sexta-feira, 15 de janeiro de 2010


FUI À ESCOLA
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Ao Diogo, que disse, escrevam mais. E obviamente para todos.

Eram 16 horas, quando virei à direita, vindo do Largo do Pé da Cruz em direcção à Biblioteca António Ramos Rosa em Faro, e as recordações começaram. A Escola Industrial e Comercial ali mesmo na minha frente, à esquerda, e na correnteza do passeio, no lado direito, o local do negócio Felizardo & Glorinha, de saudosíssima memória. Detive-me uns minutos no local, ora de frente ora de costas para a Escola, numa atitude religiosa, de respeito total por aquelas duas instituições sagradas, que representavam, uma, a cultura e o conhecimento (a Escola) e a outra, representante da entidade patronal, exigente, dura, comercial e comerciante, pessoal sempre atento às cobranças, voz de comando, cinco tostões de cigarros, por favor, etc e tal.
Indiscutivelmente, cada uma daquelas instituições tinha, connosco, uma relação de amor, que nós não nos apercebemos, não tivemos capacidade para o absorver, nem juízo, nem idade, nem nada para perceber isso.

Foi aí onde parei uns minutos, frente a esses dois modelos diferentes de nos formar para a vida, e aí me detive, silencioso e hirto, em posição de homenagem e respeito, perante aqueles templos sagrados, onde quase me apeteceu ajoelhar, sentindo mesmo uma dificuldade enorme em colocar-me, não atinando mesmo para que lado me havia de voltar, o mesmo será dizer, que tive dificuldades em certificar-me qual dos dois estabelecimentos teria sido o mais importante para mim, o que melhor desenvolveu o meu carácter, qual deles contribuiu em dose maior para o homem que sou, mesmo carregado dos defeitos que tenho.

De tal modo que ao olhar o edifício comercial, um gesto automático quase me levou a mão à algibeirinha pequena,que, naquele tempo tínhamos ao pé do cinto, cá em cima, onde guardávamos as moedas e daí tirar cinco tostões para adquirir três cigarros PARIS.
O Ti Felizardo foi o nosso Director da escola da vida, cujo estabelecimento nos forneceu algumas centenas de sandes de cavala a cinco tostões, lá vem o Manel Lima, cuidado com ele, como é hoje ó Manel e, dizendo-lhe isto, ia atrás um forte palmada de amizade, a escorregar pelo lombo, enquanto o Manel largava, um chiça patrão. E nesta aparente estúpida e agressiva relação, íamo-nos apercebendo, que a nossa Mãe às vezes não estava lá. Éramos nós e a vida. Nunca tivemos uma relação difícil com o empresário Felizardo, que assumiu honradamente o papel de nosso professor de aulas práticas de Noções de Comércio. Uma vez perguntou ele a um, sabes o que é uma letra? É um título de crédito pá…e o aluno, e eu a pensar que era um copo de cachaça.

Daqui a uns dias escreverei mais, porque é imperdoável não falar na nossa segunda Mãe, a Ti Glorinha, a Santa Glorinha.

Encontrei hoje em Quarteira, o Zé Morgado das Quatro Estradas, que trabalhou com o maior de todos, nos TAP, o nosso querido e saudoso Zé Guerreiro, que por sua vez foi colega do Zé Maganão no Instituto Industrial à Rua Buenos Aires, ao lado do senhor Fernando, o Gordo das sandes.

Tenho saudades da vida.

João Brito Sousa.

2 comentários:

Associação Antigos Alunos Escola Tomás Cabreira disse...

Caro JB
É sempre bom regressarmos à Escola.
É sempre BOM recordar o passado!
Mesmo que seja só por isso...
RC

Anónimo disse...

Caro João
Por onde tens andado?
Já estranhava o teu estilo habitual e inconfundível.
Já lá vão tantos anos e ainda hoje por vezes procuro moedas naquele inexistente bolso, junto ao cinto a que fazes referencia
Um abraço.

Jaime Reis