhar prosseguindo em simultâneo os seus estudos ( trabalhadores estudantes ).

- Os montanheiros, gente sem horário de trabalho e em que a dureza do mesmo, era marcante na sua figura (regar um milharal, em Julho pela força do calor, só quem o fez é capaz de avaliar ), tinham uma situação económica muito melhor que os citadinos, justamente porque trabalhavam muito, produziam para comer e, em consequência, também gastavam muito pouco.
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- Os costeletas seus filhos, por essa razão, tiveram possibilidades de continuar os estudos via Institutos e posteriormente, tiveram o acesso mais facilitado aos estudos superiores. Outros ainda, porque estavam preparados para trabalho duro, emigraram com bastante sucesso.

- Os serrenhos, pessoas duma só palavra, temperamento fechado e de hábitos muito peculiares, viviam distantes dos gastos e de algum consumo, já existente à data.

A pequena horta, permitia o chamado gasto da casa e a venda dos frutos secos (amêndoa, alfarroba, figo) e alguma cortiça, proporcionava uma economia bastante boa.

Como consequência desta situação, os seus filhos costeletas ( muito poucos ), obtiveram em regra grandes probabilidades de sucesso estudantil, mesmo ao nível do acesso à universidade.

Este pequeno texto, pretende de algum modo tipificar em termos sociais e económicos, a denominação frequente no blog, dos costeletas montanheiros, ampliando-a aos citadinos e serrenhos.

jorge tavares

O MEU COMENTÁRIO È:

Não estou muito de acordo com o que diz o JORGE TAVARES. Porque não fomos nós que nos autodenominamos de montanheiros como o Jorge diz.

Nós chegámos à cidade, alguns de nós com a nossa farda de campesino, botas cardadas e boina na cabeça, com o célebre quico.

Os citadinos, roubavam-nos as boinas e cortavam – nos os quicos. Foi por isso que nunca falei com o Eusébio gerente do Sotto Mayor e de Salir, que me cortava os quicos todos.

Os da cidade é que nos chamaram de montanheiros que nós não sabíamos nada disso. O Cabrita de S. Brás trazia uma boina que abotoava por debaixo do queixo e samarras `a bruta. V muitos irem para a aula de ginástica de boina na cabeça e o Américo é que lá travava aquilo..

O termo “costeleta montanheiro” foi eu que o introduzi, para classificar de melhor aluno da Escola de todos os tempos o montanheiro de Bordeira o ANTÓNIO MARIA PINTO DE BRITO AFONSO, hoje do Almirantado da Marinha Portuguesa..
Os serrenhos eram iguais aos montanheiros.

A situação económica dos montanheiros não era melhor que os da cidade. Acho que os da cidade viviam do ordenado fixo e isso no campo não havia.

Talvez os montanheiros tivesse mais tenacidade e conhecessem melhor a dureza da vida.

O Cavaco, chumbou uma vez só. Foi no terceiro ano e o pai meteu-o a regar milho e o Cavaquinho nunca mais chumbou e chegou a Presidente..


João Brito Sousa

2 comentários:

Anónimo disse...

Boa Tarde.

Caro JBS,

Recuando no tempo e recordando tempos por mim vividos,concordo inteiramente com este seu comentário.
Na verdade, eram todas essas dificuldades que, quem vivia no campo e do campo, inevitávelmente sentia na pele.
Vê-se que é um Homen oriundo do belo mundo rural.
Concordo inteiramente consigo.

Cumprimentos

AGabadinho
Cumprimentos

Anónimo disse...

PORTO, 2008.03.20

Ao António Gabadinho

Viva.

Vamos desenvolver esse tema.

Abração.

JBS