quarta-feira, 18 de agosto de 2010

A Vitalidade de uma Nação

– Escrevia Eça de Queirós:

»Uma nação vive, próspera, é respeitada, não pelo seu corpo diplomático, não pelo seu aparato de secretarias, não pelas recepções oficiais, não pelos banquetes cerimoniosos de camarilhas: isto nada vale, nada constrói, nada sustenta; isto faz reduzir as comendas e assoalhar o pano das fardas - mais nada. Uma nação vale pelos seus sábios, pelas suas escolas, pelos seus génios, pela sua literatura, pelos seus exploradores científicos, pelos seus artistas. Hoje, a superioridade é de quem mais pensa; antigamente era de quem mais podia: ensaiavam-se então os músculos como já se ensaiam as ideias.·«

Eça de Queirós foi um dos maiores escritores portugueses e simultaneamente um dos maiores pensadores. Retratou como ninguém a sociedade e a psicologia dos portugueses, num estilo irónico e humorístico único, presente nos seus romances, crónicas e correspondência. Mais radical nos seus primeiros escritos, mais conservador nos últimos, em todos grassa uma actualidade e uma acutilância que continua a surpreender passados mais de cem anos sobre a sua morte.

Em 1867 “O Distrito de Évora escrevia: "Ordinariamente todos os ministros são inteligentes, escrevem bem, discursam com cortesia e pura dicção, vão a faustosas inaugurações e são excelentes convivas. Porém, são nulos a resolver crises. Não têm a austeridade, nem a concepção, nem o instinto político, nem a experiência que faz o Estadista. É assim que há muito tempo em Portugal são regidos os destinos políticos. Política de acaso, política de compadrio, política de expediente. País governado ao acaso, governado por vaidades e por interesses, por especulação e corrupção, por privilégio e influência de camarilha, será possível conservar a sua independência?"
Tudo isto me dá vontade de rir…

Porque, como escrevia Eça de Queirós, em Maio de 1971:
»O riso é uma filosofia. Muitas vezes o riso é uma salvação. E em política constitucional, pelo menos, o riso é uma opinião «

E, neste momento, a minha opinião é o riso! (aquele riso de descrença)

Alfredo Mingau

5 comentários:

Anónimo disse...

COMO É ISTO AGORA?

Viva.
O blogue agora virou política?
Não concordo.
Alfredo, manda aí uma crónica tua: IDA À RUA DE SANTO ANTÓNIO, com o Manuel Pires Victória e amalta de 40.

Ab.
JBS

Associação Antigos Alunos Escola Tomás Cabreira disse...

Meu caro Ermão
Achei que devia publicar porque o Mingau não escreve em discuro directo de política, ele apenas recorda o que foi escrito em 1867 e em 1871. E não há qualquer alusão a partdos. Apenas pela comparação?
Rogério

MAURÍCIO DOMINGUES disse...

Caro Alfredo Mingau

Folgo em vê-lo de volta .
Parabéns por nos recordar Eça de
Queirós com temas de bastante inte-
resse.
Eça foi sempre um crítico e
defensor dos interesses nacionais,
coisa que nos dias de hoje pouco
se vê.
Dele, se a memória não me atrai-
çoa, recordo :

"Os políticos e as fraldas, devem
ser mudados pela mesma razão !"

Já nesse tempo o pestilento mau
cheiro dos governantes era motivo
de reparo e crítica do nosso grande
escritor !!

Mande mais. Um abraço do
MAURÍCIO

António Palmeiro disse...

Parabéns meu caro Alfredo

O seu texto é de um valor acrescentado que apetece pedir cada vez mais, gostei muito.
É preciso acordar as consciencias, porque caso contrário, nada sobrará.
Só fome e miséria.
Um abraço
António Palmeiro

Anónimo disse...

Mano,

Aceito a tua explicação.
Ab.
JBS