segunda-feira, 18 de agosto de 2008

FELIZARDO & GLORINHA; AO SERVIÇO DO POVO E TAMBÉM DOS COSTELETAS


"Este texto é publicado em memória do Laurentino Cevadinha de Boliqueime, do Zé Guerreiro de Vale d'Éguas e em homenagem ao Manuel Lima de Salir, industrial de taxis em Alte, que foram talvez, de entre todos os costeletas, os melhores amigos do Ti Felizardo e da ti Glorinha.

E também em memória do costeleta e sobrinho Luís Cunha.


A OUTRA ESCOLA; FELIZARDO & GLORINHA

Quando eu cheguei a Faro em 52 o estabelecimento comercial FELIZARDO & GLORINHA, já lá estava instalado de armas e bagagens na rua da PSP.

O estabelecimento era dividido, se bem me lembro, em duas áreas comerciais, uma de mercearias e outra, digamos assim, de comes e bebes.

Além de toda a clientela do bairro, havíamos nós, os alunos da Escola Comercial e Industrial, que consumíamos da zona dos comes e bebes, as célebres sandes de atum, de cavala e de outros.
Para nós, a designação do estabelecimento era indiferentemente chamado de estabelecimento do Ti Felizardo ou o estabelecimento da Ti Glorinha. Dizer vamos à do Ti Felizardo ou dizer vamos a da Ti Glorinha era a mesma coisa.
Todavia, em termos de carinho recebido da parte do patronato, a D. Glorinha era como se fosse a nossa mãe, sempre atenta à nossa estadia ali, sempre preocupada com o que nos pudesse acontecer na cidade, sendo que, esta atenção, era mais direccionada para os montanheiros, como eu e éramos muitos, que não percebíamos nada do que era a Escola nem o que era a vida na cidade

È claro que faziam lá o seu negócio, como faziam também o senhor Manuel dos bigodes e o Coelhinho, que lá iam vender sorvetes e pinhões e um tipo de Olhão, que ia lá vender ratos, um rebuçado grande feito à base de mel, que a gente gostava muito.Mas na loja da Ti Glorinha é que era bom e a gente ia lá tratar da nossa saúde.

Comíamos umas sandes, bebíamos qualquer coisa e toca a andar.Ainda hoje, falando com os alunos da Escola do meu tempo, quando nos encontramos, lá vem sempre uma referência de saudade das sandes da TI GLORINHA e do TI FELIZARDO.Por isso tudo, o que quero realçar nesta crónica é o acolhimento que nós recebíamos dessas pessoas, digo FELIZARDO e GLORINHA, que antes de serem comerciantes eram seres humanos e que igualmente nos tratavam como tal

A nossa vida estava mais facilitada com a sua presença no terreno. Em caso de necessidade nós sabíamos que eles estavam lá.

Não é porque nos emprestassem dinheiro a juros, não é porque nos vendessem as sandes fiado, não é porque os fizessem descontos nas encomendas ... nem por quaisquer outras milhares de razões... Nada disso.... nada

Nós íamos à do Ti FELIZARDO porque dos proprietários deste estabelecimento recebíamos... tão só... um pouco de carinho e amor ou seja, um pouco mais de calor humano... que foi muito importante para todos nós, que nos estávamos a iniciar na complicada caminhada da vida.

Agora que já terminei esse percurso e estou reformado, quero dizer-lhes muito obrigado Ti FELIZARDO e TI GLORINHA.

É a minha opinião e recordo-os com saudade.

Estejam lá onde estiverem, aí vai para eles, um ALABI... ALABÁ... BUM.. BÁ....que era o grito dos costeletas lá da Escola Comercial, onde aprendemos os rudimentos do Comércio ou os rudimento da Indústria.

Mas o outro aspecto da vida, começámos a aprender no TI FELIZARDO.

O que é que queres? perguntava o patrão.
Cinco tostões de cigarros, Ti FELIZARDO.
E lá vinham três Hight Life, ou três Três Vintes, ou três Paris, que eram as marcas de tabaco mais populares desse tempo.

Eram outros tempos.

Agora já não fumo mas o estabelecimento ainda lá está, gerido agora por um neto, a quem peço o favor de honrar a memória dos avós.

Respeitosamente.

João Brito Sousa

3 comentários:

Anónimo disse...

Porque moro em Faro, é com alguma frequência que passo junto deste saudoso estabelecimento recordando os idos anos 60!!!
Quantas sandes também eu alí comprei?
Quantos cigarrinhos avulso ali adquiri?

Obrigado JBS por nos trazer mais esta recordação.

Cumprimentos
AGabadinho

avlis disse...

'Tá aí uma boa evocação!

Eu frequentei a nossa Escola, ido de Tavira ou de Messines. Para além dos livros, também o saco da merenda me fazia companhia. O raio dos cinco tostões não abundavam muito por esses tempos.... Mas sempre ia tendo alguns, às vezes obtidos por vias menos honestas, como seja a de invocar que havia que comprar mais um caderno diário ou um esquisito material para as aulas da Florinda. Na loja do Ti Felizardo converti muitos desses "cadernos diários" ou "material de estudo" nas saborosas sandes que lá se serviam ou no prazer de fumar um PARIS que contrastava bem com o PORTUGUÈS SUAVE que surripiava do maço do meu pai. Lembro-me bem do casal, da sua simpatia e da sua "capacidade paternal", sempre afáveis na convivência connosco e no bom serviço que nos prestavam.
Que estejam bem, onde quer que estejam.

A propósito de evocações, pergunto a quem vive em Faro, se ainda se vendem pinhões torrados para abrir com com o prego de bico martelado, objecto de algumas "faltas disciplinares" do meu tempo.

Aquele abraço do
arnaldo silva
felizmente reformado

Anónimo disse...

Boite Noite,

Continuando a reviver esta evocação ...

Também eu tive um colega que diáriamente vinha de Tavira mas cujo nome já não recordo; e dois também de S.Bartolomeu de Messines mas hospedados em Faro.Um deles, o Martins foi meu parceiro de carteira e mais tarde companheiro no serviço militar em Sacavém.O outro foi o Neto, por sinal descendente do conhecido homem de negócios Fontaínhas Neto.Bons amigos que nunca mais vi.
Quanto á "guita" para os tais cigarritos, a minha estratégia era o pedido à minha mãe de dez tostões para folhas (folhas avulso para caderno).Deste modo também eu alternava a fumaça do fraco "Definitivos" igualmente surripiado ao maço do meu pai, com os tão apetecíveis "Paris"; "Três Vintes" ou "Sportings" adquiridos no estabelecimento do Ti Felizardo com os tais dez tostões pedidos para aquisição de folhas.Não há dúvida que também fuí uma boa "peça"!!!
Quanto aos "famosos" pinhões que a malta comprava acompanhados do tal prego de ponta espalmada para os abrir, tudo isso infelizmente se perdeu.

Cumprimetos

AGabadinho