quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

RECORDAÇÕES

FELIZARDO & GLORINHA

Por João Brito Sousa

O estabelecimento comercial Felizardo & Glorinha, que ficava situado ali à mão de semear da Escola Comercial e Industrial que frequentávamos, era outra escola, era o desenrascanço para o almoço com as sandes de cavala, os primeiros cigarros que se fumaram e ali se compraram (cinco tostões, três cigarros), foi talvez o primeiro bagaço, o primeiro copo de tinto e por aí fora.
O mais interessante que o estabelecimento tinha para nos dar, era, para além do que acima disse, sandes, tabaco e…. era carinho, pois os velhotes, respeitosamente, faziam claro o seu negócio, mas lia-se no seu olhar um pouco de ternura, dirigida sobretudo àquela classe social que aparecia na cidade pela primeira vez ou quase e que os da cidade apelidavam de “montanheiros”.
A cidade não nos facilitou a vida, tinha as suas normas, era um ambiente mais civilizado onde se andava de sapatos engraxados e luzidios enquanto nós, os recém chegados, vínhamos de botas cardadas. Nos anos cinquenta a rapaziada que melhores provas tinham feito na quarta classe faziam de seguida o exame à Escola Comercial e alguns também ao Liceu. Mas em termos de educação estávamos um bocado atrasados e foi neste domínio que o estabelecimento Felizardo & Glorinha desempenhou o grato papel de nos educar, substituindo, nalguns momentos os nossos pais.
Da minha parte têm reconhecidamente o meu agradecimento.
Não há ninguém ou quase ninguém do meu tempo que não se lembre do Ti Felizardo e da Ti Glorinha. Eram da nossa família, pertenciam-nos, compreendiam à nossa forma de estar, as nossas intenções, as nossas preocupações, as nossas más notas, as nossas companhias e davam-nos conselhos, principalmente a D. Glorinha, coração mais sensível, mãe também, que muitas vezes nos acarinhava em momentos mais ou menos difíceis.
Deixaram-nos saudades.
A Escola naquele tempo, recebia alunos de todos os lados, desde Messines a Vila Real de Santo António e quase todos iam até ao estabelecimento comercial Felizardo & Glorinha a qualquer hora do dia. Quem vinha do lado de Messines, chegava a Faro às seis horas da manhã e as aulas começavam às oito e quarenta e cinco, sobrava tempo para a brincadeira e para gastar o dinheiro da senha que se deveria comprar hoje para consumir amanhã.
Vida dura,,a de estudante, daqueles tempos.
Grandes frequentadores do estabelecimento éramos todos mas permitam-me que recorde aqui alguns nomes, pessoas inesquecíveis, que vinham dos arrabaldes, o Jaime e o Cevadinha, que vinham de bicicleta pedaleira, das Quatro Estradas de Loulé e Boliqueime, respectivamente, sempre a dar-lhe e, quando chegavam á Ti Glorinha, lá iam comer qualquer coisa e beber também, o Joaquim Xavier das Ferreiras e o Manuel Lima de Salir e tantos, tantos, tantos.
A Escola e as amizades, recordações, saudades, outros tempos, velhos tempos.
Muitos dos que frequentaram o estabelecimento já faleceram e quero dizer-lhes que os que conheci, continuo a conhecê-los porque eram meus amigos. Cito um nome em representação de todos, Luís Cunha, costeleta e familiar da Ti Glorinha, gerente do BPSM em S.Brás de Alportel e depois em Faro. Tudo gente boa em tempos difíceis. Quando o General Sem Medo esteve em Faro nós também estivemos. E vimos o General em ombros.
A Escola Comercial e o estabelecimento Felizardo & Glorinha, já desapareceram
Efeitos do tempo.


1 comentário:

Anónimo disse...

Parabens ao João Brito de Sousa.
Todos nos recordamos quando somos lembrados da Ti Glórinha e do Ti Flizardo, dos três cigarros Três vintes a cinco tostões e das sandes de cavala, das cadernetas dos jogadores de futebol que um sêlo e uma caderneta cheia ...ganhava-se a bola mas, havia um outro estabelicimento, de outro género, tipo ao que se chamava na época de "casa de pasto" no largo da estação,um tanto afastado mas que "reabastecia" muitos colegas nossos, eu ´róprio fui lá almoçar muitas vezes um bacalhau com batatas que ainda hoje recordo, salvo erro era a " Flôr da Estação".
Ao balcão estava um senhor baixo que utilizava uma "moleta" para se deslocar, se não estou em erro chamavam de Barão deveria ser das bandas de Boliqueime porque toda a rapaziada que vinha de comboio dessas bandas lá ía almoçar e eu recordo principalmente do Anibal Cavaco Silva,(na altura já espigadote)do Cevadinha,(infelizmente já falecido) do Joaquim Ponte Coelho( meu parceiro de turma e de carteira era o 704 e eu o 708) do Manuel Guerreiro Coelho e outros....Não sei se o estabelecimento ainda existe. É provavel que sim.
Boas recordações João, não pares de nos rejovenescer.
abraço

Diogo