quinta-feira, 5 de novembro de 2009

UM TEXTO...DIÁRIO, SEMANAL, MENSAL...OU DE VEZ EM QUANDO


PASSEIOS POR FARO IDO - I


Hoje proponho um passeio pelas ruas de Faro, que nas décadas de cinquenta e sessenta, concentravam a grande maioria das empresas comerciais da época.
Começo na Rua Conselheiro Bívar na confluência com o Praça Ferreira de Almeida, até ao Largo da Madalena. Depois, a Rua Infante D. Henrique até ao início do Largo de Camões ( justamente no Palácio Mateus da Silveira, hoje conhecido como Hospital Privado de Santa Maria):
No início da Rua Conselheiro Bívar, no gaveto direito havia a Singer e do lado esquerdo, o Café Coelho (pai do costeleta Virgílio Coelho). Na continuidade do café existia uma latoaria e de seguida, a filial da empresa H. Vaultier, onde trabalhou durante muitos anos o costeleta Tinoco ( cunhado do Paixão Pudim ).
Continuando a subir, a Farmácia Paula, em que era ajudante de farmácia o Silva (Silvinha para os amigos), padrasto do costeleta R. Seromenho. No seguimento deste quarteirão, os armazéns de mercearia do J. A. Costa, no qual trabalharam muitos costeletas - Francisco Bexiga, César Nobre, F. Chumbinho, Adelino Amaro e António, Jorge Tavares, e também, o filho do próprio dono, o Fernando Costa.
No primeiro andar destes armazéns existia o único notário da cidade, tabelião, como se chamava à época. Subindo um pouco mais, paramos agora à entrada da travessa que dá acesso à Rua da Alfândega, onde pedia esmola o Bagdad (cidadão farense e residente nos Moinhos da Grelha), dada a incapacidade física resultante dum acidente de comboio, que o deixou sem pernas.
Volto agora ao início da rua, para fazer o percurso pelo lado contrário:
Contíguo à Singer era o estabelecimento do José da Rosária, mecânico e alugador de bicicletas a pedal. De seguida, a entrada dum edifício apalaçado, pertencente à família Justino Cúmano.
Continuamos com alguns armazéns da empresa J.A. Costa e terminamos este quarteirão, com o estabelecimento de mercearias e cereais do José Patrocínio, a quem nós, os mais jovens, apelidávamos de Zé Católico, atendendo à sua fortíssima religiosidade.
A travessa que se seguia dava acesso a dois importantes restaurantes, conhecidíssimos e à época muito frequentados: O Joaquim das Iscas e o Manuel da Adega dos Arcos.
Retornando ao outro lado da rua, e logo após a travessa onde o Bagdad pedia esmola, estava o estabelecimento de mercearias do António Guerreiro, especialmente frequentado pelos montanheiros - assim denominados por serem oriundos das hortas que rodeavam a cidade.
No primeiro andar desta mercearia estava instalado o Grémio dos Cereais, cujo responsável era um alentejano de nome Mora Féria, e onde era escriturário o Pedro (vulgarmente chamado por Pedro do Grémio). Continuando, encontramos o local onde o Madeira fabricava os sorvetes que o Coelhinho e outros, vendiam pela cidade - lembram-se do famoso "mola abaixo"??.
Mais adiante, os escritórios da empresa Marques, Vaz Velho & Caiado, os despachantes oficiais mais importantes de Setúbal ao Algarve: Era seu principal responsável administrativo o J. Rosário, também ele costeleta. O sapateiro que se seguia no quarteirão, foi uma vítima dos nossos abusos: Encostados à janela que estava sempre aberta, iniciava-se a lenga-lenga "Sapateiro remendeiro, come tripas de carneiro, bem lavadas, mal lavadas, lá vai tudo às colheradas..." e a resposta não se fazia esperar. Lá vinha uma forma em madeira, um sapato ou uma bota!
No primeiro andar, por cima do sapateiro, havia o único médico pediatra da cidade: O Dr. Rogério Peres, que de certeza medicou muitos costeletas e suas famílias.
Mesmo percurso, outro lado da rua:
No seguimento da travessa, vinha o estabelecimento de mercearias do A. Viegas, que se distinguia dos seus pares por usar uma bata comprida e de côr cinzenta, típica da actividade. Seguia-se a loja do alfaiate mudo ( tio dos costeletas Vitor e António Sabino) e o estabelecimento de barbearia do Sr. Virgílio, pai do bife Arnaldo Luzia da Silva, que morreu em acidente de aviação. No primeiro andar, por cima do alfaiate, o médico dentista Cardoso de Oliveira, que também deve ter assistido a muitos dos nossos. Seguia-se o stand de automóveis Citroën, onde trabalharam os costeletas Jorge Primitivo, Francisco Pinheiro, J. Francisco Moreira, Jorge Tavares, Fontainhas, de entre outros. Continuando rua acima, aparecia-nos a Farmácia Pontes Sequeira, o esbelecimento do José Panasqueira Gago, produtor e distribuidor de lexívia e a Agência de Viagens do Arcanjo Viegas. Este agente de viagens, onde trabalhou muito tempo o costeleta Vitor Sabino, era casado com a "famosa" professora primária Pessanha Viegas, de que todos certamente nos recordamos, pelo melhor e pelo pior.
No primeiro andar deste estabelecimento funcionou a Associação de Futebol de Faro, e o Aero Clube de Faro.
Continuando o percurso, encontrávamos os escritórios dos importadores e comerciantes de palma, oriunda de Marrocos, que embora sendo Louletanos estavam estabelecidos em Faro, pelo facto das descargas de palma serem feitas no cais do Neves Pires ou na doca, conforme o calado dos barcos.
Por ora, terminamos esta parte do passeio no Edifício da Junta dos Portos de Sotavento do Algarve, entidade pública com a qual relaciono o Celestino Rebeca, pai do costeleta Rebeca e também o Sena, igualmente costeleta dos antigos.
Descansemos uns dias, para continuar a subir a Rua Conselheiro Bívar, passar o Largo da Madalena e seguir pela Rua Infante D. Henrique.

Jorge Tavares
costeleta 1950/56

3 comentários:

antonio Siva de Brito disse...

antonio Encarnação disse...
Recuando um pouco no tempo , 1951/52 , na Rua que práticamente era conhecida pela Rua do Chiado , ainda os mesmos estavam abertos ao público , temos no Ínicio a Casa Verde que passou para a R. D. Francisco Gomes dando lugar á Singer , seguindo a rua a Sapataria Madeira !
O Café Coelho abriu nessa época ! antes da Agência Peninsular de Viagens do " Archanjo Viegas " no nº 49 existiu a Tipografia Cácima , quase em Frente estava a goodYear .
Quero no entanto dar os Parabéns pela excelente descrição, na qual foram recordados pontos que já não precisava.
E agora uma Dúvida minha a E.V.A que trabalhava na Rua ao Lado tinha algum acesso pela Conselheiro Bivar ?
António Encarnação

Anónimo disse...

UMA BOA FORMA DE RECORDAR.

O texto apresenta-se de camisa branca, gravata vermelha e sapatos bem engraxados, como aconselhava o Constantino da sapataria (acho que é uma boa figura para pegares, ó Tavares. Conheceste-lo?).

Digamos que o texto surge em dia de festa, tais são as recordações que contém. Muita gente de Faro não sabe disto e vai gostar de ler.

A nossa juventude´está aí a chatear o Bagdad.

Recordar esss colegas todos torna o texto simpátco e agradável.

Sobretudo o Tinoco...

Muito bem Jorge.

Quando abordas,

a Sapataria Atlas, onde o preço era fixo. Era lá que a minha mãe comprava. Para não ser enganada, dizia-me ela.,

aquela tasca que
ficava ao pé da estação, onde trabalhava o meu amigo Zac, que era de Angola.

a sapataria do Renato ao pé da EVA

a barbearia ao lado da tabacaria Dinarte onde trabalhou o Manel, irmão do Rui Amaro,

e...

Manda mais.

Ab do
João Brito Sousa

Anónimo disse...

Móss Jorge
Só hoje li este teu excelente texto.
Parece que estou a percorrer aquelas ruas.
Aos meus olhos saltam não só todos aqueles estabelecimentos mas ainda os seus empregados, donos, patrões, eu sei lá, quantas recordações.
O "mola abaixo"! Há quanto tempo.
O Tinoco. Que é feito do Tinoco?
Conta lá.
Os meus parabéns. Só quem ai viveu e deambulou pode reconhecer este belo trabalho.
E que memória.
Um abraço.

Jaime Reis