sábado, 4 de dezembro de 2010

E ESCREVO AO SÁBADO

A TERTÚLIA TODOS BEM
Por João Brito Sousa


Quando eu cheguei à leitaria já o Artur estava sentado na nossa mesa, digamos assim, com o Old Parr em frente. Fez uma saúde à minha chegada, eu correspondi e dez minutos depois já estávamos todos. Gostamos de estar juntos, aquilo tem piada, uma vez um escreve umas coisas que lê e nós comentamos, outro declama e outro faz outra coisa qualquer.
Claro que há sempre um preâmbulo, o Pedro gosta de contar as suas aventuras fora de portas e pedimos quase sempre ao Tomás, que recite um poema, ao que, desta vez como aliás nas outras, ele acendeu a dizer o Cântico Negro do Régio.
Entretanto o Artur pediu aos presentes na sala se não se importavam de "aguentar un peu", porque o Tomás ia declamar um poema. Que não, que não fazia mal, que ouviam com muito agrado, faz favor senhor Tomás, esta sala é toda sua. E o Tomás levantou-se para declamar, quando um dos presentes, que não nos era familiar, se levantou e disse:
- Meus senhores, depois do senhor Tomás dizer o seu poema eu quero declamar o "Portalegre", igualmente do Régio, que é muito lindo.
Tomás olhou para nós, trocámos ideias com os olhos e o Tomás, que percebeu a nossa aceitação, disse.
- Sim senhor, temos muito gosto em ouvi-lo, mas isto tem de ter a autorização do senhor Simplício, o gerente da leitaria, porque nós já a temos há muito tempo, somos da casa, praticamente. Deixe-me eu dizer o poema que já falamos nisso.
- Ok, proclamou o desconhecido.
- Meus senhores e minhas senhoras, vou dizer o poema de Régio.
E como de costume disse e bem. Foi aplaudido, ruidosamente, digamos, o que gerou na sala uma tempestade num copo de água e ninguém mais ali declamou, porque o Simplício simplesmente disse que não queria mais declamações no salão de Chá e Leitaria, porque tinha que estar licenciado e não estava e não queria estar .
Depois de a sala serenar, o Pedro Santos um ex emigrante nos USA mas que adorava a França, disse que tinha preparado, para discutirmos na tertúlia de hoje, o tema "Franceses em Portugal nos fins do século XVIII".
- Mas porquê vir agora com o século XVIII? Indaguei eu.
- Por uma questão muito simples, disse o Pedro
- Questão simples!? disse o Tomás. Explica lá isso ó Mr. Pedro.
E Pedro disse.
- Eu penso que é impensável a compreensão do nosso tempo por alguém que insista em ignorar o passado.
- É razoável que se pense assim, disse eu.
- Então se é assim siga a leitura do trabalho, disse o Artur
- Concordas Tomás, perguntei.
- Siga a marinha, disse o Tomás
E o Pedro apresentou o seu trabalho.
- Na segunda metade do século XVIII, residia em Portugal um número considerável de súbditos franceses, que pertenciam às mais diversas profissões. Em Lisboa, por exemplo, viviam criados, cabeleireiros, relojoeiros, alfaiates e tecelões e ainda livreiros militares mercadores, etc
- E vingaram, perguntou o Artur.
- Eu vou estudar isso para a próxima reunião, disse o Tomás.
- A sessão termina aqui hoje, disse eu.
Mas antes de terminarmos, o declamador do Portalegre, chegou-se a nós e disse.
Eu conheço um espaço óptimo para a gente fazer coisas. Não querem ir ver.
- Tem aqui o nº do meu tm. Trate disso e depois diga-me. Ok.
- Sim senhor, eu digo.
E despedimo-nos.


jbritosousa@sapo.pt

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