quinta-feira, 28 de agosto de 2008

DO CORREIO

O Maurício, vestido para o casamento?



Do nosso associado "Costeleta" Maurício Severo Domingues, recebemos a carta que, por acharmos interessante e inédita, transcrevemos na íntegra.


Meu Caro Rogério
O abraço de sempre
Ontem, como hoje, a presença dos Costeletas não se limita ao espaço geográfico deste maravilhoso rectângulo, limitado pelo Promontório Sacro, a Foz do Guadiana e a Serra do Caldeirão.
Assim, e colocando de parte, por agora, as recordações vividas no Espaço Algarvio, que muito saudosamente são recordadas por antigos alunos da TOMÁS CABREIRA, procurei esvoaçar por outras paragens que marcaram a nossa juventude, África e Oriente, onde me cruzei com alguns Algarvios e Costeletas que, espalhados pelo Mundo, marcaram posições de relevo.
Há quase 60 anos, desembarcando em Lourenço Marques para dar um passeio pela cidade, e enquanto o navio fazia aguada e enchia os paióis de fruta e géneros alimentícios para o resto da viagem, sou saudado por um funcionário do porto de Lourenço Marques que, ao reconhecer-me como residente da cidade de Faro, satisfeitíssimo por me ver, em ar de graça e brincando com o inesperado encontro, exclamou: '" Mó.. ó, há quanto tempo não via um moço de Faro! "Não há dúvida que encontramos algarvios por toda a parte !! - Há T mais Algarvios que gente, " rematou
Achei piada à graça, dita sem aquela maldade que porventura possam pensar alguns" marafados" e lá fomos festejar com uma cerveja fresquinha no primeiro Bar que encontramos aberto.
Depois de passar por GOA e ter recebido guia de marcha para DIU, para me juntar à Bateria de Artilharia de Évora, comandada pelo Capitão Vilares Cepeda, embarquei no glorioso Aviso "Afonso de Albuquerque", em plena monção, vagas que varriam da proa à popa todo o navio.
Foi uma viagem angustiante, para passageiros e tripulação, com as escotilhas todas fechadas, grande parte do pessoal a "chamar pelo Gregório ", mas este não lhes dava ouvidos.
Sorte minha! . No meio de tantos Alentejanos da Bateria de Artilharia de Évora, encontro-me com um ilustre Algarvio, o saudoso Coronel de Ina- ANDRÉ DO NASCIMENTO INFANTE, Governador do Distrito de Diu, irmão do Duarte do Nascimento Infante e sobrinho do Senhor Eduardo João da Silva, dono da Papelaria Silva de Faro.
Não quiz o Governador entregar a segurança do Aeroporto e Rádio Farol a estranhos e, com a confiança da minha amizade, chamou-me ao Palácio do Governo para me destinar uma missão espinhosa e de grande responsabilidade, pois o Aeroporto ficava próximo da fronteira com a União Indiana e os"Satiagrás ", embora pouco agressivos eram mais que formigas. Deu-me um Pelotão de praças nativas e como intérprete, um IMA - muçulmano, extremamente leal, natural do Paquistão de nome MAMUDE VALI MAMUDE, com quem me entendia no meu inglês "macarrónico," acompanhado de linguagem gestual, que permitia bom entendimento entre todos .. As praças só conheciam algumas palavras de português..
A amizade e a confiança cresceram com o passar dos dias e noites de vigília, sempre atentos, para travar a entrada de indianos no território e também com vista a evitar qualquer acto de sabotagem.
Um dia manifestei o desejo de possuir um turbante para tirar uma fotografia, uma vez que usava barbas e bigode à maneira dos soldados indianos.
No dia seguinte, o bom do nosso MAMUDE apresentou-se no Destacamento com uma mala de cartão. Dentro dela trazia o seu fato de casamento completo, e onde não faltava o colorido turbante, “cor-de-rosa" e até duas canetas na pequena algibeira da casaca, embora nunca o tivesse visto escrever qualquer coisa. Julgo que seriam para adornar e mostrar a sua qualidade de respeitável Sacerdote Muçulmano..
Várias fotografias foram tiradas, mas aquela que guardo com mais carinho há 53 anos, é esta que te estou a enviar, vestido com o fato de casamento do IMA - MAMUDE VALI MAMUDE.
Reconheces-me? A idade era outra e as barbas ocultavam a face. Coisas da Juventude !!
Abraça-te o Maurício
Colocado por Rogério Coelho

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