terça-feira, 17 de novembro de 2009

CANTINHO DOS MARAFADOS

O Meu Compadre Chico do Carapetal

Gostava de apresentar hoje a todos, o meu compadre Chico do Carapetal, nascido pelas mãos da Ti Mariana, que aparou todos os moços que nasceram, durante mais de 40 anos.
Nasceu no Monte do Carapetal e por lá se tem mantido até aos dias de hoje. Frequentámos juntos o Posto Escolar de Vale de Lobo até à 4ª Classe, depois seguimos caminhos diferentes, eu fui embora fazer a admissão e depois a escola Tomás Cabreira, o Chico seguiu o trilho das ovelhas do patrão, Obviamente as ovelhas não são as mesmas, mas o rebanho ainda existe, hoje com direito a subsidio.
A amizade continuou e somos compadres, porque baptizei um filho dele.
Depois de todas as voltas da minha vida, voltei à serena planicie e a amizade foi reatada.
Há uns dias atrás, do cimo de um cabeço, que serve de observatório para ver a estrada para o Algarve, eu, o meu compadre, o cão, o cajado e as ovelhas, pastando ainda naquele fim de tarde de sexta-feira, comentei:
- Olha Chico aí vai a crise para o Algarve.
- O que é isso da crise?
- Tu não sabes o que é a crise?
- Quando chego lá no monte, já bem de noite, ouço na televisão falar da crise, mas ainda não percebi patavina.

- O patrão fala em dificuldades, mas todos os fins de semana tem festança lá, com cada carrão, cada um maior que o outro, tudo doutores e engenheiros.

- Bem! Vamos lá então: Blá, blá, blá etc. etc. etc. percebeste Chico?
- Acho que sim, mas diz-me: A crise fica no Algarve? Não, ela volta para Lisboa no Domingo à tarde!
- Vou pensar no que falámos!
No dia seguinte ele aparece com um longo papel rascunhado e pediu-me: Passa lá isto a limpo no teu computador, nessa coisa que vocês usam agora. Antigamente a gente escrevia tudo à mão com aquela caneta de aparo, que se a gente se descuidasse borrava tudo, lembras-te?
Eis o que ele me entregou e que conforme me pediu, passei a limpo:

PLANO PARA SALVAR PORTUGAL DA CRISE

Passo 1:

Trocamos a Madeira e os Açores pela Galiza, mas os espanhóis têm que levar o Emplastro.

Passo 2:
Os galegos são boa onda, não dão chatices e ainda ficamos com o dinheiro gerado pela Zara (é só a 3ª maior empresa de vestuário).

A indústria têxtil portuguesa é revitalizada. A Espanha fica encurralada entre os Bascos e o Emplastro.
Passo 3:
Desesperados, os espanhois tentam devolver o Emplastro. A malta não aceita.

Passo 4:
Oferecem também o Pais Basco. A malta mantem-se firme e não aceita.
Passo 5:
A Catalunha aproveita a confusão para pedir a independência.
Cada vez mais desesperados, os espanhois devolvem-nos a Madeira e os Açores e dão-nos ainda o Pais Basco e a Catalunha.

A contrapartida é termos que ficar com o Emplastro.

A malta arma-se em difícil mas aceita.
Passo 6:
Damos a independência ao País Basco.

A contrapartida é eles ficarem com o Emplastro.

A malta da Eta pensa que pode bem com ele e aceita sem hesitar.

Sem o Emplastro, Portugal torna-se um paraíso e a Catalunha não causa problemas.
Passo 7:
Afinal a Eta não aguenta o Emplastro, e o País Basco pede para se tornar território português. A malta faz-se difícil mas aceita (apesar de estar lá o Emplastro).
Passo 8:
Fazemos um acordo com o Brasil. Eles enviam-nos o lixo e nós mandamos-lhes o Emplastro.
Passo 9:
O Brasil pede para voltar a ser colónia portuguesa. A malta aceita e manda o Emplastro para os Farilhões das Berlengas apesar das gaivotas perderem as penas e as andorinhas do mar deixarem de pôr ovos.

Passo 10:
Com os jogadores brasileiros mais os portugueses Portugal torna-se campeão do mundo de futebol!
Passo 11:
Os espanhóis ficam tão desmoralizados, que nem oferecem resistência quando os mandamos para Marrocos.
Passo 12:
Unificamos finalmente a Península Ibérica sob a bandeira portuguesa.
Passo 13:
A dimensão extraordinária adquirida que une a Península e o Brasil, torna-nos verdadeiros senhores do Atlântico. Colocamos portagens no mar, principalmente para os barcos americanos, que são sujeitos a uma sobretaxa tão elevada que nem o preço do petróleo os salva.
Passo 14:

Economicamente asfixiados eles tentam aterrorizar-nos com o Bin Laden, mas a malta ameaça enviar-lhes o Emplastro e eles rendem-se incondicionalmente. Está ultrapassada a crise!

Facilíssimo, hein ???

-Olha compadre nem vou ler a tua proposta, vou deixar que os meus colegas costeletas façam a necessária análise, mas só queria que me dissesses quem é o Emplastro?
-Afinal pensas que sabes tudo, mas há pessoas que eu conheço e tu não. Diz-me lá como se chama aquele tipo do Porto que fica na fotografia sempre atrás do Pinto da Costa?
Ah é esse?
Claro! Quem querias que fosse?
Vim a saber mais tarde, que não tinha sido ele a escrever o plano, mas sim a filha, gestora de uma loja Zara e casada com um espanhol, contrabandista de café.
Um abraço
Antonio Viegas Palmeiro

5 comentários:

Associação Antigos Alunos Escola Tomás Cabreira disse...

Meu caro Palmeiro
Gostei imenso de ler esta "rábula".
Mas... fica-me aqui uma dúvida, talvez devido à minha "ingenuidade",não consigo descortinar quem é o "emplastro".
Não me ocorre...
Moderador

Associação Antigos Alunos Escola Tomás Cabreira disse...

Meu caro Palmeiro
Afinal esqueceu-me dizer-lhe que não se trata de "corrupção" quando a coisa é oferecida de boa vontade.
Se é da boa, mande lá essa pinga de vinho tinto.
Moderador

jctavares@jcarmotavares.pt disse...

Meu caro moderador,

Não se escreve "esqueceu-me", mas sim esqueci-me...assim se escreve bom português


jorge tavares
1950/56

Associação Antigos Alunos Escola Tomás Cabreira disse...

O Moderador agradece o bom português, meu caro Jorge Tavares.
Nunca é tarde para aprender, até porque não sou grande letrado, mas, e há sempre um mas. A palavra esquecer admite três regências:
Esqueci
Esqueci-me
Esqueceu-me
Nas duas primeiras o objecto é directo ou indirecto.
Passa a sujeito na 3ª.
"afinal esqueceu-me" significa que apagou-se da memória.
Também assim se escreve em bom português. Estou certo ou estarei errado?
Um abraço Jorge Tavares.
Moderador

Unknown disse...

Boa Boa! Assim sempre nos vamos actualizando!Contiuem lá com o bom Português que estou a gostar. Um abraço. Victor Venâncio Jesus