sábado, 26 de abril de 2008

À CONVERSA COM A COSTELETA


ISABEL COELHO

Saí do Hotel às 11 horas e, como de costume, fui direito ao café Aliança onde costumo encontrar o meu grande amigo Reinaldo Tarreta, a quem devo um euro, que me emprestou para pagar o estacionamento do carro..
Os cafés estavam fechados.

Peguei em mim e fui ver o café Batata, passando ao lado da Mercearia Aliança, que era no meu tempo de rapaz, o mais categorizado estabelecimento do ramo alimentar da cidade, a começar pelo proprietário, o Senhor José Pedro da Silva, que foi o que se pode dizer, um enorme senhor.

Não menos dignos eram os seus principais empregados, o Sr. Gabadinho, o Sr. Guerreiro, o Sr. Glória e o Sr. Sérgio.

Outro estabelecimento deste género e de estatuto não inferior era a Casa das Manteigas do Gago da Mercearia, na Rua de Santo António. E a propósito dos “gagos”, há que recordar o Gago da Rua Filipe Alistão, junto ao Largo de S. Pedro, em ramo de negócio semelhante, que era Pai do Dr. Lourenço Gago, que em Lisboa onde se radicou, conseguiu o título de campeão nacional de bilhar.

O café Batata estava fechado e voltei para trás. Encontrava-me agora em frente do Hotel Faro, ex Hotel Aliança, e olhando em redor, vi o local do antigo café Coelho, onde a minha mãe, quando vínhamos à cidade e ali desembarcávamos da camioneta, me dizia, João vamos comer um bolo de arroz ao coelhinho, a minha mãe gostava da paródia, e lá íamos, eu e ela, ao café, e a minha mãe pedia dois bolos e, recebendo a mercadoria dizia-me toma lá João.

A Minha mãe... que saudades.

Estava eu nesta, com uma lágrima, ou duas , ou três, ou cem pela face abaixo, quando me passa pela frente o João Coelho, taxista e ex jogador de futebol do Farense, que uma vez me tinha dito que estava àrrasca do menisco, mas que tinha um sonho, ser na vida o que foi o Marlon Brando no filme “Há Lodo no Cais” .
João, festa do 25 de Abril, onde é? E ele, em Querença. Tens aí o taxi? Ya meu. Vai buscá-lo. E fomos ao chouriço assado em Querença.

E lá estavam o mano Roger e a esposa, a minha colega de turma, a Isabel Coelho. Foi conversa até às tantas.

Assim:

Isabel, lembras-te do nosso quinto ano a português com a Drª Almira?

A Drª Almira foi uma extraordinária professora e poetisa, um pouco nervosa pela responsabilidade do desempenho da função de professora, mas foi uma grande mulher. Ensinou-nos muito e eu, particularmente, estou-lhe muito grata.

A malta do nosso tempo?

As Maias estão em Lisboa, a Pisa e a Maria do Céu Matos Cartuxo não as tenho visto, a Susana Moreno dos Braciais estou às vezes com ela e disse-me que lhe faleceu a Mãe. De resto andamos por aí...

Qual a tua relação com a cidade?

É boa. Nos tempos livres, encontro-me com as amigas, a Associação e as suas comemorações dão-me o seu trabalho, só que o meu marido agora caiu uma queda na nossa quinta em Belmonte e ia-se matando, mas já passou... eu gosto da cidade, nasci aqui, tenho aqui os meus familiares, conheço toda a gente e as pessoas conhecem-me a mim. Às vezes encontro o Jacinto da cortiça, o Herlander Estrela da Pensão Montlander, o Joreca e outros moços do nosso tempo. A cidade é simpática, dispõe de Biblioteca Municipal, com possibilidade de utilização de livros, informática. e outros.

A vida, em geral?

Vai bem, obrigado. Eu e o Rogério estamos aposentados. Somos um casal amigo. A vida, num certo sentido, exige de nós e teremos de nos entender com ela.. Poderá haver atropelos entre o casal, ou até mesmo com terceiros, mas até agora temos sabido resolver os assuntos que a nós dizem respeito. A vida é para ser vivida com amor. Entendamos amor aqui como sucedâneo da palavra respeito. Esta, é uma palavra, que tem cabimento em todo o lado. Na nossa vida profissional, na política, nas relações de trabalho, na estrada quando vamos a conduzir, é fundamental que haja respeito, o que , aliás, é uma coisa simples. Respeita é estar de acordo com a lei, e submetermo-nos às norma s emanadas pelas autoridades. Num certo sentido e visto por um certo prisma a vida é fácil de levar a bom porto.

Os domingos e feriados como hoje?

São como vês, passados em família, nós mais o Smart. Nesses dias saímos de casa, vamos dar uma volta, arejar, como se diz por aqui, se encontramos amigos conversamos um pouco, desenferrujamos, porque, com o sabes, nós precisamos de conviver, trocar ideias sobre as coisas da vida, do mundo em geral, precisamos inclusivamente de ouvir os outros, precisamos de participar, de partilhar, de ser solidários, precisamos de lutar por uma sociedade melhor, precisamos de acompanhar os nossos netos na escolha do caminho profissional, de lhes incutir hábitos saudáveis de comportamento no âmbito social, precisamos de estar atentos ao que se passa na nossa freguesia e Município e, inclusivamente participar em reuniões decisórias de carácter geral e outras .....

Muito bem. Queres deixar alguma mensagem especial para o nosso blogue?

Gostava que os colegas participassem mais, que contassem uma história para publicação, que dessem ideias, em suma que nos ajudassem porque o blogue é um espaço importante para união do nosso espírito costeleta. E gostava que lá aparecessem todos os cursos desde os anos quarenta até agora. E que investissem no espírito costeleta, conhecendo os feitos de muitos bons alunos que a Escola teve, porque felizmente a Escola não é só Aníbal, mas também Brito Afonso, Herlander Estrela, João Vitorino Bica e muitos outros...

Gostei .E despedimo-nos.

Texto de
João Brito Sousa

1 comentário:

Associação Antigos Alunos Escola Tomás Cabreira disse...

Não esperava!
Desloquei-me a Querença na festa do chouriço, para visitar o casal Farias, comer o chouriço assado e beber aquele nectar especial de vinho caseiro do Daniel Farias.
Dei de caras com o João Brito de Sousa que me solicitou uma entrevista para o Blogue dos Costeletas. Acedi. Falei do passado e do presente. O tempo correu e regressei a casa sem ter comido o chouriço assado e provado aquele pinga especial do Daniel.
Entrevista? A quanto obrigas...!

Isabel Coelho