terça-feira, 17 de novembro de 2009

CANTINHO DOS MARAFADOS

Num momento de descontração, o grande poeta Carlos Drumond de Andrade escreveu:

"Satânico é meu pensamento a teu respeito e
ardente é o meu desejo de apertar-te em minhas mãos,
numa sede de vingança incontestável pelo que me fizeste ontem.
A noite era quente e calma e eu estava em minha cama,
quando, sorrateiramente, te aproximaste.
Encostaste o teu corpo sem roupa no meu corpo nu,
sem o mínimo pudor! Percebendo minha aparente indiferença,
aconchegaste-te a mim e mordeste-me sem escrúpulos.
Até nos mais íntimos lugares.
Eu adormeci.
Hoje quando acordei, procurei-te numa ânsia ardente, mas em vão.
Deixaste em meu corpo e no lençol provas irrefutáveis do que entre nós
ocorreu durante a noite.
Esta noite recolho-me mais cedo, para na mesma cama te esperar....
Quando chegares, quero te agarrar com avidez e força.
Quero te apertar com todas as forças de minhas mãos.
Só descansarei quando vir sair o sangue quente do seu corpo..
Só assim, livrar-me-ei de ti...... pernilongo Filho da Puta...”


Espero que seja relevada a linguagem menos própria, do final do poema, mas não me senti autorizado a alterar nada, uma vez que foi assim, tal como está, que o autor escreveu.

Um abraço para todos
Antonio Viegas Palmeiro

1 comentário:

Anónimo disse...

AO ANTÓNIO PALMEIRO.

Um abraço para começar.

Tenho lido os teus textos que me encantam e felicito-te pelo facto de os trazeres aqui.

Porque a tua prosa é poesia. E porque olho para a tua foto e digo para mim mesmo: aqui está um homem que conseguiu da vida o que quiz.

Ainda por cima com talento...

O poema do Drumond de Andrade tem a sabedoria dum Alfredo Marceneiro ou dum Maurice Chevalier, artistas que encantaram os da minha geração.

Drumond é um artista que está sentado na fila da frente, ao meio, entre os maiores.

Que escreve coisas lindas e com vigor... que tu nos trazes António.

É um poema sambado que me transporta ao calçadão do Rio, onde o pandeiro é rei...

E faz de mim o branco mais preto do Brasil, como disse Vinicius de Morais.

É um poema que sai da alma caregado de alma

Deixo-te um bom dia.
João Brito Sousa