As Bocas do Mundo
Era uma vez um homem velho, que tinha na sua companhia um neto, filho de uma sua filha já falecida, como falecido era o marido desta. Teve o velho de ir a uma feira vender uma jumenta, e como o neto era rapazola, muito turbulento, não o quis deixar sozinho em casa, e levou-o consigo. O jumento era já adiantado em anos e o velho para o não estropiar resolveu levá-lo adiante, caminhando a pé avô e neto. Passa¬ram a um lugar onde estava muita gente a brincar na estrada.
- Olhem aqueles brutos! Vão a pé atrás do búrro que se não dá da tolice dos donos. O velho disse ao neto que se pusesse em cima do burro. Mais adiante passaram próximo de outros sujeitos que se puseram a dizer:
- O mariola do garoto montado, e o velho a pé; o que um tem de esperto tem o outro de bruto. O velho então mandou apear o neto e ele montou-se no burro. Mais adiante começaram a gritar:
- Olhem o velho se é manhoso! A pobre criança a pé e ele repim¬paso no burro.
- Salta para cima do burro, ordenou o velho ao neto. O garoto não esperou que o avô repetisse a ordem e lá foram os dois sobre o jumento. Andaram assim alguns passos, e logo viram muita gente sair-lhes à estrada, cheia de indignação e gritando ameaçadora:
- Infames! Criminosos! Canalhas! Matar o animalzinho com o peso de dois alarves, podendo ir a pé. O velho e a criança foram obrigados a descer do burro. Então disse o avô ao neto:
- É para que saibas o que são as línguas do mundo: preso por ter cão e preso por o não ter.
IN "Contos Tradicionais do Algarve" de Ataíde de Oliveira.
RC
Era uma vez um homem velho, que tinha na sua companhia um neto, filho de uma sua filha já falecida, como falecido era o marido desta. Teve o velho de ir a uma feira vender uma jumenta, e como o neto era rapazola, muito turbulento, não o quis deixar sozinho em casa, e levou-o consigo. O jumento era já adiantado em anos e o velho para o não estropiar resolveu levá-lo adiante, caminhando a pé avô e neto. Passa¬ram a um lugar onde estava muita gente a brincar na estrada.
- Olhem aqueles brutos! Vão a pé atrás do búrro que se não dá da tolice dos donos. O velho disse ao neto que se pusesse em cima do burro. Mais adiante passaram próximo de outros sujeitos que se puseram a dizer:
- O mariola do garoto montado, e o velho a pé; o que um tem de esperto tem o outro de bruto. O velho então mandou apear o neto e ele montou-se no burro. Mais adiante começaram a gritar:
- Olhem o velho se é manhoso! A pobre criança a pé e ele repim¬paso no burro.
- Salta para cima do burro, ordenou o velho ao neto. O garoto não esperou que o avô repetisse a ordem e lá foram os dois sobre o jumento. Andaram assim alguns passos, e logo viram muita gente sair-lhes à estrada, cheia de indignação e gritando ameaçadora:
- Infames! Criminosos! Canalhas! Matar o animalzinho com o peso de dois alarves, podendo ir a pé. O velho e a criança foram obrigados a descer do burro. Então disse o avô ao neto:
- É para que saibas o que são as línguas do mundo: preso por ter cão e preso por o não ter.
IN "Contos Tradicionais do Algarve" de Ataíde de Oliveira.
RC
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