segunda-feira, 20 de julho de 2009

CRÓNICA DA SEMANA /3)


Tenho por hábito, desde que o Blogue se iniciou, tomar conhecimento das prosas e dos sonetos que aqui se publicam e que me dão satisfação por um lado e saudade por outro.
Mas, também gosto de ler jornais principalmente um semanário da nossa província. Na outra semana li uma crónica nesse jornal, da autoria do João Brito de Sousa, que trata este Blogue por “tú”, e que não posso deixar de transcrever na parte que “buliu” com a minha saudade daquele tempo. Reza assim:
“.................Dr Uva na escola em Faro, que era através de chamadas orais onde os estudantes iam pedir dispensa de chamada à lição, argumentando que não a tinham preparado por isto ou por aquilo, o que o Sanches concedia ficando, todavia fulo da vida, vociferava mas não havia nada a fazer.
Foi então que o Dá Mesquita, a propósito disso, lhe dirigiu estes versos: “Dizem que o Sanches embirra/que lhe vão pedir dispensa/Forte asneira/Pois ele pensa/Que lhe vão pedir a despensa/onde tem a salgadeira.
É de uma graça imensa a história do estudante pássaro chamado assim por ter o cabelo que lhe cobria a orelha estilo asa de pássaro. Então nas discussões de estudantes nos Gerais, quando a coisa aquecia, a malta pedia o pássaro, dizendo, fala o pássaro. O camarada pássaro, que deveria ser um cábula dos maiores, atacava o problema fazendo rir a malta toda e o problema resolvia-se. Quando se formou foi para a terra e colocou uma placa de madeira no caminho perto de casa, com a seguinte inscrição: aqui advoga-se. ...............”
Bem, fiz esta transcrição, tanto pela graça que tem como pela recordaçáo do Dr. Uva ter sido meu professor de Direito Comercial. Mas nunca lhe pedi dispensa...
Escrevo aqui no nosso Algarve. E tenho presente a poesia que em 1973 Miguel Torga escreveu sobre o Algarve:
Levo-te emoldurada na retina.
Terra que Portugal sonhou e sonha ainda.
Que imagina depois de conhecer.
Só na retina poderia reter
Um mar que é outro mar.
Um sol que é outro sol,
Gente que é outra gente,
E casas que parecem de repente
Albornozes de pedra.
Magias naturais como a paisagem
Aberta à luz do dia,
Sempre real e sempre uma miragem
Táctil e fugidia...
Mas voltemos ao professor Uva. Alguém escrevia “Zé da Uva era poeta e repentista de geito, compositor musical por intuição, devotado à charla, recheado de humor sadio e de agudo espirito de observação”. E mais adiante escrevia “O encanto popular do seu >corridinho< que toda a gente trauteia e dança, esquecida do nome do seu autor, é bem o testemunho do seu expontâneo poder criador...”
E para terminar esta minha crónica semanal deixo aqui uma gazetilha do “Zé da Uva” (José de Sousa Uva Junior) que, suponho, foi escrita em Março de 1947:
ÓLEO... DE CUCO

Faro tem vida e progride.
A nossa atenção incide
em certos estabelecimentos,
conforme a arte e bom gosto
que o proprietário tem posto
quando faz melhoramentos

E há sempre manequins novos
Com cabelos em fios de ovos,
Sobrancelhas lineares,
Seios cónicos, agressivos,
E cilios rebarbativos
Narcotizando os olhares.

É isto o que mais se encontra.
Mas, há dias, vi na montra
Do meu compadre Seruca,
Relógio feito a capricho:
Dá as horas... salta um bicho
Que deve ser cuco... ou cuca!

E o povo sem mais demoras,
Vai ouvir todas as horas!
E, num apertão maluco,
Comprime-se com deleite
Supondo que arranja azeite
Mas... ouve cantar o cuco!...

E fico para a semana. Até lá
Alfredo Mingau
Recebido e colocado por Rogério Coelho

Sem comentários: