domingo, 20 de novembro de 2011


SITUAÇÃO DO BLOG DA ASSOCIAÇÃO

Por divergências externas contrárias ao que se encontra estabelecido para utilização do Blog da Associação, o Presidente Joaquim Teixeira suspendeu o Blog. no dia 21 de Agosto passado.

Em reunião ordinária dos órgãos directivos, e porque está a findar o mandato da presente Direcção, ficou decidido manter a suspensão, aguardando-se que os novos Órgãos Directivos a eleger tomem uma decisão definitiva

A Direcção

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

domingo, 21 de agosto de 2011


O BLOGUE ESTÁ SUSPENSO
A PARTIR DE HOJE


ONE MORE TIME

Nos dias de hoje, é comum pensar-se que aqueles que se julgam famosos têm mais valor do que a generalidade das pessoas. Mas tudo não passa de ilusão. Aqueles que têm verdadeiro valor não são os que se evidenciam em frases medíocres ou em espectáculos alienantes, mas os que se esforçam, de um modo muitas vezes anónimo, para tornar melhor e aplaudindo, por exemplo, alguns escritores cuja escrita lhes agradou.
A falta de compostura e as liberdades de linguagem tomaram o lugar da correcção e da delicadeza, que ainda prevaleciam há algum tempo atrás. A mentalidade que se instalou, a par de um falso conceito de liberdade, criou algumas situações de grave confusão.
Adoptar o princípio de se insurgir sempre que convém atrai a desconfiança dos demais sobre a maneira autorizada de estar. Quem ofende acabará por ter resposta, porque quem semeia joio não pode colher trigo. Nada é mais importante do que uma consciência tranquila, embora o caminho nem sempre seja fácil.
A cólera obscurece a mente e impede o raciocínio. Cria situações insustentáveis, das quais todos saem prejudicados. Aqueles que gostam de se enaltecer atraem a inveja dos demais e acabam sozinhos. Quem tem verdadeiro valor é discreto e simples, trata os outros com afabilidade. É um sinal de imaturidade a atitude exibicionista de quem gosta de se fazer notar pelos piores motivos: a indisciplina, a ignorância e a grosseria.
A paciência é uma virtude fundamental, que se deve pôr em prática diariamente, porque as contrariedades são inevitáveis e é um erro perder-se a compostura por causa delas, porque a paciência tem limites.
As tempestades destroem edifícios que com carinho e esforço foram construídos.
E quem semeia ventos…
O Rogério comunicou-me a sua decisão de não continuar a orientar o Blog e, em face do exposto e da leitura dos comentários, tomei a decisão de suspender o Blog a partir desta data.
FRATERNIDADE, VITALIDADE E SOLIDARIEDADE, são três lemas que deveriam estar presentes em todos os Costeletas.

O Presidente

Joaquim Teixeira

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

INFORMAÇÃO
Na edição de mensagens e fotos
o Blog esteve inoperativo
desde a manhã de hoje até cerca das 17h30
 em que os responsáveis do Google
resolveram a anomalia.
Rogério


Lembranças

Orlando Augusto da Silva

Sois para mim, Oh! Minhas lembranças…
As ondas amenas que quebram no cais:
Despertam meu ser, e assim me atrais…
Pois desse despertar, nunca me cansas...


Sois, bando de borboletas voando
Num campo verde que mal se divisa;
Asas etéreas, que na leve brisa
Me tocam, de quando, em quando.


Sois, bando de pássaros calados!
Ondas da praia, indo e voltando…
Nuvens indeléveis que vêm chegando,
E deixam meus olhos embaciados…


Sois, as memórias do meu velho canto,
Saídas do limbo, não se perderam
De voltar ao ponto onde nasceram,
E vindas de longe, me enternecem tanto.


Aqui me tendes, este todo, sou eu!...
Entrai em meus olhos, tomai-me a mente;
Que para me lembrar, nunca estou ausente,
– Só não se recorda, quem nunca viveu.


( Inédito) Orlando/2010

quarta-feira, 17 de agosto de 2011


RELACIONAMENTO
Montinho

Todo relacionamento tem uma complexidade.
O limite é o cansaço.
Quando uma ou mais pessoas criam um elo de amizade, de bem querer, há uma mistura de sentimentos – alegria, dor, inveja, ciúmes, posse, subjetividades, individualismo, etc.- É como aquele ditado de cunho popular: “Teu espaço termina quando começa o meu”. Mas como medir ou delimitar virtualmente este espaço? Como sinalizar invasão? Onde fica o tal cercado holográfico? Como transpor limites ao outro de uma forma suave?
É estranho e feio, pela ótica da “educação”, dizer a alguém – Não gosto de você, ou não gosto mais de você. Infelizmente a hipocrisia é necessária para o convívio social.
Me sinto estranho quando estou tomado num turbilhão de sentimentos que passam como os líquidos num liquidificador que nos permeiam quando estamos dentro de relações. As reações do outro não são previsíveis e a expectativa só entra em jogo para complicar a situação.
As pessoas mudam o comportamento sem prévio aviso, sem pontuar os fatores que possam estimular um novo tratamento. Falo especialmente quando o comportamento é pontual.
Sou frio para algumas coisas, pois canso rápido de “jogos” flutuantes e sentimentos inexatos – a dúvida eterna. - É amigo ou não é; ou colegas, somos confidentes ou estranhos, conhecidos ou desco-nhecidos, nossa relação é profunda, superficial, flutuante? A Sensação de estar sempre em cima no pedestal é péssima. Tratar outra pessoa com melindres, magoá-la ou feri-la chega a ser dramático demais.
Que louco tudo isto.
“Do balanço da sua construção (o Blog), desenha-se agora mais uma zona desprotegida, como a fronteira de uma grande reserva ou o recorte de uma Estética de fragmentos. Lembra o lema que aqui se está a impor: fragmentos de imagens e de fios, que talvez nem juntos e ligados deixem de se fragmentar. Será que esses fragmentos, terminem num todo que a cada um cabe elevar e salvar? Incorrupta dignidade. É que o real põe-se, não se expõe – e põe-se com um amor inelutável a futuras criações e germinações -. Ínvios caminhos que sejam, pois que em qualquer sítio se pode continuar a caminhar com bom relacionamento entre todos, sejam ou não costeletas.

terça-feira, 16 de agosto de 2011


MODESTA HOMENAGEM
A UM GRANDE MESTRE TAVIRENSE

Podia ser COSTELETA ,
tal  o seu valor e seu brio;
é um AZ DA BICICLETA,
orgulho do Povo Algarvio.

Ah homem do arco da velha!
há muito não via igual:
vem do Monte da Cortelha...
...ganha a Volta a Portugal!!

Na xuxa que tráz ao peito,
revela amor e carinho.
Na sua força e seu jeito,
lembra o Joaquim Agostinho.

Gesto desportivo e honrado,
num herói, feito menino:
a vitória ter partilhado,
com o companheiro Vitorino.

Cortelha, flor silvestre,
esteva da Serra...cheirosa,
Teu filho Ricardo Mestre,
fez-te mais rica e famosa.

Tavira, Pérola Algarvia,
gosto de ti sem cinismo,
tu és para nossa alegria,
A raínha do ciclismo.

José Elias Moreno
Dk,16/8/2011



Olá!
Estou de férias e vou continuar.
Mas gostaria que lessem esta pequena crónica e consultassem a consciência.

CRÓNICA SOBRE A VERDADE DIÁRIA

Montinho


O que é a verdade?
Presunção diária a que as funções obrigam ou o indivíduo que as representa?
A discussão sobre este binómio pode ser concentrada sobre outros binómios, por exemplo:
- Vida e Morte;
- Humano e Divino;
- Terreno e Espiritual.
E tomando o aspecto de Humor, Terror, Mentira, Ciúme, Amor, inveja, desgosto, etc., etc..
Alguém me perguntava se havia algum truque infalível para não mentir.
Não há truques infalíveis, foi a minha resposta. E dou o seguinte conselho:
- Não saia para encontrar mas para se divertir e passar umas boas horas, porque, sem que esteja à espera a “Verdade Encantada” vai surgir. Ou então,se não sair e um imbecil tiver o azar de lhe bater à porta, chegará a sua sorte ou azar em forma de corrente de ar…
Neste caso o “truque” consiste em fechar ou deixar a porta aberta.

E vá de férias dizendo que foi mas não indo. Faça como eu…
e BOAS FÉRIAS

domingo, 14 de agosto de 2011


PROMESSA
Um arranjo de Alfredo Mingau
Para esta história, que não é ficção porque tudo o que aqui escrevo é verídico, apelidámos o principal executante com o nome fictício de “Alfredo”, sendo mera coincidência a semelhança na vida real com qualquer Alfredo. O executante não me autorizou a publicação do seu verdadeiro nome.

Costeleta dos anos quarenta, o “Alfredo” não se podia considerar um bom aluno da Escola Tomás Cabreira da Rua do Município.

A trapeira ou a bola de “catchu”, daquelas que saíam nas rifas dos rebuçados, o peão, o belindre e outras brincadeiras para a idade, não lhe davam tempo para estudar. Não se considerava "burro". Tinha “preguiça” em estudar os manuais ou os apontamentos feitos nas aulas. As notas dos períodos oscilavam entre o 9 e o 10. O “calcanhar de Aquiles” do “Alfredo” era a disciplina de Matemática. Teve 10 no 1º período e desceu para 8 no 2º.

Naúltima aula do 3º período, a terminar o ano lectivo, o professor da disciplina de Matemática, não identificado, chamou vários alunos pelos nomes, disse-lhes que eram os melhores e que tinham toda a possibilidade de dispensarem à prova oral. Era necessário um 14 na escrita. Mandou-os sair e desejou-lhes felicidades. Em seguida chamou um segundo grupo, dizendo-lhes que iriam a exame, que estudassem e mandou-os sair.

Apenas restava na sala um único aluno. O "Alfredo".

-Tenho muita pena senhor "Alfredo", a nota que tenho para lhe dar é um 6.

O“Alfredo”, muito sério, olhou de frente para o professor e falou:

- Gostava de ir a exame “Sô Tor”!

O professor deu um sorriso e respondeu:

- Com o que o senhor sabe de matemática nem um 6 apanhava.

“Alfredo" põe-se de pé e com voz firme disse:

-“Sô Tor”, se me levar a exame eu faço aqui a promessa de dispensar à prova oral.

O professor ouviu, ficou sério, deu a volta à secretária, sentou-se, fixou o “Alfredo”, abanou a cabeça, recostou-se na cadeira com ar pensativo, sem deixar de olhar para o “Alfredo”

- Eu dispenso à prova oral, repetiu o “Alfredo”.

- Você deixa-me desconcertado com a convicção da sua afirmação. Vou-lhe fazer a vontade. Vai a exame disse o professor.

- Obrigado “Sô Tor” exclamou o “Alfredo” e saiu da sala.

Descendo a rua do Município o “Alfredo” sentia-se nervoso, puxou de um cigarro definitivo e fumou para acalmar. “Como é que eu me vou safar desta?” pensou.

Os dias seguintes foram um calvário para o “Alfredo” agarrado ao livro de matemática e aos cadernos de exercícios práticos.

A mãe andava admirada com o estudo do "Alfredo" e obrigava o filho a ir para a cama às duas e três da madrugada para descansar e dormir.

Mas as coisas não corriam bem, aquelas fórmulas da geometria não se encaixavam no cérebro. “Merda!” bradava o “Alfredo”, "Já falta pouco tempo para o exame e o resultado está complicado".

Foi falar com o amigo Nunes que andava na Indústria e era um bom aluno a matemática. E contou-lhe o que se passava, dizendo que não tinha posses para pagar a um explicador e pedia-lhe para lhe dar explicações de matemática. O Nunes riu-se e concordou em dar-lhe uma ajuda. E os restantes dias até ao exame o “Alfredo” recebeu a ajuda do seu amigo Nunes.

Mas as fórmulas da geometria não queriam nada com o “Alfredo”. E no dia "D" fez uma pequena cábula com as fórmulas, enrolou e meteu debaixo do anel. E foi para o exame. A sala era aquela sala grande, na Indústria, à entrada do largo da Sé junto ao Seminário. Para descontrair e acalmar os nervos o Alfredo fumou o cigarrinho definitivos para acalmar. E entrou quando foi chamado. O professor colocou o enunciado sobre as carteiras e deu ordem para começarem o exame. Alfredo leu o enunciado e sentiu uma grande alegria ao verificar que todo o conteúdo do enunciado estava dentro dos seus conhecimentos. Agarrou na cábula, enrolou numa bola e, em jeito de carolo, lançou-a para cima de um armário que se encontrava do seu lado esquerdo. Não precisava dela, a memória trabalhou. E entregou o ponto de exame antes do tempo terminar, sobo olhar admirado do professor.

Eno dia em que a pauta com as classificações foi colocada na vitrina, lá estavao “Alfredo” com a curiosidade e o nervosismo. E leu:

Àfrente do seu nome a classificação de 14 valores, seguido de “dispensado àprova oral”. E reparou que os colegas que o professor esperava dispensassem, iam todos à oral.

-Parabéns senhor “Alfredo”

Voltou-se, na sua frente o professor estendia a mão e repetia “parabéns senhor “Alfredo” o senhor cumpriu”.

-As promessas são para cumprir "Sô Tor", obrigado.

Termino esta história dizendo que ao Costeleta "Alfredo" lhe foi passado o respectivo Diploma de Final de Curso, no ano da graça de 1946.



Bom dia a todos.
Sem excepção alguma.

Ora aqui está um caso em que um belo texto, é comentado incondicionalmente por gregos e por troianos.
Parabéns a Lina, que conheço de quando o Largo da Palmeira ainda o era, e a dita que lhe dava o nome ainda nao tinha sido comida pelo escaravelho.
Quanto a guerrinha de alecrim e magerona à volta do direito a identificação do comentador, parece me um desperdicio de energias que (por mim falo) nos vão faltando.
Então não estamos ja todos identificados?
JBS«João Brito de Sousa
LA»leitor anónimo
JEM»José Elias Moreno
Anónimo»anónimo
Roger » Rogéio Coelho c os meus respeitosos cumprimentos e votos de muita paciência para nos aturar.

Desculpem, mas estou a escrever num teclado para arabes, e não sei como consegui chegar aqui, nem se me fiz entender.

Com apreço

JEM
jose elias moreno

Dakar 14.Agosto.2011


História de uma garrafa de Medronho
Romualdo Cavaco

O texto de Lina Vedes sobre Faro sugeriu-me o artigo seguinte:

Dois trabalhadores, cunhados, Paulo de Penafiel e Fabrício de Alvor, após a refeição costumam tomar sempre digestivo.
O primeiro aprecia bagaço enquanto que o segundo vai pelo medronho. Ambos defendem as suas damas.
Para o algarvio, um bom bagaço é inferior a um mau medronho. Para o duriense é o inverso.
Falam das respectivas formas de fabrico, bagaço/medronho, desde a origem até à destila, parecendo bons conhecedores do ramo além de apreciadores do seu produto final.
Em Monchique diz-se que se trata de “Diamante em estado líquido” “ouro em saco de plástico” “Motivo de orgulho nacional – 36º. entre 1000 candidatos, (in jornal local), para além de, segundo dizem estimular a digestão, melhorar a visão, ruborizar a face, dar força aos fracos, alegria aos tristes, riqueza aos pobres, aumentar o PIB, etc. Com três bagas de zimbro em cada garrafa, endireitam todas as curvas de Monchique.

Como a conversa é no intervalo do serviço, eu, por vezes, até colaboro no dialogo.
Há dias, após o almoço perguntei ao Fabrício em que ano tinha nascido.
Disse-me: 1987.
Vou oferecer-te um medronho com a tua idade.
Pode lá ser??!! – Pode, respondi-lhe.
A rolha da garrafa, levemente trabalhada, estava intacta e é sempre substituída por uma nova até à próxima utilização.
A garrafa tem o nome do produtor e ano de fabrico. Este é de Monchique. Procedia de uma pipa (sempre cheia devido à volatilização), cujo diâmetro era maior que a largura do portão (havia sido construída manualmente dentro de casa).
O Fabrício apreciando o ambarino néctar não se continha em elogio.
Dizia-lhe o Paulo: - Olha que ainda não provaste o medronho que está no Moinho (referindo-se ao medronho de Sta.Catarina, do Alberto Rocha). – Como??!! – perguntou a dona de casa – intrigada – ao que lhe esclarecemos que tinha sido oferta de cortesia do nosso amigo e colega.
O Paulo não apreciou a nossa bebida e preferiu a sua que também cá temos (pomada especial de Marco de Canavezes).
Saíram os dois cunhados para refrescar, tendo o Fabrício regressado apressadamente à procura da garrafa de Medronho 1987 que tinha deixado sobre a mesa. Só que..., desilusão ... a garrafa já tinha novo selo de cortiça trabalhada ... e... lacrada só seria aberta em próxima sessão.
E... assim vamos mantendo duas ou três garrafitas do sec.passado.
Se alguém tiver dúvidas mande e-mail que eu confirmo. O produto pode esgotar antes de terminar o prazo do folheto.
Um abraço.
Romualdo.

sábado, 13 de agosto de 2011


Morte na Federação Galáctica

O homem povoava já todos os planetas da Galáxia Teca. Conseguira produzir alimentos em vários dos planetas que a compunham e achara água, tudo quase suficiente para as necessidades da população, de mais de cem biliões de pessoas, que neles viviam. Os transportes ultra rápidos, entretanto desenvolvidos, levavam céleremente, dos planetas mais ricos para os mais pobres, muito do que estes necessitavam.
Na grande pista do aeroporto da cidade de Valboim, capital do Planeta Lírio, encontrava-se pronto para partir, um bólide brilhante de oito lugares, com a tripulação incluída. Neste caso tomaria o comando da nave, não o seu comandante habitual, mas Oriega, o governador do Planeta, que além de brilhante cientista, era um exímio piloto. Oriega tinha 44 anos, e, combatera outrora em várias guerras que se haviam travado, contra outros planetas da Galáxia, que se haviam revoltado, dentro da Federação. Agora a paz reinava em toda a Galázia. Ele era um héroi nacional. Médico, investigador, descobrira vacinas e medicamentos, contra doenças até então incuráveis, que eram prescritos em toda a Faderação.
Oriega chegou ao aeroporto, acompanhado da mulher, de duas filhas menores e do seu vice, o general Stark. Eram três da manhã. À uma da manhã, haviam recebido uma comunicação, do Grande Conselho da Galáxia, que estava sediado na cidade de Oca, capital do Planeta Bica, e, onde estava igualmente sediado o governo da Galáxia, informando que falecera Simprónio,o presidente da mesma, e que haveria eleição para presidente e vice presidente (cada vez que havia uma eleição para presidente deveria ser eleito também0 o vice presidente), cinco dias depois de terem tido lugar as cerimónias fúnebres, que duravam quatro dias
Havia mais de dois anos que quase todos os planetas da galáxia, tinham sido atingidos, por epidemias, de causas em parte desconhecidas, que tinham morto muitos milhões de pessoas. Acrescendo a isso, e, também por causa disso, lavrava em toda a galáxia, uma crise imensa, com desemprego gigante e uma penúria de recursos, que atingia mais de um quinto de toda a população. Nos últimos meses equipas dos melhores cientistas de toda a Federação, haviam descoberto medicamentos, que estavam a travar a mortandade. Simprónio falecera precisamente nessa manhã, vítima de contágio, de uma das inúmeras doenças epidémicas que varriam a Federação.
A nave tripulada por Oriega, descolou da pista principal do aeroporto de Valboim, de mais de trinta quilómetros de comprimento. Estavam providos de tudo o necessário para a viagem. A cidade de Oca ficava a poucas horas de viagem, se utilizassem a fantástica velocidade máxima da nave. Oriega sabia o que o esperava. Com ele outros governadores, de outros planetas estariam também a fazer a viagem, para a capital da Federação. Só podia concorrer a presidente ou vice presidente, quem fosse governador ou governadora de um planeta. A eleição não era através de eleições gerais. Quem escolhia o(a) presidente e o(a) vice presidente da Federação era o Grande Conselho. Este é que era escolhido através de eleições gerais., levadas a cabo no mesmo dia, em todos os planetas da Federação. O Grande Conselho era composto por homens e mulheres impolutos de todas as profissões. Tinha cinquenta mil membros.
Cada concorrente à presidência ou à vice presidência, teria de prestar doze provas, para provar as suas capacidades, e, demonstrar que era digno de estar à frente dos destinos da Federação Galáctica..Essas provas iam desde provas físicas, até provas baseadas n a experiência da governação, no bom senso, no desempenho perante um perigo súbito, uma calamidade, uma guerra simulada. Cada prova valia dois pontos. Era o Grande Conselho que propunha e classificava as provas, podendo porém delegar esta última competência. As provas eram iguais para cada candidato à presidência ou à vice presidência, ficando cada um completamente incomunicável de qualquer dos outros, no dia da resolução das provas, só comunicando com o Júri, em quem o Grande Conselho delegasse poderes para classificar o desempenho dos concorrentes. O Júri era o mesmo para todos os concorrentes. Ficava na presidência o candidato, que fosse considerado mais apto, que tivesse maior pontuação, e na vice presidência o que ficasse em segundo lugar. No entanto seria eliminado aquele que tivesse chumbado, nas provas de política externa e em defesa da Federação.
Os testes tinham lugar na base central da força aérea da Federação, da cidade de Oca, uma vez que uma das doze provas, consistia também em pilotar uma nave de guerra das mais potentes e sofisticadas da Federação.
A nave pilotada por Oriega chegou à hora prevista a Oca. Era quase meio dia. A cidade, de mais de duzentos milhões de habitantes, encontrava-se com pouca gente nas ruas e nos estabelecimentos, pois a maior parte das pessoas, que trabalhavam no comércio, nas fábricas, na investigação, no turismo, nos bancos, serviços, artes, etc., para fugir às condições adversas do dia (em geral temperaturas muito altas), trabalhava de noite e descansava de dia.
Quando chegaram Oriega e os companheiros, vinham um pouco estafados da viagem, e, desejosos de comer uma refeição feita na hora. Assim foram rapidamente ao restaurante “O Cavalo Malhado”, que Oriega sempre visitava, quando tinha que se deslocar a Oca. Depois da refeição e de deixar a mulher e as filhas na Hospedaria dos Governadores, foi apresentar cumprimentos à Assembleia do Grande Conselho, na pessoa de Jovial, o membro interino que substituía o falecido presidente e receber dele a credencial, que o habilitava a concorrer à presidência ou à vice presidência. Já lá se encontravam governadores e governadoras de outros planetas. Todos conhecidos, pois de três em três meses, todos se reuniam ora na sede de um planeta ora n sede de um outro, para deliberar e resolver os problemas mais delicados da Federação.
Nos quatro dias seguintes teve lugar o funeral de Simprónio. Foram cerimónias simples, em virtude do estado de crise, da Federação. Sobressaiu um grande desfile militar, em que foram mostradas as mais modernas e terríveis armas da Federação. Além disso apenas foi feito um ligeiro panegírico de Simprónio, que se destinguira no seu mandato, pelo seu bom senso, honestidade, imparcialidade e humanismo com que tratara todos os povos da Federação.
No outro dia tiveram lugar as provas. Provas muito difíceis. Na gigantesca sala da Federação, onde habitualmente reunia o Grande Conselho, Jovial, depois de informado pelo grande Júri, e, depois do Grande Conselho os ter ratificado, anunciou os resultados. Nenhum candidato obtivera a pontuação máxima, informou. E, continuou: Broma, o governador de Xisto, fez provas brilhantes. Obteve vinte e dois pontos e meio. Ouvido isto, ouviu-se uma grande ovação, em toda a imensa sala. Oriega aplaudiu também calorosamente. Broma era seu amigo pessoal, e, ele sabia que broma era um sábio e uma pessoa excepcional. Iria dar-lhe um abraço de parabéns assim que acabasse a cerimónia, assim como lhe diria, que estaria sempre disponível para colaborar, em tudo quanto fosse necessário a bem da Federação.
Mas o assunto não estava encerrado. Jovial pediu silêncio, e, com voz emocionada continuou. Clara, governadora de Miriam obteve vinte e três pontos. A estupefacção não foi muita. Uma ovação ainda mais estrondosa que a primeira, ecoou, levando minutos até se extinguir. Pensava-se terem sido encontrados os vencedores-Broma e Clara. Clara era conhecida em toda a Galáxia. Engenheira aeronáutica, leccionava em várias universidades e fora nomeada comandante chefe de todas as forças armadas da Federação.Oriega conhecia-a bem. Servira sob as suas ordens, na última guerra da Federação, contra os rebeldes dos Planetas Micos e Lavos. Era uma mulher de quarenta anos, muito elegante e bela, perita em artes marciais, casada com um escritor, mãe de oito filhos,e, que fazia uns cozinhados de fazer crescer água na boca (como comprovara várias vezes em que fora convidado com a família, para a casa dela, pois eram amigos havia muitos anos). Mas, Jovial, pediu uma vez mais silêncio, e disse com voz forte ao micofone. Oriega, o Governador de Lírio, obteve a maior pontuação de todos, totalizando vinte e três pontos e meio. Saudemos o novo presidente e a nova vice presidente da Federação –os Governadores Oriega e Clara. Em meu nome e em nome do Grande Conselho damos vos os parabens desejando-vos uma governação clarividente e sábia. Ouviu-se então um enorme bruh-ah-ah, com todos de pé, num aplauso imenso, que parecia não ter fim. Jovial em representação do Grande Conselho deu ali mesmo e na hora, posse aos novos presidente e vice presidente da Federação.
Falou então Oriega que disse: Em meu nome e no da vice presidente agradecemos os vossos aplausos e a nossa escolha.Fomos eleitos para servir. É uma honra muito grande.Faremos tudo para corresponder à grandeza da missão; a Federaçaõ atravessa uma grande crise; esperamos a ajuda de todos para a ultrapassar; agora festejamos;daqui a algumas horas é dia de trabalho; preparemo-nos para isso.
A Galáxia prosperou.Venceu a crise..Oriega e Clara governaram com isenção e justiça e quando anos mais tarde faleceram, ao despenhar-se o avião em que seguiam, foi determinado pelos novos governantes, que na capital da Federação, Oca, na praça principal da cidade ( de mais de quatrocentos hectares de área), fosse elevada uma escultura em bronze, em honra dos falecidos recordando-os assim “ Homenagem da Federação Galáctica, aos falecidos presidente e vice presidente Oriega e Clara, que na sua governação sempre cumpriram os seus deveres”.

Manuel Inocêncio da Costa

sexta-feira, 12 de agosto de 2011


EDUCAR O VER
Por João Brito Sousa

Visitar a cidade de Faro, é, num certo sentido, a mesma coisa, salvo as devidas proporções, que visitar um museu. Os Farenses são, digamos assim, os guardas do museu, porque conhecem como as suas mãos a sua própria cidade. E nós, que acabamos de chegar, somos os visitantes ou turistas. É nesta perspectiva, que o titulo desta crónica talvez tenha cabimento, porquanto, é preciso saber olhar, saber ler o movimento da cidade, saber escutá-la, saber dizer bom dia, com um sorriso se possível. É nesta preparação que se encaixa a expressão “educar o ver”, porque, penso já ter acontecido a todos, passar por uma rua cem vezes e só à centésima vez repararmos numa argola que está na parede, num cata-vento que está lá em cima, numa batente que está numa porta, enfim tanta coisa que não vimos ou que não tínhamos visto ainda. Um turista, disse ao pé de mim, numa cidade que não Faro, a seguinte frase:”Aqui há passado”. Olhou com o ver educado. É assim, quem se interessa pelas coisas… com significado. Para as cidades, o passado é a sua riqueza, enquanto para o homem, o passado já foi, o que interessa é o agora. Teixeira de Pascoaes, o poeta de Maranus, disse até: “Tenho Saudades do Futuro”. Como quem diz, vem depressa amanhã.
Faro, melhor a cidade de Faro tem um passado grandioso e rico, o orgulho farense está nele Ver a cidade de Faro, ou olhar para ela, é sentarmo-nos num banco da avenida ou à mesa de um café e apreciarmos o esforço que a Câmara Municipal tem feito para a trazer asseada, é observar os monumentos históricos nos seus contornos arquitectónicos, é saber tirar partido duma avenida larga que não tem a assinatura do Marquês de Pombal, é recordar a Casa Verde na rua de Santo António, os cafés em frente, Aliança Marcelino e Atlântico em todo o seu esplendor. Para além deste património cultural imóvel, há as pessoas que têm ou tiveram, uma ligação apertada à cidade.
Alguns deles não educaram o ver e perderam por essa via. Outros , sim

jbritosousa@sapo.pt

quinta-feira, 11 de agosto de 2011


NÃO HÁ COSTELETAS MAUS

Um arranjo de Alfredo Mingau

A chuva que caía há dias parou finalmente antes do meio dia daquele Sábado. Um suspiro de alívio percorreu a turma toda. Os rapazes sabiam agora que o jogo de futebol entre os Costeletas e os Bifes, há tanto ansiosamente esperado, poderia ter lugar e já não seria cancelado por causa do mau tempo.
— Bom, às três horas no campo de jogos de S. Luís, mas em ponto! diz Alfredo para Maurício, ao irem juntos para casa no fim das aulas.
Maurício abana acabeça e murmura algo de incompreensível de cada vez que Alfredo dá pontapés nas pedras da rua para ensaiar golos. Tenta acertar num tronco, numa pedra, ou até numa determinada folha de um ramo. Maurício já não suporta esta mania. É que Alfredo tem tudo menos boa pontaria.
As suas brincadeiras com as pedras já tinham causado aborrecimentos que chegassem. Alfredo achava que era precisamente por isso que devia treinar mais. Como se dar pontapés a pedras fosse de uma importância vital!
Ainda Maurício não tinha acabado de pensar e já se ouvia o barulho de vidros partidos: a última pedra de Alfredo tinha voado direitinho à janela da entrada do Sr. Gilberto. Maurício ficou a olhá-la petrificado.
— O melhor agora é fugir! Ouviu Maurício sibilar. E, com um grande salto, o autor da asneira desapareceu a correr pela rua abaixo.
Maurício ainda estava a olhá-lo, confuso, quando sentiu que alguém o agarrava pela gola e o puxava com força. À sua frente, furioso e ofegante, estava o senhor Gilberto.
— Até que enfim que te apanhei, rapazinho! Espera lá, que te vou levar já ao teu pai, e vais ver o que te vai acontecer!
Às três horas em ponto, Alfredo apareceu no Estádio de S. Luís mas, por mais que procurasse Mauricio, não o encontrou.
“Afinal sempre o apanharam”, pensou Alfredo “e, ou assumiu ele a culpa, ou não o deixaram falar. Já é costume. O pai dele, às vezes, é muito severo.”
Alfredo ficou de pé, na tribuna, a olhar para o campo vazio. Combinavam quase sempre encontrar-se uma hora antes, para arranjarem um bom lugar. Mas, de um momento para o outro, Alfredo perdeu o entusiasmo pelo jogo. Pensava no vidro da janela, em Mauricio, e a má consciência atormentava-o. Devagar e de cabeça baixa, abandonou o campo e encaminhou-se, hesitante, para a casa dos pais de Mauricio.
Foi o pai em pessoa que lhe abriu a porta. Irado como estava, nem sequer deixou Alfredo falar, dizendo-lhe asperamente:
— É inútil, rapaz! O Maurício está fechado no quarto, de castigo, a fazer os trabalhos de casa… Ele que te conte tudo na segunda-feira, na escola. Já só faltam dois dias, e voltou para dentro, fechando a porta com força
Alfredo voltou a tocar à campainha insistentemente e, desesperado, acabou por bater à porta com os punhos. Não podia aceitar uma injustiça daquelas. Mas ninguém se mexeu dentro de casa.
Os pensamentos atropelavam-se-lhe na cabeça.
“Muito bem”, pensava ele, “então vou contar-lhe a verdade pelo telefone. E se ele também não me deixa falar pelo telefone?
De repente, Alfredo tem uma ideia e volta a correr para casa. A mãe ainda não tinha regressado do trabalho. Procurou papel de carta e um envelope, escreveu a toda a pressa umas linhas no papel e levou a carta à casa de Maurício, metendo-a na caixa do correio.
Uma meia hora mais tarde, o pai de Maurício, depois de abrir a caixa de correio, abria uma carta, E, admirado, leu:

Caro Sr.Pinto,

Venho, por este meio, provar-lhe que a verdade afinal consegue entrar em sua casa. Fui eu que parti o vidro da janela e vou pagá-lo com a minha próxima semanada.
Espero pela resposta em frente à sua casa.
Com os meus cumprimentos
Alfredo

A resposta que o pai de Maurício mandou a Alfredo pesava quase 40 kg e vinha a rir-se. O pai tinha mandado o filho. Assim que viu o amigo sentado à espera na soleira da porta, disse:
— Alfredo, tu és o maior maluco do mundo! O que tu fizeste… bem, nunca hei-de esquecer.
— Ora, resmungou Alfredo, não fales tanto, senão ainda perdemos também a segunda parte do jogo com os bifes.

AM.-Um Costeleta dos anos 40.

CANTINHO DOS MARAFADOS

Numa casa no Alentejo, diz a mãe para o filho:
- Antóino, anda cá!
- Na vou.
- Á queres tourada, atão vou já chamar o teu pai!

AGabadinho enviou
Rogério colocou.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011



Se a ordem do dia é a poesia, e porque não?
DEMÊNCIA

Com sua forma forte de me olhar nos olhos.
Me deixa doido, louco, sonhador.
Mexe e me embriaga com o seu perfume.
Seu beijo me enlouqueçe.
Me faz devaneador.
Voçê tem o segredo para me fazer feliz.
E voçê nem percebe.
Sabe me desfazer como ninguém.
Voçê é um tormento.
Seu perfume me deixa desvairado.
Uma forma sincera.
Beijo, abraços meu doce mistério.

AM.
(Demência inédita aqui no blog?-Agosto2011)

Do Poeta Costeleta Orlando da Silva
Recebemos estes dois poemas:
Sonho feliz

Navego num barco fagueiro,
De pequenas e brancas velas:
Ele afaga as ondas belas,
E elas, são seu timoneiro.

As águas são avenidas…
Tão macias e ondulantes;
Percorro os mares distantes,
Como gaivotas perdidas.

Sem rumo vou navegando,
Por esses mares de sonho;
Às correntes não me oponho,
Nem sei os dias de quando…

Vou chegar a qualquer cais
Ou a porto desconhecido:
Sou marinheiro destemido,
Comandante, e mestre arrais.

Só vejo nuvens e águas,
Sozinho, nesta distância:
De sonhos tenho abundância,
Não oiço notícias de mágoas.

Tenho ilusões, que só tenho,
Quando eu navego assim:
Parto – não sei quando venho…
Chego!... fico com pena de mim.


11/9/2010
Orlando
(Inédito)
Sentir é preciso


Tu poeta, nunca serás um grão de areia
Perdido na duna humana, imensa…
Onde cantas versos, que à luz da tua ideia,
Iluminam, mesmo na escuridão intensa.

Só tu tens o sentido de os cantar,
Porque sentes e entendes o sentimento
Do mar humano, – e do outro mar,
Que batem num contínuo movimento.

Ao abrires as janelas do sonho, essas…
Trazem na sua força o desenho de promessas,
Que passam p’lo tempo, e marcam jornada.

Se as ondas do teu mar rebentam a teus pés,
Tu poeta, eternamente serás, e és,
Um semeador do sentir, uma eterna alvorada.


(Inédito) 7/2010
Orlando


O REGRESSO

Era sabido que ele não tardaria;
voava solitário por outros ares,
mas de certo, mais dia menos dia,
voltaria ao convívio dos seus pares.

Tal como um pombo correio apaixonado,
largado a milhas da namorada;
desceria sobre o ninho em voo picado,
trazendo uma rosa p'ra sua amada.

Trazendo a CARTA A SANDRA, apaixonado:
sempre a amizade, o amor e a paixão.
Sempre o cuidado generoso de amigo.

Por isso te recebemos com agrado:
benvindo, caro amigo João,
que nós... estaremos sempre contigo.

Gde Abraço

JEM

Dk:9.Agosto.2011

terça-feira, 9 de agosto de 2011

CANTINHO DOS MARAFADOS


Algures em pleno alentejo


Dois compadres falam à sombra de um sobreiro:

- Ó compadri, vossemecê casou por amori ou por interessi?
- Ó compadri, sinceramenti, acho que casei por amori porque nã tenho interessi nenhum na mulheri !

Gabadinho enviou
Rogério colocou

SEGREDOS DO ALGARVE
Lina Vedes

A partir de 1947 comecei a frequentar a escola primária da Sé de Faro, situada na parte velha da cidade, na rua Rasquinho.
Todas as tardes, de bata branca, obrigatoriedade escolar, saía de casa perto do Largo da Palmeira carregando a pasta com o lanche, a sebenta, o livro único de leitura, uma caixa de madeira com tampa deslizante onde guardava o lápis de escrever, borracha e caneta de aparo.
Num desses anos de escola primária, a professora D. Maria Pires e suas estagiárias, lançaram a turma na descoberta do Algarve.
Cada uma de nós, individualmente ou em grupo, teria de encontrar motivos para amar não só a nossa cidade, como todo o Algarve.
A proposta de trabalho, inovadora para a época, foi tão bem lançada que de imediato toda a turma vestiu a capa de detective/investigador e partiu à descoberta dos encantos secretos da província algarvia.
Com alguma orientação fomos colocando, aos poucos no devido lugar, as peças do puzzle Algarve.
Todos os trabalhos seriam “passados a limpo” para folhas de cartolina, com letra bem legível e desenhos bem executados e bem pintados.
Fariam parte do nosso “Jornal de parede”.
Nessa tarefa nada foi esquecido.
Descobrimos que desde Sagres a Vila Real de Santo António, desde a serra ao mar, o torrão algarvio era pitoresco e encantador, com os costumes puros da sua gente comunicativa, que fala cantando desconhecendo as asperezas da vida, abençoados pelas dádivas da Natureza.
Como pertença deste paraíso, chamado Algarve, constatámos possuir um clima ameno, um céu azul intenso rutilante de estrelas, um sol fonte de luz e calor, um solo matizado inebriante de aromas, um mar, caldo azul, a espreguiçar-se pelas finas areias douradas ou moldando com os seus embates rochedos da costa.
ALGARVE! Um paraíso!
Ao executar o nosso trabalho fomos tomando consciência que havíamos nascido num local de privilégios e que teríamos, por obrigação, de protegê-lo e engrandecê-lo.
Páginas da história algarvia foram abertas e lidas com entusiasmo, enchendo-nos de orgulho, no desejo de tirar o exemplo deixado pelos antepassados.
Bastou olhar, compreender e deixar-nos enlevar, para encontrarmos um verdadeiro tsunami de encantos, todos eles, bem explorados e bem condimentados pelo povo serrenho e marítimo.
Pelo caminho da nossa pesquisa, fomos registando a alvura do casario com chaminés rendilhadas, açoteias/mirantes verdadeiras eiras para a alfarroba, figo, amêndoa.
Junto à casa o forno, o estábulo, a pocilga, o galinheiro, assim como o tanque e a nora puxada por burros de olhos vendados.
Árvores frutíferas sussurram os seus encantos.
A alfarrobeira com os seus frutos pretos pendentes, a oliveira calosa e paciente, a figueira envergonhada com os ramos virados à terra, a laranjeira a embebedar-nos com o seu intenso aroma ou a espantar-nos com o seu festival de frutos…
Nas propriedades divididas por muros de pedra solta ainda proliferam sobreiros, romãzeiras, nespereiras, marmeleiros, e…amendoeiras… ora viúvas de folhas, ora formando um mar de flores a perder de vista…
Procurámos e encontrámos ao vivo, o algarvio típico, o montanheiro, com o chapéu de feltro preto, a caminho do mercado, num carro puxado por bestas levando os produtos agrícolas para venda.
A mulher ao lado com o xaile, a sombrinha, o lenço, tendo por cima o chapéu de abas largas, trabalhadora de sol a sol, em casa e no campo, virtuosa na confecção de esteiras, capachos, cabazes.
Por natureza comunicativos, alegres e faladores, organizam com alguma regularidade festas, e ao toque do harmónio não falta o corridinho bem pulado ou o “balho” mandado por um mandador.
Não esquecemos no nosso trabalho a costa algarvia, bem recortada, com praias esplêndidas incutindo no marítimo o espírito aventureiro.
O nosso Algarve foi retratado com tanto pormenor e eficácia, que cativou toda a Escola, e até todos os alunos estagiários do Magistério.
Nessa tarefa/prazer foi realçada a beleza da ria, a vida dos pescadores e dos mariscadores, assim como as industrias daí resultantes – conservas, extracção do sal, construção naval.

Passaram 50 anos!
Povos provenientes dos mais variados locais e culturas encantaram-se com o nosso Algarve e muitos instalaram-se na nossa região. Juntaram-se a nós, uma miscelânea de saberes…
Teremos esquecido os nossos conhecimentos populares, os nossos hábitos, os nossos usos, os nossos costumes?
NÃO!
Talvez um pouco à deriva, durante a explosão invasora, mas na actualidade o algarvio voltou a “agarrar” as raízes da sua cultura. Voltou a sentir orgulho na terra que o prende e encanta. Voltou a ter a faculdade de ouvir o choro triste, o lamento da moura encantada, penteando os longos cabelos com um pente de ouro cravejado de diamantes…
Todo o nosso torrão é farto, é terra que prende e encanta e nos leva a tecer um hino de louvor ao ar, ao mar, ao sol, às flores, à vida!
Abrimos os braços aos nossos visitantes, introduzindo-os no seio das nossas vidas e hoje, os que por cá ficaram, são pertença do nosso Algarve e donos dos nossos segredos…
E…somos abençoados, ao poder destapar, cheirar e apreciar uma boa cataplana, um prato de xarém, uma caldeirada fumegante e uma sardinhada, comida num naco de pão…
Adoçando, ainda mais, o encanto das nossas vidas, podemos desembrulhar o d. rodrigo e saborear bolos de figo, de amêndoa moldados e saborosos.
Como remate, um cálice de medronho vindo directamente da serra algarvia…
O PARAÍSO está completo!!!!!!!!!!!!!!!

Lina Vedes – 29 – 07 - 2011

Como não tenho inspiração para escrever,
aqui vai este poema que gostei de ler.
Espero que gostem. Alfredo Mingau:


Passei toda a noite, sem saber dormir, vendo sem espaço a figura dela
E vendo-a sempre de maneiras diferentes do que a encontro a ela.
Faço pensamentos com a recordação do que ela é quando me fala,
E em cada pensamento ela varia de acordo com a sua semelhança.
Amar é pensar.
E eu quase que me esqueço de sentir só de pensar nela.
Não sei bem o que quero, mesmo dela, e eu não penso senão nela.
Tenho uma grande distracção animada.
Quando desejo encontrá-la,
Quase que prefiro não a encontrar,
Para não ter que a deixar depois.
E prefiro pensar dela, porque dela como é tenho qualquer medo.
Não sei bem o que quero, nem quero saber o que quero.
Quero só pensar ela.
Não peço nada a ninguém, nem a ela, senão pensar.

Fernando Pessoa

CARTAS A SANDRA, de Vergílio Ferreira

Cartas a Sandra, é uma compilação de cartas, que Vergílio Ferreira deixou escritas para a esposa e que a filha única e o juiz aposentado Rodrigo Xavier, seu colega de quarto e de tuna em Coimbra, decidiram publicar. O tema central é o amor entre o casal, mas o que VF deixa dito, pode servir para qualquer casal.
Vergílio não foi muito bem aceite pelos homens da literatura do seu tempo mas eu gosto da sua escrita. Á medida que vai escrevendo vai entrando numa construção filosófica da vida, o que levou António Loba Antunes a apelida-lo de “O Sartre de Fontanelas”
Diz VF que tem a impressão que o vocabulário amoroso é restrito, tanto mais restrito, quanto mais intensa é a paixão.
Ora, em minha análise, a paixão é o primeiro embate a enfrentar quando alguém nos atrai e aí, para explicar esse momento, é preciso haver palavras com tal força, suficiente, que saibam traduzir essa intensidade que a atracção provocou em nós.
Todo o livro é saudade duma juventude que já não volta. “Guardaste as cartas que eu te escrevi? perguntou à esposa. Não, rasguei-as, disse ela com um sorriso breve e repreensivo. E porque havia de guardá-las? Gostava de as reler, disse ele.”
São estes pequenos pormenores da literatura que, se não nos fazem felizes não deixam que nos tornemos infelizes, como disse Vargas Llosa.
“Aliás não cheguei bem a entender esse modo exclusivo de seres citadina. Porque na cidade vive-se sempre na rua, mesmo que se esteja em casa.” Sensibilidades diferentes que não impediram o amor.
Trata-se de um pequeno romance, composto essencialmente por dez cartas de amor, O ideal do amor, já sobejamente dissecado em «Para Sempre», é neste romance ainda mais sublimado em cartas escritas por Paulo à sua amada após a sua morte. A catarse de um amor inesgotável, descrito das mais variadas formas, um amor tão forte que todas as palavras não o conseguem circunscrever e onde a dimensão metafísica desempenha um papel apaziguador no desespero obsessivo de Paulo na evocação da memória de Sandra.
“Sandra, a Xana esteve aqui dois dias com o miúdo e foi-se ontem. Desde há uns tempos que ela telefona menos. Não sei se estavas viva quando o companheiro a deixou. Aliás nunca o vimos.”
A literatura de VF é intimista e familiar, colocando a vida real ou a realidade da vida nas suas obras. É um escritor que tinha coisas para contar e tinha sempre presente o romance e a necessidade de o fazer.
Mas, de todo em todo, «Cartas a Sandra» representa um hino ao amor numa toada filosófica que abre ao leitor perspectivas muito interessantes sobre o tema e a muitos outros que com este se relacionam - amizade, ciúme, sexo, etc.
“Mas eu estremeci e amamo-nos longamente no deserto da montanha. E tu aceitaste a minha invasão e vibraste comigo num espasmo de prazer e de susto, não sei bem…”

E assim termina a obra. E eu também por aqui me fico.





PARA TODOS OS COSTELETAS
UM POEMA

VIAJAR
Vai, vai conhecer outras culturas
Mas não fiques lá, traz novidades
Coisas novas; testadas e maduras
Que façam mudar as mentalidades

Um mundo novo, sim é preciso
Mundo com carinhos e sem dores
Mundo onde o amor seja decisivo
Com jardins recheados de flores

Para uma bonita rosa oferecer
À minha namorada com prazer
E juntos a possamos ao céu elevar

E no erguer da rosa vai o nosso amor
E a esperança dum mundo melhor
Que é o que peço tragas ao regressar


João Brito Sousa

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

 

HIPOCRISIA OU VERDADE

Alfredo Mingau

Sempre escutei, de tudo e de qualquer lado, aquela velha história de que homem não presta. Calma…!

Na minha opinião cada um tem o que merece, do tamanho certo, da cor certa e com o jeito certo. Na hora que as mulheres generalizam a classe masculina estão defendendo uma hipótese que não é verdadeira e, de certa forma preconceituosa...

Do mesmo jeito que elas afirmam que somos machistas, elas cometem um engano. Adoro ler o que elas escrevem, penso se serão sinceras e realistas. Existe homem bom sim... e se não conhecem um, deve ser porque não devem merecê-lo. às vezes a oportunidade já lhes bateu na porta e a negaram, NÃO ABRIRAM A PORTA! Abrir os olhos de vez em quando funciona, mais do que meter o pau e generalizar a classe.

Um exemplo clássico foi quando as mulheres decidiram assumir o papel do homem na sociedade... Calma, não vou ser machista. A minha crítica vai além deste breve comentário, a grande questão é que as mulheres deixaram de ser mais sensuais, femininas e acabaram assumindo uma rotulagem não muito conveniente. "Mulher que é mulher é a mulher-macho". Porque? Homens gostam de mulheres que se apresentem bem, que saibam utilizar um perfume de forma exacta, ou mesmo as bijutarias. Não sou fã de mulheres que andam largadas.

Do mesmo jeito, as mulheres já rotulam homens que se apresentam e tomam banho como homossexuais. Onde este mundo vai parar meus amigos? Esta é a grande pergunta deste comentário lançado. Assim como pode existir a falça (sic!) democracia que hoje está na boca de todos aqueles que sabem falar um básico português (não me censurem por não usar a nova ortografia), pode existir a verdadeira hipocrisia. Lá dizia o pai dos burros, que hipocrisia é a "Impostura, fingimento, simulação, falsidade". Mesmo que esteja vinculada a crescimento mental!

Eu sou meio perdido, os pensamentos voam. Mas será por isso que este comentário poderá chamar-se Maluco?


A CULTURA DO SLOW DOWN

EXCELENTE ARTIGO PARA LER COM ATENÇÃO E MEDITAR SOBRE O SEU CONTEÚDO


Há já mais de 20 anos que ingressei na Volvo, empresa sueca bem conhecida.
Trabalhar nesta empresa é uma convivência muito interessante. Qualquer projecto aqui demora dois anos a concretizar-se, mesmo que a ideia seja brilhante e simples.
É uma regra.
Os processos globalizados causam-nos a nós (portugueses, brasileiros, venezuelanos, mexicanos, australianos, asiáticos, etc.) uma ansiedade generalizada na busca de resultados imediatos. Consequentemente, o nosso sentido de urgência não surte efeito dentro dos prazos lentos dos suecos.
Os suecos debatem, debatem, realizam “n” reuniões, ponderações, etc.. Trabalham com um esquema bem mais Slowdown.
O melhor é constatar que, no fim, acaba por dar sempre resultados no tempo deles (suecos) já que conjugando a necessidade amadurecida com a tecnologia apropriada, é muito pouco o que se perde na Suécia.
Resumindo:
1)- A Suécia é do tamanho do Estado de São Paulo (Brasil).
2)- A Suécia tem apenas dois milhões de habitantes.
3)- A sua maior cidade, Estocolmo, tem apenas 500.000 habitantes (compare-se com Paris, Londres, Berlin, Madrid, mesmo Lisboa… ou cidades balneares como Mar del Plata, na Argentina, onde vivem permanentemente 1 milhão de pessoas, ou ainda Rosário com 3 milhões).
4)- Empresas de capital sueco: Volvo, Skandia , Ericsson, Electrolux, ABB, Nokia, Nobel Biocare, Etc, nada mal. Para se ter uma ideia da sua importância basta mencionar que a Volvo fabrica os motores de propulsão para os foguetes da NASA.
Os suecos podem estar enganados, mas são eles que me pagam o salário e devo referir que não conheço nenhum outro povo com uma cultura colectiva igual à deles. Vou contar-vos uma pequena história, para ficarem com uma ideia:
A primeira vez que fui para a Suécia, em 1990, um dos meus colegas suecos ia todas as manhãs buscar-me ao hotel. Estávamos em Setembro já com algum frio e neve.
Chegava-mos cedo à empresa e ele estacionava o carro longe da porta de entrada (são 2000 empregados que vão de carro para a empresa). No primeiro dia não fiz qualquer comentário, nem no segundo, nem no terceiro. Num dos dias seguintes, já com um pouco mais de confiança, uma manhã, perguntei-lhe:
- Você tem aqui lugar fixo para estacionar? Chegamos sempre cedo e com o parque vazio, estacionas sempre longe da porta, num extremo do parque!...
Ele responde-me com simplicidade:
- É que como chegamos cedo temos tempo para andar e quem chega mais tarde se não estiver lugar disponível mais perto já vai entrar atrasado, por isso é melhor para ele encontrar um lugar mais perto da porta!... Não te parece?
Imaginem a minha cara! Esta atitude foi o bastante para que eu revisse todos os meu conceitos anteriores.
Actualmente há um grande movimento na Europa chamado “slow Food”. A “slow Food International Association” cujo símbolo é um caracol, tem a sua sede em Itália ( site na internet é muito interessante). www.slowfood.com
O que o movimento preconiza é que se deve comer e beber com calma, dar tempo para se saborear os alimentos, desfrutar a sua preparação, em família, com amigos, sem pressa e com qualidade.
A ideia é a contraposição ao espírito do Fast Food e o que ele representa como estilo de vida.
Verdadeiramente surpreendente é que este movimento está a servir de base para um outro mais amplo denominado “Slow Europe” como referiu a revista Business Week, numa das suas últimas edições europeias.
Na base de tudo isto está o questionamento da “pressa” e da “loucura” geradas pela globalização, pelo desejo de “ter em quantidade” (nível de vida) em contraponto ao “ter em qualidade”, ( “qualidade de vida” ou “qualidade de ser”).
Segundo a Business Week, os trabalhadores franceses, ainda que trabalhem menos horas (35 por semana) são mais produtivos do que os seus colegas americanos e ingleses. E os alemães que em muitas empresas já implantaram as 28,8 horas semanais, viram a produtividade aumentar uns apreciáveis 20% .
A denominada “slow attitude” está a chamar a atenção dos próprios americanos, escravos do “fast” (rápido) e do “do it now” (faça já). Portanto esta “atitude sem pressa” não significa fazer menos nem ter menor produtividade. Significa sim, trabalhar e fazer as coisas com “mais qualidade” e “mais produtividade”, com perfeição, com atenção aos detalhes e com menos stress.
Significa retornar aos valores da família, dos amigos, do tempo livre, do prazer do belo e da vida em pequenas comunidades.
Do “aqui” presente e concreto, em contraposição ao “mundial” indefinido, anónimo.
Significa retomar os valores essenciais do ser humano, dos pequenos prazeres do quotidiano, da simplicidade de viver e conviver e até da religião e da fé.
Significa um ambiente de trabalho menos coercivo, mais alegre, mais leve e como tal mais produtivo, onde os seres humanos realizam com prazer o que melhor sabem fazer.
É saudável reflectir sobre tudo isto. Será que os antigos provérbios: “devagar se vai ao longe” e “a pressa é inimiga da perfeição” merecem novamente a nossa atenção, nestes tempo de loucura desenfreada?
Não seria útil e desejável que as empresas da nossa comunidade, cidade, estado ou país, começassem já a desenvolver programas sérios de qualidade sem pressa, para aumentarem a produtividade e a qualidade dos produtos e serviços sem necessariamente se perder a “qualidade dos ser” ?
No filme “Perfume de mulher” há uma cena inesquecível na qual o cego (interpretado por Al Pacino) convida uma jovem para dançar e ela responde: “não posso, o meu noivo deve estar a chegar” diz-lhe então cego: “ num momento vive-se uma vida” e leva-a a dançar um tango. É o melhor momento do filme, esta cena que demora apenas, dois ou três minutos.
Muitos vivem a correr atrás do tempo, mas só o alcançam quando morrem, quer seja de enfarte ou num acidente na auto estrada por correrem para chegar a tempo.
Ou outros que, tão ansiosos para viverem o futuro, esquecem-se de viver o presente, que é o único tempo que realmente existe.
O tempo é o mesmo para todos, ninguém tem nem mais nem menos do que 24 horas por dia. A diferença está no que cada um faz do seu tempo, temos que saber aproveitar cada momento, porque segundo disse John Lennon, a vida é aquilo que acontece enquanto planeamos o futuro.

Enviado por: António Palmeiro

O presente texto é uma descrição feita por um português a trabalhar na Suécia e cujo nome desconheço. Recebi através de amigos que também desconhecem o nome do autor.
Quero no entanto referir que, numa opinião muito pessoal, acho que o nosso patrício vive noutro mundo, felizmente para ele, por aqui, no tal cantinho, precisamos de 100 anos, para chegar lá.
António Viegas Palmeiro

Clik sobre a foto para aumentar

domingo, 7 de agosto de 2011


DEIXA QUE ESSA EU CONTO

Alfredo Mingau

Um dia destes encontrava-me meio enfadado na frente do computador. A tela em branco e um branco na mente. Não me vinha uma ideiazinha sequer para começar uma nova crónica, mesmo daquelas sem pés nem cabeça. Por mais que me esforçasse, acabava achando que não iria conseguir escrever nada. Achei que fosse porque vivia estes últimos tempos escrevendo crónicas sem ninguém para compartilhá-las ou comentá-las era, realmente, uma coisa um pouco triste não ter ninguém para compartilhar uma ideia, por mais maluca que seja dá sempre inspiração.
“Afinal, existem tantas crónicas pelo avesso sendo publicadas hoje em dia que, uma a mais, ou a menos, não faria diferença!”. Pensei sem nada escrever porque não estava nem um pouco inspirado. Se não estava inspirado, não tinha nada para escrever; se começasse a escrever sem inspiração, algumas linhas após o início, já não teria mais nada para contar, ou então, ficaria maçante e chato, sem pés nem cabeça, meio pelo avesso. Mas não era dessa forma que eu costumava escrever. Meio pelo avesso e sem pés nem cabeça?. deixa prá lá!. Vá lá entender estes escritores malucos!.
Pensei em todas essas possibilidades. não é fácil escrever quando a gente não está inspirado, “principalmente histórias atrapalhadas para confundir o leitor Costeleta!”. E que até alguns gostam, mas não comentam.
Quem inventa regras é inventor e não escritor. Como é que um crítico pode achar-se o tal com suas opiniões se, não foi ele quem sentiu a história quando ela estava sendo concebida? Aí é que está a discrepância toda! O crítico da história é o próprio escritor. Além da história, é claro. Mesmo porque, o escritor vive discutindo com sua própria história. e a história discutindo com o escritor. Isto não quer dizer que todos sejam da mesma opinião. E aqui abro um parêntesis para afirmar que gosto de ler os comentários que me fazem, principalmente do Mestre escritor Costeleta João Brito de Sousa com a sua critica saudável mas que, ultimamente, me tem esquecido.
“A liberdade de expressão existe para que, cada um possa expor seu ponto de vista”.
Dentro do meu subconsciente ouvi uma voz a interpelar-me:
“Deixa que essa eu conto, eu sou a história”.
Achei que a voz estava tomando o meu lugar e impondo.
Como me encontrava sem inspiração deixei que a “história” contasse a sua própria história, afinal ela tinha seus direitos
E a “história” começou com o seu “blablablá” e coisa e tal,t oda atrapalhada e perdida; começou enrolando; foi chegando na metade ainda mais enrolada. Fiquei desconfiado que a “história” não sabia o que fazer, e o que contar, ia chegar ao final daquele jeito: contando sem contar coisa alguma, mais enrolada que novelo de lã. Então disse-lhe:
“tas querendo me enganar?!”.
E a “história” nem se calou, continuou no seu “blablablá”que parecia não ter fim, enquanto eu começava a perder a paciência com tanta lengalenga.
Então, além de enfadado, aqui o Alfredo passou a ficar impaciente com aquela história mais estranha do que as que ele costuma escrever. “Para contar uma coisa dessas, mesmo sem inspiração, eu mesmo contava”. Pensei e disse, cortando o blablabla da “história”:
“basta!”, ordenei peremptório.
A “história” deu um sorriso amarelo, sem graça e foi saindo de mansinho, sem pedir licença, da mesma forma que chegara, desapareceu.
“Mas que droga! nem uma ideia maluca me ocorre neste momento!” Pensei.
Foi por isso que, naquele dia, nada escrevi. Estava cansado de histórias malucas que, na falta de inspiração, apareciam-me sem pés nem cabeça.
“Histórias sem pés nem cabeça, conto eu, bolas!”, disse desligando ocomputador, guardando o bloque-notas e canetas e desistindo das histórias. Achara por bem não insistir, já que, não tinha a mínima ideia do que poderia ocorrer depois de ouvir novamente aquela voz pedindo:
“Deixa que essa eu conto!”.

Para contar até quando? - AM

2011 –Para onde caminhamos?

O que se lobriga é um tão grande negrume,
Que nos faz medo, que nos faz mesmo vacilar;
Que faremos para manter ainda aceso o lume?
Por este malfadado andar, onde iremos parar?


Tudo o que vemos e ouvimos faz-nos pensar,
Como toda a terra por uma nuvem está cercada,
Que cada vez mais e mais se está a adensar,
Para a dissipar sentimos não poder fazer nada!


Ainda ontem o irmão dava a mão ao irmão,
Ajudava-o, era seu amigo, sem nada dele esperar,
Hoje trata-se o outro como se fosse um vilão,
Que há que espremer, para dele tudo se tirar!


Era muito mais parco ontem o ser humano,
Mas nem por isso parecia menos contente.
Será feliz hoje que o exploram até ao tutano,
Que come, e vive gordo e sumptuosamente?


Hoje anda-se em frente, rápidos, com pressa,
Há muito pouco tempo para ajudar alguém;
Negócios, dinheiro, é só o que nos interessa,
O outro é um número , um Zé ninguém!


Mais que nunca, gato por lebre vendemos,
O embuste, o supérfluo consumo promovemos;
É isso que nós descontraídos e sonsamente fazemos;
Sem remorso! Será que nos arrependemos?


Para quê trezentas marcas de creme de barbear?
E três mil marcas de vários perfumes,
Onde é que tudo isto e mais aquilo nos fará chegar?
Melhor seria que a tal fossemos imunes!


Os países estão à beira dum desastre colossal,
Não há motorista capaz de travar a composição,
Que caminha para um descarrilamento monumental,
Independentemente de tal querermos ou não!


Ao longo dos milénios isto tem-se repetido,
Ao alcatruzes ora vêm cheios, ora vazios;
Alterar o rumo faria todo o sentido!
Mas, para que lado corre a água dos rios?


E contudo mesmo assim temos de viver,
De lutar, perseverar, sem nos deixarmos abater!
Mesmo assim viveremos porque tem de ser!
Mesmo assim esse será o nosso querer!

Manuel Inocêncio da Costa

sexta-feira, 5 de agosto de 2011


ERA... NAQUELE TEMPO

Alfredo Mingau


"... Era um tempo em que tudo se fazia tremendamente simples.
Os sorrisos rasgados eram consequências de situações de amizade.
Liberdade era sinónimo de poder brincar e ficar sujo, sem tempo contado.
As maiores frustrações decorriam de mau desempenho de fazer.
As grandes dores eram causadas por ferimentos no corpo.
A tristeza era sempre passageira, não ousava vir para ficar.
Os melhores amigos eram companheiros de todas as horas.
Os pais, super-heróis.
Houve um tempo em que tudo era tremendamente simples.
Sábado à noite, no Verão, era apenas a oportunidade de brincar com os amigos no Jardim Manuel Bívar.
Sucesso era passar de ano sem chumbar para repetir
Os desentendimentos eram resolvidos pela dinâmica porrada, pedido de desculpas dos pais, e puchão de orelhas.
Alegria acima de todas as expectativas era o primeiro dia de férias de verão.
Competitividade era somente o que tornava aqueles jogos de “hóquei” na nossa rua, em que as balizas eram as sargetas
Amor era um sentimento puro, que não causava dor, geralmente platónico
A noite de natal era mágica, com a alegria de manhã, ao encontrar na chaminé um par de peúgas e uma tablete de chocolate; o Pai Natal era um grande camarada. Os ovos de Páscoa causavam euforia.
Programa de férias era assistir ao Sábado no cinema Santo António, à matinée, aos filmes do Abot e Costelo.
Naquele tempo tudo era tremendamente simples.
E tem dias que o fantasma doce dessa simplicidade lança olhares espantados, como que perguntando “quando foi que a vida ficou tão complicada...?"


E agora “moces”, malta jovem, “neste tempo” para complicar as férias as aulas começam ou recomeçam já no dia 8 de Setembro.


Guerra Junqueiro - Muito Actual !

"Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio,
fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora,
aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias,
sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice,
pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas;
um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai;
um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom,
e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que
um lampejo misterioso da alma nacional,
reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta.
Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula,
não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha,
sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima,
descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas,
capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação,
da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro.
Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo;
este criado de quarto do moderador; e este, finalmente,
tornado absoluto pela abdicação unânime do País.
A justiça ao arbítrio da Política,
torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas.
Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções,
incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos,
iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero,
e não se malgando e fundindo, apesar disso,
pela razão que alguém deu no parlamento,
de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar."

Guerra Junqueiro, 1896.

Enviado pelo Maurício

Produto Nacional
Figos e Amêndoas do Algarve

O artigo sob o título acima do Colega Palmeiro publicado em 2011.07.12, fez-me lembrar duas viagens que em tempos fiz à zona de Granada/Gibralter, para visitar um agricultor conhecido. Posteriormente, o Jornal de Monchique também viu figos da Turquia vendidos como lembrança do Algarve. – Não lhes chamava “secos”. Chamava-lhes “pecos”, cujo termo nós conhecemos.
Isto daria para rir, não fosse o estado calamitoso a que fizeram chegar a nossa agricultura.
Para não estar só à janela como muito bem disse o nosso amigo JEM, saí à rua...

---oooOooo---

Por volta de 1968, na descida abrupta de Granada para Motril vi um agricultor apanhar amêndoas em zona tão acidentada que se segurava a uma corda, (algo que aqui também já vira com a apanha de alfarroba, o que, em termos de rendimento não podia contar para as estatísticas).
Mais tarde, cerca de vinte anos após, numa zona próxima, ao pretender visitar um agricultor granadino, encontrando-me numa encruzilhada junto a uma plantação de oliveiras encontrei outro agricultor, com o seu Jeep, perguntei-lhe onde iria dar aquele caminho rural, ao que ele me respondeu ... “solo Dios sabe”...
Eu pretendia encontrar a herdade e chegar de surpresa e perguntava pelo tal agricultor mas sem referir o seu nome, o que não resultou.
Kms. mais à frente, parei e perguntei pelo agricultor de destino mas referindo o seu nome, disseram-me de imediato – é o Eng. da Azucarera - (fábrica de açúcar de cana em Motril) – pelo que vi que estava no caminho certo.
Encontrado o agricultor e, depois dos cumprimentos iniciais, foi-nos servido um repasto de “habas”, seu prato típico. Passamos pela herdade. Para seu recreio tinha um pouco de quase tudo, - cavalos, ovelhas, coelhos. Com a charrete e cavalos já ganhara prémios em Málaga. O terreno, constituído por socalcos devido ao acidentado do relevo era composto quase exclusivamente por oliveiras e amendoeiras. Via-se, lá nos píncaros, a uns vinte quilómetros, esbranquiçar, a neve da Serra com o seu nome. Por ser época de azeitona estavam as árvores carregadas e a apanha, marcada para breve, era feita em grupos e com rapidez.
Quanto às amendoeiras, já o fruto tinha sido apanhado na época própria e, ao contrario das nossas não tinham uma amêndoa por recolher. Intrigado, perguntei-lhe como apanhava tanta amêndoa, ao que ele me respondeu: – “com um maço de goma”.
Apercebi-me então que apanham a amêndoa em equipa de pessoas que seguram no panal enquanto uma delas bate com o maço de borracha no tronco da árvore, previamente podada para suportar o embate, não caindo a amêndoa ao chão. São acompanhados a poucos metros pelo mini-tractor, devido ao relevo do terreno, com a caixa acoplada. A caixa do tractor é alta. Como as nossas. Uma vez cheia de amêndoa, vai para a organização agrícola. Ao ser pesada é-lhe retirada por cada abertura da caixa, onde cabe uma mão, cerca de 1 kg. de amêndoa, para conhecer a densidade, humidade, verde, etc. Após isso sabe quanto irá receber. Amêndoa em sacas? – Não sabem o que é isso.
No Alentejo, parece que hoje, passados outros vinte anos já se pratica o mesmo processo, mas, parte dessa amêndoa deve ir a salto para outras paragens, já que os donos não são de cá.
Quanto à nossa, varejada com a tal “vara de castanho”, caindo sobre os cardos, resta-nos invocar o Emiliano da Costa.
Júlio Dantas dizia, há muitos anos, no assalto ao convento: “Tanto livro - e ninguém nos ensinou a ler”. Nós poderíamos dizer: Tanta amendoeira e nada nos motivou para a sua apanha.
Um abraço.
Romualdo.