domingo, 8 de agosto de 2010



O FIM DA CRISE

Não!... Podemos todos ficar tranquilos porque o título desta crónica não é o anúncio efectuado em qualquer um dos “milhentos” canais de televisão disponíveis e feito por um qualquer ministro com tendência humorística, de um desses países do terceiro mundo, espalhados pelo planeta.
O fim da crise no nosso país fui eu que decretei, após ter tomado conhecimento de uma importante entrada de fundos nos cofres do Estado, só possível pelo trabalho diligente e aplicado de zelosos funcionários do aeroporto de Faro.
Passo a explicar melhor:
Desloquei-me no final do mês de Junho ao Aeroporto Internacional de Faro com o objectivo de receber e transportar um casal de amigos, residentes no Brasil há 50 anos, mas que continuam com o seu Portugal e o seu Algarve no coração. O meu amigo do Algoz e a esposa de Paderne.
Até aqui nada de novo, as novidades vêm a seguir. Junto com o casal viajou um amigo que ficou retido no local da entrega das bagagens por lhe faltar um volume.
Solicitou-me o meu amigo que o esperássemos, uma vez que se trata de uma pessoa de 82 anos, que viajava sozinho e que trazia bagagem, que não tinha ninguém à espera. Assim foi feito durante mais de uma hora. Acabámos vindo embora sem que se soubesse o que se passou entretanto, uma vez que o balcão da companhia aérea estava fechado, no balcão das informações de nada sabiam e a polícia nada disse.
Acabámos vindo embora com a preocupação inerente a uma situação quase dramática.
Na última quarta-feira, vim finalmente a saber, contado pelo próprio o que se passou.
O volume que não aparecia continha 60 livros.
Falta aqui referir que este nosso amigo é escritor, com vasta obra publicada no Brasil e natural de Messines, onde se desloca periodicamente para matar as saudades, da terra, de Portugal, do Algarve.
Penso que todos já percebemos o que se passou, mas voltemos aos factos: - enquanto nós pensávamos que estava retido, estava afinal detido, situação que se manteve durante 3 horas e que terminou após o pagamento de um valor próximo dos 250 euros. No dia seguinte já em Faro foram finalmente entregues os 60 livros, mediante um pagamento de mais cento e tal euros.
- Os 60 livros eram de sua autoria e destinavam-se a ser oferecidos num lançamento do
mesmo a ser efectuado na sua terra natal. (legítima pretensão, que se realizou)

Quero agora falar um pouco deste escritor:
- António Neto Guerreiro, romancista e pesquisador da história portuguesa e brasileira, nasceu em Portugal e está radicado no Brasil desde 1952.
Formado em Direito, tornou-se empresário bem sucedido em São Paulo. Depois de criar filhos e netos, dedicou-se totalmente ao oficio de escrever,
É autor de romances como: - “Senhor Comendador”, “Heróis sem Glória”, “Deixo meus milhões ao diabo”, “Portugal, o primeiro país da idade moderna” “Brasil a construção de um continente – o legado da colonização portuguesa” entre outros.
Refuta chavões, repetidos aos quatro ventos, como o de que os portugueses vinham ao Brasil só para fazer fortuna rápida e voltar para Lisboa, que condenados e degredados foram responsáveis pela colonização do Brasil, que o sistema de capitanias hereditárias estaria na origem da falência do Estado brasileiro, entre muitos outros.
Este homem tem feito um trabalho notável na defesa do bom nome do país que o viu nascer, mas que tão mal trata os seus filhos
É figura destacada da comunidade portuguesa de São Paulo, tendo feito parte dos órgãos sociais de várias associações portuguesas e da Casa de Portugal em São Paulo.

Foi pois este “perigoso traficante” este “contrabandista” que foi detido no aeroporto internacional de Faro e só liberado depois de pagar os direitos correspondentes à perigosa mercadoria que pretendia fazer entrar no nosso País.
Quanto deve Portugal a este homem? O conhecimento que transmite, a defesa intransigente de uma posição, por vezes quase indefensável, dos portugueses no Brasil?
Não tem preço meus amigos.
Regressou ao Brasil na última sexta-feira e apesar da tristeza que lhe vi no olhar quando me falava sobre este infeliz episódio, volte breve, Doutor Neto. O senhor merecia um pedido formal de desculpas pela forma injusta, desabrida, cruel, mas reveladora do Portugal actual, como foi recebido no seu País.
Mas a vida é assim, uns nascem na Azinhaga outros em Messines e também ainda não pediu que Portugal passasse a fazer parte da República Federativa do Brasil.
A crise acabou, a verba entrou nos cofres do Estado.

António Viegas Palmeiro

2 comentários:

Anónimo disse...

Caro Antonio
Bom regresso. Nao chorei mas comoveu-me o seu texto!
Como eu o compreendo.
Como disse o Padre Antonio Vieira: Os portugueses necessitam
um palmo para morrer e o mundo para descobrir!
Abraco
diogo

Anónimo disse...

Meu querido amigo,

Viva.

Só hoje li o texto aqui publicado que traz a chancela dos Messinenses.

Se digo isto é porque conheço muita gente de Messines (creio ser a tua terra) e nunca ouvi falar do António Palmeiro, o que me espanta e tão pouco na Escola.

Palmeiros só nas Ferreiras e um em Tunes.

Voltando ao texto, que é o que importa,o mesmo reflecte a descrição de uma injustiça de bradar aos céus e o nosso escritor merecia o tal pedido de desculpas.

O senhor Fernando Machado da Sapataria, hoje homem de 90 e tais anos, reaguiria da mesma mameira que tu reagiste, o senhor Padre Ó de Brito igual, o poeta Manuel Madeira
também, o Dr. Luciano Machado, costeleta como nós, assinaria por baixo.

Eu sei que é assim porque todas essas personalidades são de Messines e Messines sempre deu lições de civilidade.

Parabens pelo texto e pela oportunidade do mesmo.

Mais duas coisas;

1 - Se os vires dá um abraço meu ao Joaquim Cabrita, ao Zé Preto e ao Luis.

2 . Vou tentar saber a forma de entrar e contacto com o nosso escritor e enviar-lhe um abraço fraterno.

Se tu autorizares, claro.

Por fim, dizer-te que é no campo da revolta que se escrevem os grandes textos. E é aí também que surgem os grandes escritores.

Como tu me pareces ser.

Aceita um abraço do
JBS