segunda-feira, 18 de janeiro de 2010


GASTÃO CRUZ E OUTROS POETAS.


Fui dar uma volta pela obra de Gastão Cruz e fiquei deslumbrado com o que li. Deixo algumas ideias de gente da poesia, retiradas de um texto de GASTÃO CRUZ, que considero simplesmente fascinantes.

Podemos não nascer poetas mas temos a obrigação de, de vez em quando ler, um pouco de poesia e tentar percebê-la. Porque poesia é arte e, como tal, está em constante evolução.

A poesia tem a virtude de nos manter actualizados.

Tenho inveja dos poetas, disse Lobo Antunes.

A poesia de Gastão Cruz vem na linha de Carlos Oliveira, Herberto Hélder, Casimiro de Brito, Ruy Belo, Ramos Rosa, Eugénio de Andrade e de toda a poesia moderna contemporânea.

Para estes autores,: “O poeta é aquele que escolheu ter um ser através da sua linguagem. Isso pressupõe que a Linguagem possa dizer o ser.
Por essência, a poesia nunca duvidou disso, ou duvidou afirmando-se através dessa dúvida.”

Eugénio de Andrade afirma: “O acto poético é o empenho total do ser para a sua revelação”.

Também Sophia, numa das suas “Artes Poéticas”, diz: “A poesia não me pede propriamente uma especialização pois a sua arte é uma arte do ser. Também não é tempo ou trabalho o que a poesia me pede. Nem me pede uma ciência nem uma estética nem uma teoria. Pede-me antes a inteireza do meu ser, uma consciência mais funda do que a minha inteligência, uma fidelidade mais pura do que aquela que eu posso controlar. Pede-me que viva atenta como uma antena, pede-me que viva sempre, que nunca me esqueça. Pede-me uma obstinação sem tréguas,
densa e compacta.”

Penso que, no Portugal do século XX, pouca gente escreveu sobre poesia como os próprios poetas. Melhor dizendo, poucos, além deles, falaram da poesia vivendo-a, isto é, habitando-a, para recuperar uma palavra, e uma ideia.

É certamente neste sentido que se tem dito que o estilo ensaístico de Eduardo Lourenço, quando fala de poesia, é o de um poeta.


Retirado de um texto de GASTÃO CRUZ.
Por João Brito Sousa

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