sábado, 13 de fevereiro de 2010


REFLEXÃO


Queria aqui manifestar o meu apreço e agradecimento ao colega Diogo, pelos dois excelentes artigos de opinião com que nos brindou.
Se em relação ao primeiro, “Divagando sobre a democracia” subscrevo totalmente o seu teor, já em relação ao segundo “Divagando sobre a república e a monarquia” entendo que deverá ser, neste momento, uma questão de difícil aceitação. Isto sem entrar no mérito de um ou de outro regime. Neste momento que o País vive, é quase impossível, que qualquer solução seja pior da que está e do que se prevê para o futuro.
Acho que os dois artigos merecem sem dúvida uma profunda reflexão, algo que me parece não é do interesse de muita gente neste país.
Sei que vou criar à Direcção do Blogue alguns problemas, mas não resisto a jogar na fogueira algumas achas.
Porque será que Portugal atravessa ciclicamente situações de crise, de corrupção, de fome e de miséria?
Permito-me transcrever algumas linhas do livro “Afonso o Conquistador” da autoria de Maria Helena Ventura, páginas 47 e 48.
Numa das suas deslocações a Paço de Sousa, houve quase em surdina, da boca do povo:

-“De passagem ouve-lhes as necessidades, promete melhorias num futuro próximo, condoído com a palidez dos rostos.
- É muita fome senhor… Muita fome senhor … Muita fome
- Vozes baixas, quase interditas aos ouvidos dos detentores de tenências, gente próxima do rei, dentro desses domínios, com poder de execução da justiça pela mão de seus delegados. Afonso chega-se mais perto de Gonçalo Mendes de Sousa:
-Fome em terras tão fartas? Trata de saber porque não desenvolve o Ranha a região que governa.
Nem eu sabia. A ver se meus servidores começam a trazer informes mais detalhados.” (fim de citação)

Quase mil anos depois, os detentores de tenências continuam sem saber de nada.
Darei aqui um salto na História e se me for permitido irei transcrever um pequeno trecho do livro “D. Sebastião e o vidente” de que é autora Deana Barroqueiro (páginas 85 e 86).

“-D. Henrique sofria com admirável constância o peso da difícil governação daqueles conturbados reinos e senhorios…
- Temo por Vossa Alteza, reverendíssimo Senhor - alertava-o o embaixador Álvaro de Castro -, ao aceitardes a administração de um império cujo rei é pupilo, que nunca padeceu tantas necessidades como as de agora e cuja gente está pervertida que será mui dificultoso reformá-la. A corrupção que em Portugal se manifesta em todo género de cousa mostra quão necessário é plantar novo reino, novos homens, novas leis, novos costumes.
Como é possível que, possuindo nós todas as riquezas do Mundo, sejamos os mais pobres dele? – escandalizava-se ainda Pires de Távora.
A agricultura, que em toda a parte se estima o nervo principal das nações, aqui olha-se como insignificante ou inútil. Além do mais, os portugueses vivem adormecidos de alma e corpo, na indolência e gastando acima das suas posses.
-Até os estrangeiros que nos visitam por pouco tempo se dão conta do desdém que o nosso povo tem pelo trabalho – lamentava D. Álvaro. Dizem que os portugueses se dão por desonrados se tiverem de procurar emprego para as mãos, que preferem roubar a trabalhar!
Pires de Távora acusava com ousadia, seguro da rivalidade e ciúme entre os cunhados:
- A Rainha foi a primeira a dar o mau exemplo! Os COFRES DA FAZENDA estão vazios, graças à generosidade da Sereníssima Senhora, sempre pródiga na concessão de prelazias…” (fim de citação)

Muitos episódios idênticos aos relatados, ao longo da nossa História, levam-nos a pensar, que esta sina, será o destino de um Povo? Não quero acreditar em tal, mas…
Em Junho de 1926, já com 16 anos da implantação da República e em plena ditadura militar, alguém se lembra de ir a Coimbra e trazer para as Finanças o doutor Salazar. Veio como “ultimo recurso, como salvador da Pátria” e aguenta 13 dias. Regressa a Coimbra para a tranquilidade da docência, tal foi o estado em que encontrou os cofres do País.
Ao fim de mais algum tempo e sem que os militares encontrassem solução para o estado da Nação, voltam de novo a convencer o professor, que se instala em Lisboa de armas e bagagem. Ao fim de 2 anos era unanimemente considerado que “o homem” tinha operado um autêntico milagre com as finanças do país. Não houve revolução, não houve assalto ao poder, houve trabalho e competência.
Mais de 40 anos se passam (tempo demais sem dúvida, talvez 20 anos a mais) e o regime implantado então, sai pela “porta baixa” através de uma revolução previsível. Será que se pode mesmo chamar revolução? O que tem havido de revolucionário na democracia então implantada?
Estou de acordo com a frase de Churchil citada pelo Diogo, mas pergunto, qual democracia?
A do grande estadista ou a pseudo democracia que vivemos aqui, que se assemelha a tudo menos a uma democracia?
Uma democracia controladora da comunicação social, os factos são conhecidos de todos e só não vê quem não quer. Uma democracia que tem mais de mil entidades (Institutos, fundações, entidades reguladoras (ou será desreguladoras) e quejandos, que gravitam na esfera do Estado, suportados pelo “bolo” e com altíssimos salários para gáudio dos amigos e de quem der jeito agradar. Uma democracia injusta que cria autênticos nababos, atribuindo-lhes, duas, três e há casos de quatro, pensões, cujos valores acumulados são uma ofensa para quem trabalhou mais de 40 anos e sobrevive com menos do salário mínimo. Penso que não será necessário citar casos concretos. É uma democracia injusta, com pensões de 12 000 € e pensões de 200 €.
Hoje fico por aqui, citando apenas o cantor brasileiro Zé Ramalho, “este pode ser o país de toda a gente, mas não é com certeza o meu país”
Um abraço
António Palmeiro

4 comentários:

Anónimo disse...

Caro António ( permita-me que o trate assim), tal como a maior parte dos colegas do nosso escalão étario, sentimos o país com o mesmo fervor, com o mesmo sentido de dever para honrar o passado legado pelos nossos avós. Sentimos a história. Essa palavra vã e mesmo amaldiçoada nos dias que correm. Ás vezes até dou comigo a pensar :--“ São os malditos ventos da história....que desta vez sopraram de leste prometendo auroras aos incautos!”
Mas fico por aqui embora muito houvesse ou há para dizer.
Também li o livro “D. Sebastião e o vidente”...confesso que não gostei...muito. Aquela insinuação de que o pobre “rapaz” sofria desde os 11 anos de doença venérea transmitida por uma rameira ao serviço do rei de Espanha seu tio...não me soa verídica. Se gostar do tema recomendo-lhe “ a saga do rei menino” de António Cândido Franco da Esquilo. Muito mais factual. Eu próprio fui a Alcácer Kibir acompanhado por um grande amigo que já nos deixou, o saudoso Eng. Joaquim Lopes Belchior ,ele mesmo um grande historiador, conhecedor profundo do tema, para apreciar com os olhos de hoje, como tal desaire foi possível. Não me vou alongar. Recomendo o livro.
Também vou dar uma achega sobre o professor Salazar.
Foi, segundo o Dr. Adriano Moreira no livro “A espuma da memória” o algarvio Eng. Duarte Pacheco quem se deslocou a Coimbra, no seu carro pessoal, para convencer o então professor de economia a aceitar o convite para ministro das finanças.
O que veio a seguir, a historia, essa tal que sofre o efeito dos ventos predominantes duma época acabará prestando justiça...para um lado ou para outro!
Um grande abraço
Diogo

MAURICIO DOMINGUES disse...

Caro Palmeiro

Os meus parabéns pelo
seu artigo, verdadeiro, que irá
certamente despertar ainda muita
gente que desconhece a recente
História Pátria.
Da Constituição de 1930, em
que foram impostas regras e
procedimentos para salvar o País
da bancarrota, liquidar as dívi-
das à Inglaterra e disciplinar o
país, decorreram 10 anos !!
Duros anos de trabalho e dedica-
ção, agravados pela guerra civil
de Espanha e a 2ª Mundial, mesmo
assim, o país saiu do caos em
que o deixaram republicanos,
anarquistas e sindicalistas.
Este trabalho gigantesco foi
feito em 10 anos mais ou menos !!
Estamos quási a atingir 40 anos
de democracia e o futuro dos
nossos netos já está hipotecado.
Quanto tempo será ainda necessá-
rio para resgatar o país da misé-
ria em que se econtra ?

Um apertado abraço do
MAURÍCIO S. DOMINGUES

Anónimo disse...

Meu caro Diogo.
Batalha de Alcacer Quibir (Ksar-El-Kebir)
Segundo os historiadores conhecida em Marrocos como Batalha dos Três Reis, foi uma grande batalha travada no norte de Marrocos perto da cidade de Ksar-El-Kebir, entre Tânger e Fez, em 4 de Agosto de 1578. Os combatentes foram os portugueses liderados pelo rei D. Sebastião aliados ao exército do sultão Mulay Mohammed (Abu Abdallah Mohammed Saadi II, da dinastia Saadi) contra um grande exército marroquino liderado pelo seu tio, o Sultão de Marrocos Mulei Moluco (Abd Al-Malik da dinastia Saadi) com apoio otomano.

No seu fervor religioso, o rei D. Sebastião planeara uma cruzada após Mulay Mohammed ter solicitado a sua ajuda para recuperar o trono, que seu tio Abd Al-Malik havia tomado. A derrota portuguesa levou ao desaparecimento em combate da nata da nobreza do reino e do rei D. Sebastião, iniciando a crise dinástica de 1580 e o nascimento do mito do Sebastianismo, levando à perda da independência de Portugal ao longo de 60 anos sob a união ibérica com a dinastia Filipina. Além do mais, o reino foi gravemente empobrecido pelos resgates que foi preciso pagar para reaver os cativos. Na batalha além do rei português morreram os dois sultões rivais, originando o nome "Batalha dos três reis", com que ficou conhecida entre os Marroquinos.

RC

Anónimo disse...

Caro Rogerio, 100% de acordo.
Um abraço.
Diogo