quinta-feira, 10 de setembro de 2009

AS CALÇAS E O NÚ

Dois Contos de Alfredo Mingau

A lembrança do Maurício, sobre a aventura nua do Comandante da PSP Alves de Sousa, fez-me pensar, e escrever, estas duas histórias de ficção.

AS CALÇAS

Professora numa Escola Secundária, de seu nome, chamemos-lhe “Rosa”, era conhecida pelo tratamento do diminutivo de... “Rosinha”.
Ela contava, rindo, que o marido era ainda mais extrovertido do que ela. Naquele tempo as mulheres não vestiam calças. A saia era uma peça preponderante da vestimenta feminina.
E um dia aconteceu.
A “Rosinha”, para espanto das outras professoras, lançou o uso das calças masculinas aparecendo na Escola com aquele vestuário.
O Director da Escola, cujo nome não interessa para o caso, era uma pessoa séria, rígida, com um perfil de preconceitos, que não admitia certas displicências mas, sem chegar a ser proceloso, entra na sala dos professores, repara na “Rosinha”, aponta-lhe o dedo e, com voz calma, diz-lhe:
- Não admito certos atrevimentos na minha Escola. Ponha-se na rua!
A “Rosinha”, não teve resposta, saiu para voltar mais tarde com vestuário mais feminino. Ela não se mostrou desconsolada com o insólito acontecimento.
O NÚ
Falando do marido, “Rosinha” não dava a entender ciúmes ou irritação pelas aventuras extra-amorosas e conjugais do marido, nosso conhecido..., chamemos-lhe, “Oliveirinha”. Ela até contava, rindo, que numa das suas aventuras saltara de uma janela para a rua, completamente nu, fugindo a sete pés, para aparecer em casa, na Avenida 5 de Outubro, batendo à porta, porque não tinha chave, com um ramo a tapar as miudezas.
Enfim!... Os nus da cidade e uma vestimenta inadequada para a época. Duas histórias de ficção... ou talvez não!?
Inté.
Alfredo Mingau

1 comentário:

Anónimo disse...

ALÓ ALFREDO,

Jorge Amado disse um vez, que não era crítico literário, mas que sabia muito bem o que era bom e o que não era.

È um pouco a minha posição aqui e agora.

O texto do Alfredo é curto para ser tido como um conto, talvez lhe assente melhor o nome de crónica, o que não tem nada de mal, pois grandes escritores utilizam este tipo de textos para treinar a frase.

A prosa do Mingau tem graça e nesse sentido, enquadra-se perfeitamente naquilo que disse o chileno Mario Vargas Llosa, quando referiu que a literatura pode não nos fazer felizes, mas ajuda-nos, certamente a não ser infelizes.

Desta historia simples mas de raizes autenticas e profundas, Sommerset Maugham fazia um romance trezentas páginas.

Há aqui na crónica do Alfredo um pormenor importante que é um truque que usa também o Paul Auster, que é arrastar a malta com avidez, saber o que vem na outra página. Foi isso que senti ao ler o texto, ia atrás dele.

Este género de trabalho não é fácil de fazer. Torga fê-lo bem conseguindo várias traduções do conto "OS BICHOS".- Eça escreveu o Zé Maria e pouco mais.

De referir ainda que este tipo de crónicas tem um público especial mas nota-se que o Alfredo tem imaginação e curiosamente, tem um prosa forte mas harmoniosa.

Tem qualidades para ser escritor, penso eu, mas ...

Um dia, na feira do livro, perguntei à Alice Viera, como se faz um escritor. E ela, treinando muito.

É isso aí ó caro Alfredo.

ab.

JBS

PS - Estou a escrever um texto sobre o que é o escritor, convidando todos para debate, especialmente o Tavares, o Alfredo e o Maurício.