terça-feira, 2 de novembro de 2010

A Carcanhola e a RTP

Lembram-se??!!...

Das primeiras reportagens feitas pela RTP no Algarve, uma que me recordo, registou-se na Ria Formosa. Provavelmente no ano de 1970. Não sei precisar a data nem o jornalista. Parece-me que teria sido o José Mensurado... mas nada de certezas... apenas que um alfacinha entrevistou um pescador da Ria Formosa.
O nosso pescador referiu-lhe o nome das várias ilhas, o que mariscava, a novidade dos mexilhões que se agarravam aos pilares da ponte, mesmo antes de inaugurada, os caranguejos braço no ar que apanhava de noite com uma corda e uma lanterna, desorientava-os e eles não conseguiam entrar no buraco, ficando perdidos. Partido o braço (boca), esta crescia e no ano seguinte estava igual, as barracas de junco onde viviam algumas horas ou dias no verão, etc. Era agradável seguir a conversa natural entre os dois interlocutores, parecendo que se conheciam há muito tempo.
O nosso jornalista perguntava-lhe pelas ostras (“Dês huîtres portugaises” que os franceses tanto apreciavam), ao que o nosso pescador respondia: “Quais ostras moh!! – carcanholas é que é!...” O jornalista tinha dificuldade em silabar uma palavra tão conhecida dos algarvios que, segundos após repetia– “fale-me, agora das ostras algarvias, quais são melhores, as de Sta.Luzia ou do Ancão? Recebemo-las em Lisboa... “Moh – carcanholas” é o que mandamos todas as noites para Lisboa; são carcanholas!. Vão em sacos de cãnhamo, de 50 Kg em camiões ou pelo combóio da noite e chegam a Lisboa de madrugada. Dos mercados abastecedores seguem depois para os restaurantes e cervejarias. Carcanholas!!...

Romualdo Cavaco

3 comentários:

Associação Antigos Alunos Escola Tomás Cabreira disse...

Meu caro Romualdo.
QWuem não se lembra das "carcanholas", as ostras da Ria Formosa?
Recordo-me, era moço, e via passar o homem com um cabaz de carcanholas e a apregoar "Carcanhois... carcanhois!".
As carcanholas desapareceram de repente da Ria Formosa. Os mariscadores diziam que se vendiam mais que as ostras do Sado (Setubal) e que tinham espalhado na ria um produto que as matou. Dizia-se...
Rogério

Anónimo disse...

Caro Romualdo:
Deixaste-me a salivar,ou como agente diz aí,a babar-me todo.
Hoje gosto das "huitre portugaise"como os franceses e não só, as degustam.Mas não queiras saber, a ginástica mental e a prova de yoga a que tive que submeter o meu estomago habituado às carcanholas da nossa maravilhosa Ria, abertas na chapa com limão, quando numa viagem de serviço a Paris, fui convidado para um almoço no Procope, e me puzeram à frente um pratalhão com doze (12) huitres Portugaises(da Bretanha) cruas, a tiritar de frio sobre um monte de gelo.
Gelado ficou o meu estômago,mesmo depois de já ter sido préaquecido com dois ou três Ricards.
Madame Bonhomme, a minha anfitriã e competentíssima secretária e relações públicas da Shell Francesa, não podia ficar desiludida ,quanto à competência profissional nem ao comportamento social dos seus convidados,que ali estavam para selar um contrato entre uma das maiores companhias petrolíferas francesas e o maior estaleiro de reparação naval do mundo.
O meu colega estáva pior do que eu;branco como a cal da parede.
Aproveitei o momento em que a senhora fazia o seu pedido,e disse-lhe:põe-lhes bastante limanito e não as mastigues.
Quiz ser simpático, aceitou uma molhangada qualquer,que vinha a acompanhar, empurrou quatro ou cinco com dois ou três copos de Muscadet Sévre, e delicadamente dirigiu-se aos lavabos.
Quando voltou, já eu tinha engolido as minhas, como se fossem pequenas colheradas de óleo de fígado de bacalhau.
Alegou uma pequena indisposição devido a possível incompatibilidade entre os aperitivos e a temperatura do Muscadet, e a senhora mandou retirar a garrafa do frappé.
O resto do almoço decorreu dentro do melhor dos mundos.
Terminadas as funções,decidimos prolongar a estadia para dois dias de distrações.Lisboa que me perdoe, mas Paris é divina.À saída do Centro George Pompidou passamos pelos Halles, e comprei duas daquelas facas com que se abrem as ostras.Ofereci uma ao meu prezado colega, que teve a indelicadeza de a escestar numa papeleira do lixo.
Recuperei-a.
De volta ao nosso país, comecei a comprar e a habituar-me a comer as ostras como devem ser apreciadas; cruas com sumo de limão, vinagrete ou tamari.São deliciosas.
Terminado em Lisboa o projecto que nos tinha levado a Paris,era agora a ocasião de retribuir aos nossos clientes,a sua encantadora recepção.
Fizemo-lo num conhecido e conceituado restaurante da baixa lisboeta.
Oferecemos e degustámos carcanholas portuguesas do Sado.
O meu prezado colega escolheu como aperitivo um sumo de laranja.
Comeu deliciado as suas huitres Portugaises comme il faut.
Madame Bonhomme,sorriu encantada e fez um brinde especial ao Diogo,dando uma piscadela de olho à esposa a seu lado e disse:Le pastis et les huitre portugaises ne sont pas compatible.
Grande abraço.
J.Elias Moreno

Victor Venâncio Jesus disse...

Faz-me lembrar, quando o meu pai ia ao moinho de maré que havia ali no lugar de Bela Mandil, levar o trigo e o milho para moer e voltava com uma alcofa cheia de carcanholas que depois no nosso quintal em Olhão, com uma chapa em cima de um fogareiro eram abertas e com sumo de limão era um petisco de se lhe tirar o chapéu.
O Zé Elias, não falou, quando o ano passado, fomos apanhar berbigão para a Ria e ele conseguiu no meio de umas pedras que por lá haviam de uma antiga casa que ruira, umas carcanholas que depois fomos degustar junto com os berbigões para casa dele. Grandes petiscos...