quarta-feira, 23 de abril de 2008

À CONVERSA COM O COSTELETA


MÁRIO ZAMBUJAL

Ainda estou por FARO e gostava de continuar a estar. Faro atrai-me pelo passado doutros tempos. Recordo então aquela cena no Café Aliança, quando fui lá tomar café com o Zé dos Santos, um homem da minha terra de quem sou muito amigo desde as futeboladas no campo dos matos e tojos, onde o Zé jogava descalço.
Entrámos, sentámo-nos e esperámos...
E o empregado nada...
Até que o Zé se chateou, olhou e gritou..... Éih, ó manzurro .,. então como é..

Lembrei-me dos engraxadores, fardados a cotim azul, um comportamento exemplar baseado em pouca conversa e trabalho à altura.

E fui até lá.
Sentei-me e não precisei de chamar manzurro ao empregado. Fui atendido normalmente. Tomei o café e estava aparentemente livre. Olhei em redor na vaga perspectiva de ver por ali o Vieira Calado do Liceu, a Ana Bela Buissel, o Helder Amaro, o Aleixo, o Jaime Reis ou o Guta da Escola. Nada....

Eis senão quando passa o MÁRIO ZAMBUJAL.. Foram duas horas de conversa que deu nisto.

Mário, em Faro a fazer o quê?

A matar saudades, claro. Como diz o Sérgio Godinho, de matar não gosto muito saudades é diferente. Sabes, fiz aqui os estudo secundários, os meus pais e irmãos viveram aqui, foi aqui o meu primeiro posto de trabalho, a minha infância foi aqui, a minha juventude idem e tenho cá grandes amigos. Venho muitas vezes a Faro, vagueio pela cidade e recordo. É um bom exercício, sabes.

E o que é que te lembras dos teus tempos passados aqui?

Recordo de jogar à deserta com os outros no começo da noite. Era um jogo praticado entre dois grupos de rapazes em que os de um grupo tentavam apanhar todos os do outro. Íamos à Rua de Loulé ver o Pai do Sidónio trabalhar na arte de abegão, pois a sua actividade era construir carros de mula e arados. Eu adorava ver o manejo da plaina pelos operários. Às vezes íamos chatear a cabeça ao Acarreta Pauzinhos, que era uma espécie de adjunto para toda a obra de uma das adegas do Largo da Palmeira.. e tanta coisa....

Quem era a malta do teu tempo.

Eu era do célebre 2º ano 4ª turma, portanto era companheiro do Franklin, do Zé António da Luz, do Clérigo do Passo, dos irmãos Molarinho, do meu irmão Xico, do João Manjua Leal, do Casimiro de Brito e de outros mais. ...

Como é que foi a tua oral a inglês com Mr. Passos?

Foi uma cena cómica. Eu embirrava com o Inglês e tinha sido admitido à oral a Inglês com o Dr. Passos. Eu andava por ali a dar as últimas numa lição que eu sabia mais ou menos, quando me aparece o Professor, que ao ver –me naquela aflição, disse-me, então Mário, qual é o problema? E eu, não sei como, ainda arranjei força suficiente para dizer ao Prof...ó Stor, veja bem a minha sorte, gosto tanto desta lição que gostava imenso que ela me saísse. Mas será lá possível?... E o prof sorrindo seguiu para a sala de exames. Depois começaram as orais e às tantas fui chamado e diz o Dr. Passos, ora senhor Mário, abra lá o seu livro na página 85. E Assim me safei..

E despedimo-nos.

Texto de
João Brito Sousa

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