terça-feira, 30 de setembro de 2008

A MONTRA DOS COSTELETAS


A RUA DE SANTO ANTÓNIO
por João Brito Sousa

Falar desta rua da cidade é falar daquilo que a cidade terá de mais nobre para oferecer a quem a visita. No Natal. então, é uma enchente de malta que vem de todo o lado ver a família e os amigos e depois não falha uma visita à Rua de Santo António. É lá que está a malta do nosso tempo. E no Verão é a mesma coisa.

É lá que encontrávamos sempre o Bernardo Estanco dos Santos, o Alex (já se foi) que uma vez vi andar de tricilo dentro da livraria Silva, o Francisco Machado Valente (já se foi) a discutir o Sporting com o Ló da cortiça, o Jorge Valente dos Santos, conhecido por Jorge Barata, grande jogador de andebol e baskett e meu treinador e conselheiro técnico na minha qualidade de keeper no campeonato inter turmas de andebol, o Zé Manuel Eusébio do Sotto(já foi) o Fernando Cabrita casado com a Pina, o Franklin, o Luís Cunha (já. se...) o Diogo Costa de Sousa y su MONDIAL e muitos mais... E depois há a esplanada da pastelaria GARDY, estrategicamente situada e totalmente lotada por nacionais e estrangeiros.

A rua é a montra da cidade. Era por ali que o homem das perdizes apregoava às quatro da tarde ... éh caça brava, era ali a meio da rua, em frente ao ex BNU de hoje que o fotógrafo Cartaxo tinha a sua vitrine com fotografias dos jogos do Farense. , era ali que fica a loja do Dimas, o portador dessa risada sonora e pura que a cidade tem saudade, era por ali que o Vieguinhas e o Pardal passavam a vender os jornais, o Diário Popular e o Diário de Lisboa, era por ali que passavam às cinco da tarde os Profs. Xico Zambujal, Daniel Faria do Magistério Primário e Prof. Fortes, da ginástica do Liceu. E muitos milhares de pessoas.

E era por ali que passavam das miúdas mais bonitas da cidade, que, segundo o meu critério eram a Avelina, a Isabel Coelho e a Graciete da Escola Comercial e a Rute e a Aidé mais a Ilda Capela, que na minha, era o expoente máximo de beleza feminina da cidade.

É aí na rua de Santo António que fica a farmácia do Dr. Baptista, (repito-me tanta vez,,,) que no final do exame oral de cálculo financeiro do 4º ano lá na Escola Comercial me disse:- você sabe mais do que aquilo que pensa. Nunca mais me esqueci disso e quando passo por lá dou sempre uma olhadela a ver se me deparo com o Mestre amigo. E aí que fica a loja do senhor Rodrigues, a fina flor das lojas das cidade, que tinha coisas lindas, onde a minha mãe teve a ousadia de entrar para fazer uma compra, mas, com aquele seu aspecto de mulher do campo não teve sorte nenhuma, esperou uma hora e nunca foi atendida, porque não tinham nada do que a minha mãe queria (leia-se, não quiseram vender nada à velhota do campo), era ali o consultório do Dr. Campos Coroa, meu professor de Higiene lá na Escola Comercial que um dia na aula falou de relações sexuais e cuidados a ter e a malta baixava a cabeça e ria-se, ficavam ainda a Tipografia Serafim, a loja Tabú, a loja dos Carminhos, eu sei lá.. tanta coisa.

A cultura estava entregue `a Académica, à Papelaria Silva e ao senhor Capela.. Nesses anos cinquenta, havia trânsito que vinha do jardim para a Pontinha e era sempre muito concorrido. O coração da cidade estava ali. E penso que ainda está. Surgiram novos estabelecimentos e a zona comercial manteve o seu estatuto imponente. Não poderei esquece que mais ou menos onde ficava os TAP hoje, havia a loja ATLAS, uma sapataria de preço fixo, aspecto que julgo importante do ponto de vista comercial. Faro era a cidade inovadora e capital de distrito.

A rua de Santo António é importante para Faro como a Rua Augusta o é para Lisboa, como Les Champs Elisées o são para Paris, com Trafalgar Square é para Londres ou como Manhattan o é para Nova Yorque.

E era aqui que ficava também o café Brasília onde eu e o Firmino Cabrita Longo das Fontainhas nos preparámos para o exame de admissão para o Magistério Primário.
Era aqui...

Faro será sempre a minha cidade..

1 comentário:

Anónimo disse...

Bom Dia

Sr. JBSousa,

Bonita a descrição que nos faz da Rua de Santo António dos anos 50/60.
Também conheci nessa altura aquela que continua a ser, quanto a mim, a zona mais nobre da cidade de Faro, e relembro agora o que neste seu maravilhoso texto nos recorda: o trânsito ao tempo existente; as lojas da época; cafés; as pessoas e toda a azáfama própria daquela movimentada rua totalmente voltada para o comércio e convivío entre as pessoas.
Sim, escritas com toda a sua arte , as coisas vivem-se!!!
Não diga que gostava de ser escritor. Esse dom está consigo. Por isso, continue a transmitir-nos, tudo aquilo que tenha para nos comunicar. A sua escrita é sempre lida com prazer e alegria!!!

Cumprimentos

AGabadinho