sábado, 28 de novembro de 2009

CANTINHO DOS MARAFADOS


O padre e a pecadora


- Padre, perdoe-me porque pequei (voz feminina)
- Diga-me filha - quais são os seus pecados?
- Padre, o demonio da tentação se apoderou de mim, pobre pecadora.
- Como é isso filha?
- É que quando falo com um homem, tenho sensações no corpo que não saberia descrever...
- Filha, apesar de padre, eu também sou um homem...
- Sim, padre, por isso vim confessar-me consigo.
- Bem filha, como são essas sensações?
- Não sei bem como explicar - neste momento meu corpo se recusa a ficar de joelhos e necessito ficar mais a vontade.
- Sério??
- Sim, desejo relaxar - o melhor seria deitar-me...
- Filha, deitada como?
- De costas para o piso, até que passe a tensão...
- E que mais?
- É como um sofrimento que não encontro palavras.
- Continue minha filha.
- Talvez um pouco de calor me alivie...
- Calor?
- Calor padre, calor humano, que leve alívio ao meu padecer...
- E com que frequência é essa tentação?
- Permanente padre. Por exemplo, neste momento imagino que suas mãos massageando a minha pele me dariam muito alívio...
- Filha?!
- Sim padre, me perdoe, mas sinto necessidade de que alguém forte me estreite em seus braços e me dê o alívio de que necessito...
- Por exemplo, eu?
- Sim padre, você é o tipo de homem que imagino poderia aliviar-me.
- Perdoa-me minha filha, mas preciso saber tua idade...
- Setenta e quatro, padre.
- Filha, vai em paz que o teu problema é reumatismo...
António Viegas Palmeiro

2 comentários:

Anónimo disse...

OPINIÃO

Estes textos que o Palmeiro nos traz aqui, revelam uma determinada vivência, uma determinada cultura, um determinado convívio.

São textos que não estão nos livros, penso eu, diria que são textos à Padre Zé Gomes da Encarnação, meu padrinho de crisma e prior na Igreja de S. Pedro.

Não me recordo de ver esta literatura por aí.

No crime do Padre Amaro do Eça há lá uns diálogos com alguma semelhança.

O texto contem graça suficiente para ficar e é suportado pelo que sucede na segunda linha a contar do fim.

Está bem escrito e não tenho nada a opôr.

Por isso, aí fica o meu abraço

JOão Brito Sousa

Associação Antigos Alunos Escola Tomás Cabreira disse...

Meu caro Palmeiro
Esta já andou por aí. Como é interessante e que alguém não tenha apreciado, coloquei
Mande coisas inéditas
Um abraço
Moderador