terça-feira, 2 de novembro de 2010

RECORDANDO GOA (CONT. II)

Deixando o venerável Arco dos Vice-Reis, local onde outrora se recebia e procedia à entrega daschaves da cidade de Vélha Goa ao novo Vice-Rei pelos Membros do Senado de Goa, segui a pé porum atalho de terra batida, rodeado de verde e exuberante vegetação até à margem do Rio Mandovi.
Aí, num pequeno cais de madeira embarquei num “Patmarim“ com destino a Nova Goa (Pangim), onde receberia guia de marcha para Diu.
Deixei para trás as amontoadas ruinas de antigos palácios e monumentos da vélha cidade, as arruinadas paredes da Capela de Santa Catarina cobertas de vegetação bravia, templo construido no local onde pela primeira vez pisou esse chão Afonso de Albuquerque, precisamente no dia de Santa Catarina.
Aproveitei ainda para fotografar o túmulo de S. Francisco Xavier na Igreja de Bom Jesus, magestoso templo que guarda as Relíquias do Santo e onde religiosamente toda a população cristã e muitos Indús vai orar e cumprir as suas promessas.
Uma curta estadia na Bateria de Artilharia de Pondá, onde aguardei que a monção permitisse o embarque para Diu no glorioso “Aviso“ Afonso de Albuquerque, fortaleceu ainda mais a minha admiração e respeito pelos heróicos Navegadores Portugueses que enfrentando tempestades arribaram a estas longínquas paragens em pequenas caravelas, lutando contra as vagas alterosas das monções e reduzidos meios de navegação.
O “Afonso de Albuquerque” levantou ferro e fez-se ao largo com as escotilhas fechadas, mergulhando a prôa até que as ondas varressem todo o convés, mais parecendo um golfinho a mergulhar nas águas encapaladas do oceano.
A pequena Ilha de Diu, situada na Península de Guzerate, à entrada do Golfo de Cambaia com pouco mais de 37 Km 2, iria ser para mim mais uma preciosa joia a visitar em terras Portuguesas do Oriente.
Impressiona a magestade das suas muralhas onde sobresai o negrume das suas pedras, queimadas pelo Sol ardente da Latitude, e a altivez do seus Baluartes que vigiam ao longe todo o Mar Arábico.
O desembarque não foi nada fácil . A monção com as suas alterosas ondas não permitiu que o “Afonso de Albuquerque” se aproximasse da Fortaleza e a poucas milhas da costa lançou ferro para com mais segurança fazer o desembarque do pessoal e material destinado à guarnição do Castelo.
Nenhum Português, digno deste nome ,poderá ficar indeferente perante a magestosa obra de Engenharia Militar Portuguesa realizada numa época em que tudo era hostil à Lusa Gente, desdeos Indús e Muçulmanos , e até o reduzido número de efectivos e materiais que guarneciam as nossas Feitorias e Redutos Militares.
Só o heróico Povo Lusitano ,como cantou Camões, foi capaz de “DAR NOVOS MUNDOS AO MUNDO “
Não esquecerei a recepção amiga que os Artilheiros da Bateria de Artilharia instalada no Baluarte dos Cavaleiros, de S. Tiago e S. Jorge, fizeram quando da minha chegada ao Cais, ansiosos por saber notícias da Metrópole e da linda Lisboa que deixaram havia muitos meses.
O Augusto de Figueiredo, o Amaral ,o Miguel Homem Pissaro de Sampayo e Mello( filho da saudosa locutora Mary do Rádio C. Português da Parede), os madeirenses António Teixeira de Jesus e o Francisco Nicolau Homem de Gouveia, foram sempre uma companhia amiga e fraternal durante o tempo que permaneci no Castelo.
Na famosa Capela de S. Tiago ,construida junto à muralha do lado do mar, repousam num simples túmulo as honradas cinzas dos heróicos defensores dos dois Cercos de Diu. Ao lado, voltada para o mar e construida junto às arribas existia a Sacristia da Capela em estado muito degradado, quási totalmente destelhada que, depois de reparada por nós, serviu de camarata aos Artilheiros da Bateria de 7,5 cm TR, cujas peças glorificaram em França, na 1ª Guerra Mundial (1914/18), a Artilharia Portuguesa.
A sua Guarnição era formada com Soldados Moçambicanos da Raça Landim que em poucos minutos colocavam nos Baluartes as nossas preciosas bocas de fogo!
Um desses soldados,“ O MENINO”, assim tratado por nós e pelos seus companheiros pelasua enorme corpulência, um autêntico gigante, com cerca de 2 metros de altura, manobrava sózinho uma peça de artilharia levando-a pelas rampas até ao Baluarte dos Cavaleiros onde estava a minha equipa. !
O “MENINO “, será recordado numa próxima figura que irei descrever relacionada num episódio ocorrido com uma pachorrenta vaca sagrada que todos os dias vinha pastar próximo do profundo fôsso de 30 metros de altura, aquele que D. João de Castro reconstruiu depois da destruição que sofreu durante o 2º Cerco de Diu. Nessa zona a Fortaleza foi reforçada com um segundo pano de muralha.!
( A continuar )


Estoril , 31 de Outubro de 2010
MAURÍCIO SEVERO DMINGUES

4 comentários:

Associação Antigos Alunos Escola Tomás Cabreira disse...

Uma boa crónica.
Uma boa recordação histórica, principalmente por aqueles que por lá passaram.
Rogério

Anónimo disse...

Mesmo para quem não conhece, o que é referido neste "recordando Goa (II)" (e é o meu caso), estamos perante um excelente narrativa, onde tudo -heróis, pedras, águas,recordações, amor pátrio,-tudo, tudo fala. Com emoção,recuamos séculos e temos a sensação de passear por aqueles sítios, sentir os odores daqueles mares e terras, estar a bordo daqueles navios, ser participantes daquelas heróicas gestas portuguesas.
Os meus cumprimentos ao Autor.

MAURICIO DOMINGUES disse...

CARO "ANÓNIMO"
GRATO PELO COMENTÁRIO E CUMPRIMENTOS COM QUE ME DISTINGUE NO MEU "RECORDANDO GOA (II).
AS SUAS PALAVRAS DEIXAM-ME ENTEVER
UMA SENSIBILIDADE, UMA FORMAÇÃO CÍVICA E PATRIÓTICA RARA NOS DIAS
DE HOJE.
OBRIGADO
MAURÍCIO S. DOMINGUES

Norberto Cunha disse...

Muito bem, caro Maurício. Álém do mais,este texto vem confirmar o que ultimamete lhe disse: "Não deixe que a sua modéstia o tolha. Vá em frente" Aguardo agora que a deliciosa hitória da vaca sagrada apareça no blog, para regalo de todos os costeletas. Um abraço. Norberto.