terça-feira, 18 de novembro de 2008

DO CORREIO

Do António Joaquim Martin s Molarinho, recebemos esta carta que transcrevemos na íntegra:

Caros amigos

Caso queiram publicar, junto envio algumas despretensiosas linhas.

O meu tipo inesquecível

No ultimo exemplar de "O Costeleta”, entre o que se escreveu sobre o falecimento do nosso
querido amigo Franklin, referiu-se também o desaparecimento do colega Júdice, de Olhão e isso trouxe à minha memória um mundo de recordações, algumas das quais gostaria de partilhar. Nunca fui de cultivar amizades profundas, podendo contar-se por meia dúzia as que assim poderia classificar. O António Dinis Santos Sousa Júdice, para mim desde sempre o Dinis, foi um desses amigos. Passei curtos períodos de férias em casa de seus pais, em Benafim-Grande, onde possuíam algumas propriedades e donde, julgo, fosse natural. Aprendi a nadar com um colete por ele emprestado: de lona, com compartimentos rectangulares preenchidos a cortiça, com alças e atilhos atrás; certo dia, fora de pé, uma onda atrevida soltou os atilhos, o "sutiã “ saiu pela cabeça e eu, a esbracejar "à cão" que nem um louco, lá consegui ganhar pé ... e aprender a nadar de vez. O Dinis era um atleta natural: pontapé na bola, bola na mão no andebol, lançamento do peso ou disco, era com ele; tinha força, mas nestas duas ultimas modalidades não tinha "estilo"; eu tinha um estilo do "caneco" mas, sem físico que se visse, tanto o peso como o disco teimavam em não se afastar muito de mim, o que levou o prof.Américo a dizer que se pudesse juntar os dois num só, talvez pudesse fazer alguma coisa de jeito. Numa ida à boleia de Benafim para Loulé, cheios de péssimas intenções, um Ford tartarugante parou: quando quisemos fugir era tarde demais; era o c6nego Falé que foi ou era ria altura nosso professor de religião e moral; pôs nos "a confesso", torturou-nos, mas não nos conseguiu arrancar uma palavra; não nos livrámos, entretanto, de quilómetros de conselhos e recomendações. Casou com uma senhora de Olhão e tendo uma casa na ilha da Armona e eu também, lá nos encontrámos algumas vezes; ainda nos rimos da história do peso e do disco e estando ele com bastante peso a mais e eu o mesmo trinca-espinhas, concordámos que continuávamos a fazer uma boa média. Ainda falei com ele uma vez depois do A VC que o atingiu e estava visivelmente afectado. Por um seu neto que ia a minha casa brincar com um meu, fui sabendo sempre notícias dele e não eram boas; um estranho pudor levou-me a não o procurar encontrar pessoalmente de novo; temos tendência para julgar os outros por nós e em igualdade de circunstâncias eu gostaria de acalmar sozinho e dispensaria o "coitadinho". Raramente penso no passado e não sou muito dado a fazer projectos para o futuro, antes valorizo o presente na medida em que é o que realmente temos, mas esta mal alinhavada retrospectiva fez-me sentir bem. Até sempre Dinis.
Com um abraço para todos do sempre amigo.
Molarinho
Colocado por Rogério Coelho
(irei verificar se temos no arquivo uma foto do Molarinho; então colocaremos)

1 comentário:

Anónimo disse...

AO ANTÓNIO MOLARINHO,

Um muito obrigado pelo magnífico documento humano que nos fizeste chegar. Em meu entender está aí o verdadeiro espírito costeleta. Solidariedade sempre....

Conheço a tua pessoa através de conversas tidas com o José Clérigo do Passo e com o Franklin, que contava aquela cena, quando o Director foi à sala de aula nessa qualidade e tu terias dito, moss... quem é aquele moço pequeno... parece que foi assim.

Também não conheci o Dinis mas ouvi falar do poderoso remate que tinha no andebol nos tempos do Caronho, João Parra e do Dadinho.

ALABI... ALABÁ.... BUM ... BÁ... Escola, Escola, Escola.

João Brito Sousa

PS- Excepcional documento de humildade que fizeste muito bem em publicar, ó mano ROGER.