domingo, 31 de outubro de 2010

O VELHO E A GAIVOTA (cont)
Por João Britto Sousa


E saiu apressadamente.

Vim para casa a querer arrumar as ideias mas estava a tornar-se difícil. Começava a baralhar-me com a informação recolhida, apesar de pouca, mas percebi que tinha que começar a organizar-me. Afinal tudo serve para se constituir como um grande problema, nascer por exemplo é um problema, já que encerra em si um grande risco, crescer idem, subir na vida já é outra coisa, é mais complicado e talvez encerre aqui esse grande problema desse velho meu amigo. Subir na vida, eis a questão. Como se sobe, chega-se aonde, porque se quer lá chegar, o que nos leva a pensar assim, os altos e baixos da vida, tanta coisa que pode gerar um grande problema.
Já estávamos à mesa a almoçar quando a minha neta observou.
- Avô, o dia de hoje, como foi? Aprendeste alguma coisa, discutiste com alguém, falaste com alguém, percebeste tudo o que ouviste ?
- Porque dizes isso? perguntei eu.
- Por uma questão muito simples. É que nesta altura da minha vida e da tua também, temos à nossa disposição a oportunidade única de sermos felizes. Essa oportunidade pode não existir amanhã. É hoje avô, melhor, é agora avô.
- Mas estás a falar de quê Sofia? perguntei.
- Estou a falar de coisas que tu deverias saber, melhor, que te competem saber.
- Não sei, disse eu. Ensina-me minha querida.
- Não avô, terás de pensar. È tão evidente.
-Não percebes, perguntou Carol.
- Não, repeti.
- Olha, esse pode ser o grande problema do velho, adiantou Carol.
- Sim ?... talvez seja, disse eu.
E Carol abanou afirmativamente com a cabeça.
Depois do almoço descansei e tentei colocar as ideias em ordem. Concluí que estava metido numa grande alhada, isto se quisesse andar para a frente com o assunto. Mas eu sabia que queria. Recapitulei, inclusivamente a minha chegada face ao velho lá no jardim e pensei que melhor seria olhar o velho, olhos nos olhos, teria talvez uma pista. Mas o velho tinha uma característica especial; dizia apenas o que queria e quando queria, portanto era difícil arrancar-lhe alguma coisa de útil.
Tinha em mente, três áreas que deveria investir para chegar a alguma conclusão; mulheres, dinheiro e amor. Ainda tentei começar a discorrer mas sentia-me cansado. Além do mais eu não tinha experiência nenhuma neste tipo de trabalhos, mas estava a gostar de abordar o tema. Deixei de pensar nisso. Peguei no jornal que tinha à mão e vi o que se passava no País e no Mundo. Tudo péssimo. Restava-me o problema do velho. Pelo menos punha-me a pensar.

jbritosousa@sapo.pt

Sem comentários: