sábado, 11 de dezembro de 2010

TERTULIA TODOS BEM
Por João Brito Sousa


Durante a semana pouco nos víamos. O Pedro Santos, que era natural de Almancil, tinha agora uma vivenda em Santa Bárbara de Nexe, onde residia. Pedro tinha tudo a rigor, piscina, flores por todo o lado, um pequeno regaço onde tinha plantado três ou quatro figueiras, outras tantas amendoeiras e uma alfarrobeira que o Pedro adorava por causa da sombra. De manhã, depois de tomar o pequeno almoço, em casa, ia pelo black coffee como ele dizia, à estação de serviço local, lia um jornal desportivo e às dez e trinta estava em casa. Dava uma olhada pelos afazeres que uma casa de campo sempre tem, arrumava aqui e ali e depois ia dar uma volta com o Carboni, o cão que tinha adquirido na serra da Estrela, uma vez que lá fora. Viva ali ia para quatro anos, não conhecia muita gente, mas já era próximo do senhor prior da freguesia, que na altura das procissões fazia questão que ele vestisse a opa para carregar com o andor. E eu ia e gostava daquilo, dizia o Pedro.
Tomás morava nos arredores da cidade. Moro na antiga horta do Catrunfa, que tinha três noras no passado e agora era só casario, dizia ele às vezes. Era um homem razoavelmente culto, tinha a paixão da poesia e lia bastante. A sua canção preferida era My Way cantada pelo Sinatra. Cuidava bastante do seu visual, sapatos engraxadíssimos no máximo, trabalho esse que estava entregue ao senhor Américo do Café Aliança de outros. tempos Agora era ele que fazia esse trabalho em casa.
O Artur Mendes era tavirense de gema, tinha herdado do pai uns euros largos e não fazia népia. Em jovem, acompanhou de perto a equipa de ciclismo do Ginásio, quando lá corriam o Inácio Ramos, o Jorge Corvo e outros. Tinha a mania que percebia de ciclismo e tinha dúvidas entre o valor do belga Edy Mercks e do espanhol Indurain. Explicava com clareza as vitórias do italiano Marino Basso, na ponta final das etapas, o chamado "sprint" e em Portugal tinha dúvidas entre o Emiliano Dionísio do Sporting e o Farense Ildefonso Rodrigues, quando este corria no Sporting.
Eu, era montanheiro mas vivia agora na cidade. De manhã ia até ao mercado, aparecia por lá a malta da minha geração, o Heliodoro e o Zé Graça e outros e recordávamos os velhos tempos, constatando que já tinham morrido muitos, o último foi o Zé Raimundo da venda, que jogava a defesa esquerdo na equipa de futebol lá da terra. Uma vez, demos três a um à malta de Faro e o Zé foi o melhor em campo. É a vida ...
Além de sermos colegas na Escola, tínhamos feito a tropa juntos em Tavira. O Artur, que era de lá natural, era um sorna dos diabos e o Tomás fazia-lhe a barba na cama, dava-lhe um toque nos sapatos e o Artur ficava-se. Vamos embora pá, olha que o Capitão lixa-nos se a gente chega atrasado. Uma vez aconteceu que o Artur apareceu na formatura super equipado, com as calças de pijama vestidas mais as de cotim da tropa. O Capitão topou aquilo e mandou a rapaziada fazer um crosse de dez quilómetros, ir e voltar até à Luz de Tavira. O Artur transpirava por todos os poros e às tantas, deitou-se debaixo de uma alfarrobeira. Mas teve azar que o Capitão viu. Foi o diabo.
Hoje é sábado e o Artur está a preparar a temática sobre os franceses para discutirmos na próxima quinta feira.
Fico-me por aqui, hoje.

jbritosousa@sapo.pt

2 comentários:

Associação Antigos Alunos Escola Tomás Cabreira disse...

João
Este texto não entrou na conta do blog.
Passei da minha conta
Verifica o teu computador porque recebi na conta do blog um comentário do Zé Elias.
Roger

Anónimo disse...

Olà Joao:
Hà dias estive no Mercado,em Faro, com o Inàcio Ramos.
Encontro emocionante, em que ambos silenciosamente interiorizamos as cicatrizes e as marcas do tempo, para recordar com saudade a força e a alegria da juventude perdida.
Ainda mantèm alguns traços da elegancia, porte atletico e ar desportivo,que faziam dele um dandy,admirado pelas mulheres e invejado pela rapaziada em idade da busca de afirmaçao.
Tal qual Virgilio Teixeira ou outro Humphrey Bogart.
Sabias que foi meu vizinho, e è primo do Diogo e do Reinaldo?
Abraço
JEMoreno