sexta-feira, 17 de julho de 2009

CONVERSA COSTELETA

Romualdo Cavaco



TEXTO RECEBIDO

DO NOSSO COMPETENTE E ROMUALDO CAVACO






Aula de História
Dr. Furtado

Foi nosso Professor já na provecta idade próximo à reforma. Tinha ligações familiares em Aljezur e Monchique, onde o encontrámos uma vez, a última...

As suas aulas eram peculiares. Entrava na sala, subia ao estrado e, após terminar o arrastar de cadeiras não dava muito tempo a que os alunos se distraíssem... ele é que os distraia e conduzia a aula. Por vezes escolhia um tema que nada teria a ver com História, mas que a ele lhe era grato. Dizia-nos “O João Branco Núncio tem uma quadra de cavalos que não há igual. Toureia a cavalo com a mesma arte como se estivesse apeado... Dizia-nos o nome dos cavalos, etc. Mais tarde pela Televisão pudemos comprovar a razão pela qual os seus pares o tratavam por MESTRE...

Noutra aula falava-nos de João de Deus, que ele admirava, nos dez anos de Coimbra – a sua Guerra de Tróia. Nessa época, sem estatísticas, já havia crise e, J.D. para equilibrar o orçamento teria ido visitar a Igreja de S.Sebastião. Como a estátua do Santo sangrasse, retirou-lhe as setas de prata e deixou um bilhete – “já basta de tanto sofrer” - .

Passados uns minutos mudava de tema – virava-se para a História ... “passem pela Papelaria Capela e comprem a “Cortezã de Sagunto” – Editora (x), autor (Y), preço ($)... Falava... falava ... mantinha os moços motivados ... olhava para eles e escolhia um interlocutor cuja conversa constituiria um misto de chamada ao aluno e aula dada pelo professor. Havia no entanto um deles que não se fixava no Professor e as aulas passavam sem que fosse chamado.

Certo dia, já quase fim de período o Professor apercebe-se pela folha da caderneta que o colega de carteira do Donaldo Campos Machado, próximo do Jacinto Manuel Teixeira Nunes não tinha sido chamado (hoje diz-se avaliado). Esse aluno estudava História em voz alta, numa varanda enorme, pelo que quando o Professor o chamou já tinha a voz “en su sítio”. Revelando alguma surpresa por ter descoberto um “historiador” no canto da sala, quando a aula terminou o Prof. perguntou-lhe: “Que nota queres??!!...” os colegas respondiam: “17 Prof. ... 17...” houve euforia na sala ... e quem pedisse nota mais alta.

No Exame

O exame de História era, segundo creio, apenas a oral, razão pela qual o aluno estudava em voz alta. O Professor, presidia ao Júri e, lembrando-se da tal aula-surpresa, pergunta-lhe:
... Diz-me lá do que é que gostaste mais, na História...
ao que o aluno respondeu:
- Sr. Dr. gostei de tudo em geral, mas, em especial da Antiguidade Clássica – Roma e Atenas..
- Então fala lá sobre isso ...
E... assim... veio um 15 para a colecção...

Cortelha, 2009.07.17


3 comentários:

Anónimo disse...

O Romualdo que foi bancario se a memoria nao me falha, de certeza bom , e' tambem um grande contador de estorias...parabens!
Quanto a' fotografia so' falta o Oliveira e o Pompilio para estar toda a representacao do segundo primeira...oPompilio nao tinha sido do primeiro primeira!
54/55salvo erro..
Para o ano la'estamos!
Abraco
Diogo

Jorge Tavares -1950/1956 disse...

Olá Romualdo,

Uma"achega" ao texto.
O prof. Furtado tem o seu descendente na cidade. Prof. no Liceu,aonde tambem foi aluno, pessoa fantástica, e muito parecido com o pai. Com um sentido de humor invulgar. As suas origens são justamente em Aljezur, mais própriamente Fonte da Telha

Um abraço
Jorge Tavares

Anónimo disse...

Mágnifica descrição de como eram leccionadas, ao tempo, anos 60, as aulas da disciplina de História pelo Dr. Furtado. Nas palestras do Dr. predominavam invariávelmente os acontecimentos e os feitos das gentes de Aljezur, Monchique e também de Marmelete.
Passei por tudo isso!!!!
Parabéns ao Sr. Romualdo pela simples mas bela composição literária que faz sobre a disciplina de História que o Dr. Furtado por vezes, digo eu, se esquecia de transmitir aos seus alunos.

Cumprimentos para todos


AGabadinho