sexta-feira, 20 de novembro de 2009

UM TEXTO...DIÁRIO, SEMANAL, MENSAL...OU DE VEZ EM QUANDO





Passeios por Faro IDO - II

Finalmente descansei o tempo necessário, para continuar o passeio pelas ruas Conselheiro Bívar, Largo da Madalena e Rua Infante D. Henrique.
Neste período de relax, e na sequência da publicação do primeiro passeio, fiquei aguardando leitores que me acompanhassem. Os três voluntários que se perfilaram para o fazer, são os colaboradores do blogue, António Encarnação, João Brito Sousa e Jaime Reis. Lá diz o adágio popular: "Poucos, mas bons".
Vamos então ao passeio!

Na continuidade do Edifício da Junta dos Portos, os Grandes Armazéns do Chiado, cujo nome traduzia a sua grandiosidade e que influenciou igualmente, na atribuição do nome da Rua, que popularmente se chamava Rua do Chiado. Este estabelecimento representou na altura, o grande centro comercial da cidade, se assim se podia chamar.
Continuando neste quarteirão, encontramos uns armazéns de venda de cereais, nomeadamente, aveia, milho, trigo, centeio e sementes diversas. Este estabelecimento, se a memória não me atraiçoa, era propriedade de Ramiro da Graça Cabrita, comerciante com sede em São Bartolomeu de Messines, que tinha no outro lado da rua, mesmo defronte, outros espaços onde funcionavam os escritórios.
Ainda no seguimento do quarteirão e antes da confluência com a Rua de São Pedro, existia uma loja de artigos eléctricos e outras bijuterias: O "Brick-à-Brack".
Do outro lado da Rua, e regressando ao estabelecimento do sapateiro, deparamo-nos com uma travessa que dá acesso à Rua da Alfandega e tem como referência, o estabelecimento dos ameijoeiros Cabeleiras.
Na esquina dessa travessa, o estabelecimento de máquinas e ferramentas do José Azinheira Rebelo, conhecido comerciante na cidade, que se afirmou como excelente basquetebolista da famosa equipa dos Bonjoanenses. Este estabelecimento tinha como vizinhos, no primeiro andar, a família do Dr. Rogério Peres, conhecido médico de crianças (pediatra).
Por cima dos armazéns de cereais referidos anteriormente, existia o Círculo Cultural do Algarve e os escritórios do advogado Carlos Picoito. Não posso deixar de referenciar o papel importante do referido Círculo na cultura da cidade: Local de encontro da intelectualidade regional,, serviu de passagem a grandes vultos das letras de âmbito nacional, bem como de contestação ao regime político ora vigente.
A barbearia que dava continuidade ao quarteirão, era propriedade do pai do Jorge G. Mendonça *, ele também costeleta, que viviam no Patacão. Lembrar o Jorge, é também recordar a irreverência da malta que se metia com ele por causa dos seus lábios muito grossos: "Jorge, china malaca, beiços de matraca, foste à nêspera ficaste caçado, puseste-te a chorar UEM! UEM!" *Depois era correr à frente do Jorge, para não apanhar umas caroladas.
Na loja que se seguia, instalou-se a primeira filial da Banco Pinto & Sotto Mayor, na qual iniciaram a sua actividade profissional na Banca os costeletas Rafael Correia e Casimiro de Brito(?). Dava-lhe continuidade, a Pensão Luísa, estabelecimento importante, não só como unidade hoteleira bastante frequentada, mas porque a sua proprietária Dª Maria Luísa era mãe do famoso farense José Luís, campeão nacional e mundial de luta livre.
No estabelecimento do rés-do-chão do edifício da pensão, existia uma loja de venda de tractores e máquinas agrícolas, propriedade do pai do bife Rui Vilhena, que infelizmente já nos deixou.
Porque este quarteirão chegou ao Largo da Madalena, regressamos ao outro lado e mais abaixo, onde na confluência com a Rua de São Pedro existia a Farmácia Almeida, cujo propriétário - Sr Almeida - era um cidadão farense de elevada estatura intelectual, como aliás, era quase regra na classe farmacêutica. Seguia-se o laboratório de análises clínicas do Dr. Ascensão Afonso e também a sua residência, antes de mudar para a Avenida 5 de Outubro.
O Largo da Madalena tinha três estabelecimentos importantes: As oficinas de assistência ao equipamento vendido na loja de máquinas agrícolas, a que me referi anteriormente, a garagem da Madalena, destinada a oficina e recolha de carros, cujo proprietário era conhecido popularmente pelo Dr. Burro e a loja de ferragens e outros utensílios, que era propriedade do Augusto Vieira dos Reis. Esta loja foi local de muitas visitas da rapaziada, para comprar berlindes abafadores, piões com careta, cordel para os ditos e meadas de fio para colocar no ar os papagaios que fazíamos, utilizando como cola, uma mistura de farinha e água. Quantas mensagens mandávamos pelo fio acima até ao papagaio que estava no ar, com a ajuda dos "rabos" feitos com os trapos que surripiávamos em casa.
Ainda no Largo da Madalena existia uma Igreja ( capela?), que naquela época servia de habitação. Posteriormente foi transformada em café/bar. Presentemente desconheço a sua utilidade, embora saiba que como Igreja já não existe!
Interrompo o passeio, antes do inicio da Rua Infante Dom Henrique, para descansar e mais folgadamente arrancar para a ùltima etapa, que promete grande dificuldade, atendendo ao enorme volume de actividades existentes.

* Esta lenga-lenga, como todas as nossas brincadeiras, eram inócuas, pelo que a sua divulgação deve ser entendida como tal.


jorge tavares
costeleta 1950/56

3 comentários:

Anónimo disse...

Jorge

Quando já estranhava a tua ausência, recordei que ainda não tens o meu estatuto.
Na realidade ainda estás no activo, e portanto a tua disponibilidade é menor.
Mesmo assim é de louvar o teu empenhamento na contribuição que prestas conduzindo-nos ao encontro daqueles que ao tempo da nossa adolescência faziam parte da vida diária da cidade.
No Largo da Madalena, onde chegaste, estou a ver ao centro uma casinha térrea onde por vezes estive na companhia de um grande e bom amigo Costeleta que aí morava.
Refiro-me ao nosso querido Alex.
O Ponto de interrogação que precede o Casimiro de Brito, no que toca à sua entrada no Sotto Mayor pode ser retirado.
Quando o Banco de Portugal ainda não havia autorizado uma Agencia do Sotto em Faro o recurso passou por um correspondente.
Efectivamente o Rafael e o Casimiro por lá passaram
Este escritório posteriormente funcionou no Largo 1º de Dezembro,
onde o Eduardo Xavier (bife), já falecido, também lá esteve.
Um abraço e parabéns pela tua muito boa memória
Jaime Reis

Anónimo disse...

MEU CARO JORGE.

O texto é interessante mas longo. Devias reduzir isso a metade, ou menos ainda.

É uma opinião.

Às vezes não te acompanho.

Mas recordei com saudade o Dr. Burro, de quem ouvi falar.

Mas não topo o Jorge Mendonça, o China Malaca como lhe chamavam.

O Chiado... que saudade. Uma cena gira. Um industrial da minha terra prometeu um fato a um operário se lhe fizesse determinado trabalho.

O trabalho foi feito mas o fato não foi entregue. E o operário mais ou menos letrado, escreveu assim,

O fato que me prometeste
Quando eu fui teu empregado
Está mais novo do que este
Muito tempo tem durado.

Metade Jorge.

Ab.
JOÃO BRITO SOUSA

jctavares@jcarmotavares.pt disse...

Bom dia meu caro Jaime,
Como sempre as tuas palavras são um incentivo à continuidade.
Sabia que o José Maria ( funcionário do BNU e fiscal do cinema) pai do Alex, do Pedro, do José Maria vivia na casa mesmo ao lado das oficinas. Pensei falar nisso e estender-me mais um pouco, mas o texto já era grande e tornava-se maçuda a sua leitura.
Recordares o Xavier, foi excelente, porque ele tambem participou intensamente na nossa juventude e particularmente na minha fase dos bailes, namoricos e "engates", como usamos apelidar.
Deixou-nos muito cedo!
Um forte abraço para ti

jorge tavares
1950/56