segunda-feira, 14 de setembro de 2009

TEMA LIVRE

PEPINOS E “BECHOCOS"

De Alfredo Mingau

Naquele dia Francelina pensou fazer aquela deliciosa sopa de feijão com massa e alguma couve lombarda. O desejo aliado à saudade de se deliciar com a saborosa sopa que a saudosa mãe fazia, e lhe ensinara,, levaram-na, com certo custo, a dirigir-se à dispensa. “Que maçada, como é que eu deixei acabar o feijão”. O desejo foi mais forte que a comichão e irritação que a apoquentavam na anca. Nem com pomada os furúnculos desapareciam. E a Francelina, com certo custo, vestiu o casaco, pegou na mala e saiu de casa.
O senhor António, sentado por detrás do balcão da sua loja, ali para os lados do Alto de Rodes, pensava no negócio que ia mau, e que, a falta de clientela, era sinónimo de crise que tardava a normalizar.
A loja do senhor António englobava três vertentes, taberna, mercearia e lugar de frutos e legumes.
Olhando para a rua, pela porta da mercearia, vê entrar Francelina com certa dificuldade no andar.
- Bom dia senhor António.
- Bom dia Francelina, que bons ventos te trazem?
- Ai, lamentou-se a Francelina, não me fale em bons ventos que eu estou muito mal.
Nisto e, de rompante, a conversa é interrompida pela entrada de duas “malucas” que se dirigem para o lugar dos legumes expostos, cochicham, e diz a mais gorda olhando para o senhor António:
- Senhor “Toino”, queríamos dois pepinos.
O senhor António, aproximando-se e percebendo o desejo delas, com ar muito sério, respondeu
- Só vendo pepinos ao quilo.
- E quantos pepinos tem um quilo senhor “Toino”?
- Depende do tamanho, são mais que dois, no mínimo uns três.
- E agora, “gorda”, o que é que fazemos, exclama a mais magra.
A mais gorda olha para os pepinos, pensa, e responde com um sorriso.
-Utilizamos dois pepinos e fazemos uma salada do restante. Pese os pepinos senhor “Toino”
O senhor António sorriu, pesou os pepinos, meteu num saco, recebeu o dinheiro da venda e ficou olhando-as sorridentes a dirigirem-se para a saída.
Regressando à mercearia onde a D. Francelina se encontrava sentada num saco de cevada exclamou:
- Então Francelina, apareces a mancar, o que é que te doi?
- Ora, tenho uns “bechocos” na nádega que me dói e dão comichão.
- Mostra lá Francelina, talvez eu possa ajudar.
- Não queria mais nada, mostrar-lhe o meu rabo?
- Só te queria ajudar, o que é que te trás por cá?
- Pensei fazer uma sopa à antiga, quero um quilo de feijão catarino e uma couve lombarda.
O senhor António aviou o feijão e a couve, entregou à Francelina que, levantando-se com certo custo, se dirigiu para saída enquanto dizia:
- Ponha na minha conta senhor António e tenha um bom dia.
- Está bem Francelina, vai em paz com as melhoras.
E, sentando-se, atrás do balcão, circunscrevendo com os olhos pela loja, deserta de clientes, pensou “isto é que vai uma crise”

3 comentários:

Anónimo disse...

Excelente imaginação vestida por um Grande texto.
Porque gostei.Parabens.

AGabadinho

Anónimo disse...

ALFREDO,

Viva.

O teu texto é mais ou menos uma cena doméstica, com pano para mangas.

O que eu te sugeria era que fizesses aí mais dois ou três episódios, ou mais, porque tens aí terreno para desbravar de sobra.

Do ponto de vista técnico, o texto é vida real e o escritor deve trazer para os leitores, não a sua vida, mas a outra vida que ele conhece. Foi isso que fizeste ... e bem.

A história faz abanar um pouco mas só assim se consegue agarrar o leitor.

Depois vem o sucesso.

O suceso em literatura é tomarmos conhecimento que os leitores gostam do que escrevemos.

E isso está escrito no primeiro comentário.

Saramago que se cuide.

ab do
JBS

Anónimo disse...

Olha João
Dizes "o Saramago que se cuide"
E dizes bem, porque, eu sou "melhor que o Saramago".
Ficas de boca aberta, João?
a Mingau até sabe brincar.
Tenho mais uns testgosecos para enviar para publicação. A seguir vou enviar aquele de que te falei para, se achares correto, podes publicar à tua responsabilidade, ou o Rogério, vocês são os administradores responsáveis.
Um abraço
(Nota-obrigado Gabadinho)
Inté
Mingau