quarta-feira, 1 de outubro de 2008

UM TEXTO DO CONVIDADO MANEL PIORNA. UM ESCRITOR E COSTELETA DE ELVAS.


MEUS CAROS AMIGOS COSTELETAS,

Nos velhos papéis, encontrei este quando da apresentação do meu primeiro livro e achei que não só as mulheres da Planície são dignas da minha Florbela, pelo que resolvi também mostrá-lo em louvor das Costeletas. Aí vai.

DISCURSO APRESENTAÇÃO DE
“PUTOS GANDULOS E GUERRA”
22/04/2000

Porque a vida não se troca, nem se vende por nada!
Só não sente, quem não tem capacidade para recordar!

A influente conspiração contínua, do adquirido sobre o inato. Vai metamorfoseando o (barro) Homem, inoculando-lhe na inocência, -“o saber de experiência feito”- a escola da vida. Assim se vai nesta complementaridade, construindo o Ego de cada um de nós.

Escrito sobre homens. Subreptíciamente vai revelando a influência da mulher, na sua desmultiplicação de: Mulher mãe, irmã, amante, companheira e amiga. Heis pois, como gato sobre brasas, “Putos, Gandulos e Guerra” transcreve: a observação -vivida- de alguém sobre o que o rodeia.

Não é este livro, pretensão literária! Mas tão somente o tentar transpor para a escrita, o sentir da vida -sofrida- do povo da Planície.

E porque não também, essa força-mulher, que foi Florbela Espanca?

Pobre de Cristo

Ó minha terra na planície rasa,
Branca de sol e cal e de luar,
Minha terra que nunca viste o mar,
Onde tenho o meu pão e a minha casa.

Minha terra de tardes sem uma asa,
Sem um bater de folhas... a dormitar...
Meu anel de rubis a flamejar,
Minha terra moirisca a arder em brasa!


Minha terra onde meu irmão nasceu
Aonde a mãe que eu tive e que morreu
Foi moça e loira, amou e foi amada!

Truz... Truz... Truz... _Eu não tenho onde me acoite,
Sou um pobre de longe, é quase noite,
Terra, quero dormir, dá-me pousada!...

Sou um sofredor!... O cordão umbilical ainda não me foi cortado. Confio que não o seja!... Sinto-me bem ligado à Terra-Mãe.
Por esse motivo, aqui trago estas folhas, as quais espero sejam o símbolo de uma aldeia una, nesta linda planície.

Assim sendo:
Este livro não é meu!
É dos que do nascer ao pôr do sol, -por magra jorna- trabalharam a terra que não era sua.
É de quem vergado sob o sol escaldante de meio do dia esgotava as forças -dádiva da magra açorda com azeitonas-, puxando pela torta, ceifando o -pão- trigo do mítico celeiro de Portugal.
Este livro é também dos e das que encharcados, sob o agreste frio e chuva do Inverno enterrando as mãos na gélida terra, apanhavam: a fonte que daria força às sopas e luz à humilde candeia.
Este livro é das mulheres escravas que após um dia de trabalho, em vez do merecido descanso, tinham ainda marido e filhos para tratar e a casa que, limpa e branquinha, lhes dava merecido orgulho!
Este livro é daqueles e daquelas que sofreram a saudade da partida e a ansiedade da chegada, dos seus mais queridos, que viram partir para a guerra!
Este livro é dos que aqui nasceram, e dos que aqui chegando criaram raízes!
Também vale a pena recordar Eugénio de Andrade:


Eu sou devedor à terra,
E a terra me está devendo.
Que a terra me pague em vida,
Que eu pago à terra em morrendo.

Este livro é vosso homens e mulheres da minha terra!

Manel Piorna, amigo do blogue, convidado e costeleta de ELVAS.

6 comentários:

Anónimo disse...

MEU VELHO MANEL PIORNA

VIVA.

Bom texto e bom trabalho. O Alentejo estará sempre entre nós.
NÃO ME ACORDES AMANHÃ, foi a última frase de Florbela, qando se preparava para tomar a dose mortal que a havia de levar ...

Quero acordar sempre porque um poeta não vai... fica. Todos nós somos poetas e queremos isso...

Manel... traz-nos mais ALentejo. Fala-nos da tasca do LUIS EM vILA FERNANDO.

ab.

João Brito Sousa

avlis disse...

Ah!

Seu amigo de comezainas! Seu desnaturado "morcão" que também se mete nos pezinhos de coentrada, nas migas, nos paios, nas...
É uma tasca bem acolhedora, sim senhor, a tasca do Luís! Tem uns petiscos bem porreiros e saborosos, daqueles que impõem que se mande o colesterol para as "cucuias" e se esqueça os triglicéridos!

Uma vez por ano, pelo menos, também passo por lá.

Aquele abraço, amigo Brito.

arnaldo silva
felizmente reformado

Anónimo disse...

Um abraço Manuel Piorna.
Já estranhava o silêncio, mas sei que o tempo é escasso para a actividade que o amigo tem. Boa homenagem à Florbela. Continua a despejar mais coisas sobre o Alentejo e ainda da "BOAZONA" (Estoril). Estarei atento.

Um abraço mais do amigo
Maurício

Anónimo disse...

Olá Costeletas!

Se fossem da minha Planície, (porco preto) ainda esperava na Taberna do Adro e não tasca do Luís.
É verdade Arnaldo o Luís é (parente) por afinidade pois é casado com a Zezinha filha de uma prima irmã da minha mãe.
Amigo Arnaldo, aquilo é mesmo bom!
O Luís capricha de facto em ter o melhor que se produz no Alentejo, só que com as entradas um indíviduo fica logo KO.
Quando lá forem já sabem, falem com a Zezinha.
Agora para ti ó "marroco", calma, eaí o Maurício também, que isto não é atar e meter ao fumeiro.
Tenham pena de mim, a guerra na Guiné e os militares dão-me cabo do miolo.
Sei que vos devo muito em termos de escrita, mas com tempo vai.
Cuidado com o Maurício, pois o gajo é alentejano e pode estar a infiltrar-se nos Costeletas. Bom homem! E com uma cultura estraordinária, não lhes falem em Camões, quando não faz-vos dividir as orações dos Lusíadas, que ele tem na ponta da lingua. Vejam
só que me fez declamar a oração de Santo Agostinho do Auto da Alma do Gil Vicente.
Há por aí um Bife (José Dias Sequeira) do Liceu de Faro que esteve comigo na Guerra da Guiné, é bife mas não é duro é im gajo porreiro. Quando tiver oportunidade vou contar umas histórias do Cabrita da Encarnação, Costeleta de Elvas mas natural aí dos Algarves Daquem e Além Mar.

Vai sem correcção quem tiver mais tempo que corrija.

Para os Costeletas de Faro o abraço do

Manel Piorna

Anónimo disse...

Meu caro Piorna,

Precisamos de ti aqui ó marroco. Deixa-te lá de tangas e aparece.

E que se apresente ao serviço, digo no bloge,o bife Zé Dias Sequeira.

Com uma história, se possível...

JOÃO BRITO SOUSA

Anónimo disse...

Caro Manel Piorna
Um abraço. Se a memória não me falha parece-me que já lhe disse o que é ser Costeleta. Eu não procuro infiltrar-me nos Costeletas. Sou Costeleta desde os meus 1O anitos, idade que tinha quando iniciei o 1º Ano do Curso Industrial, em 1940, e não fui mais cedo porque só depois da 4ª classe, tirada na Escola do Bom João, que existia na Rua Ataíde de Oliveira, me foi possivel ser Costeleta. Depois de acabar o Curso Industrial matriculei-me no Curso Comercial , nocturno, que acabei, e onde reforcei a minha condição de Costeleta !!
Como vê meu caro Manel não é agora que procuro infiltrar-me !! A minha profissão de militar afastou-me cerca de 58 anos da cidade de Faro, assentando arraiais entre Cascais e Estoril .MANEL ,somos vizinhos há quási 40 anos.! O tempo foge !
Quando é que vamos para um churrasco na Região Saloia ? O tempo está óptimo e a água-pé já fermenta por aqueles lados.
Até amanhã. Um abraço do
Mauricio S. Domingues