quinta-feira, 3 de março de 2011

Divertir ao Carnaval

Longe vão os tempos dos divertimentos carnavalescos em que jovens costeletas sexagenários e septuagenários participavam com a alegria e irreverência próprias da sua juventude.
As brincadeiras de carnaval eram em regra um divertimento de toda a população, independentemente da idade: Jovens e idosos gostavam de se divertir ao carnaval.
As brincadeiras, em grande número e muitas delas representativas do espírito criativo de homens e mulheres, jamais envolviam maldade ou maledicência. O humor era a grande vertente deste convívio.
Os bailes de máscaras, a passagem das mascarilhas de e para as colectividades ( passarelle no melhor estilo ), matinés dançantes com as crianças trajadas de palhaços, cowboys, superhomem, zorro, fadas, dançarinas de ballet, bruxas, polícias, soldados, etc, a moeda no chão, a cobra, o rato, o fio com a mola, o chapéu velho e pisado, dois homens com pernas peludas vestidos de mulheres passeando-se pelas ruas, o chocolate para provocar diarreias, os estalinhos, as bombinhas de mau-cheiro e com certeza muitos outros que a memória já não ajuda, recheavam a época.
A batalha das flores em Loulé, Moncarapacho e Vila Real de Santo António, eram o apogeu das festas carnavalescas.
Pela proximidade e pela grandiosidade, Loulé era a batalha das flores preferida. Os carros alegóricos cheios de prendadas meninas vestidas de harmonia com o tema do respectivo carro, enchiam-nos de ansiedade "amorosa", quando nos atiravam um saquinho cheio de serradura, e nós o devolvíamos percorrendo a avenida para cima e para baixo neste, joga para lá, devolve para cá. Era o início do encontro no baile que iria decorrer à noite, na colectividade ou no afamado "palácio do trigo", assim denominado por se efectuar no armazém da F.N.PT de Loulé.
No decorrer da passagem do corso e para brincarmos ao carnaval, aproveitávamos para nos aproximarmos das meninas passantes, de mão cheia de "papelinhos ou confétis " , pedindo licença e o mais gentilmente possível, friccionávamos a "boquinha" da dita menina. Os mais afoitos aproveitavam para segredar ao ouvido umas palavrinhas cheias de...doçura.
Das brincadeiras mais inócuas, recordo principalmente:
- Na rua de Santo António um grupo de rapazes, fazia passar um cordel por cima dos fios de telefone, e na extremidade era colocada uma mola de roupa. Aos homens, que na sua maioria usava chapéu, enquanto passeavam pela rua, era colocada a mola na aba do dito, que posteriormente era içado. Esbracejando o dono do chapéu procurava alcançá-lo e a rapaziada baixando e levantando delirava de divertimento. Era sempre num quadro de boa risota!
A outra brincadeira, consistia no dito grupo que antecipadamente se munia de um chapéu velho e um dos jovens retirava da cabeça dum cavalheiro passante, o respectivo chapéu e começavam a passar de uns para os outros.Quando o dono já estava baralhado, era colocado no chão o chapéu velho, para que todo o grupo pisasse. Imagine-se o desânimo e fúria do dono do chapéu.
A brincadeira da moeda, escolha anual do Alberto da casa das bicicletas no Largo de São Sebastião, consistia em colocar um fiozinho de cobre do meio do passeio para dentro da oficina e ligá-lo a uma bateria . O dito fio era disfarçado e na sua extremidade colocada uma moeda, em regra de um escudo. Todos dentro da oficina, aguardávamos a passagem das pessoas. Quem reparava na moeda, disfarçava olhando para um e outro lado, e quando sentia terreno livre, toca a apanhar a moeda...claro que apanhava um "choque" e a gargalhada da rapaziada não se fazia esperar, seguida duns bons momentos de brincadeira na rua.
No século XXI e em plena era tecnológica estas brincadeiras chamam-se "apanhados" e fazem-se todo o ano. Na altura eram apenas brincadeiras de carnaval, porque afinal no Carnaval tudo vale!

jorge tavares
costeleta 1950/56

2 comentários:

Associação Antigos Alunos Escola Tomás Cabreira disse...

Olá Jorge... quebraste o "jejum"?
Nesta altura do carnaval, que ainda se usa,juntam-se em grupos, mascaram-se, e vão ao "assalto", na casa de outro amigo.
Vieste sosinho e sem máscara...
Se viesses mascarado, antes de entrares, perguntava-te: Quem és tu mascarinha?
Rogério Coelho

Anónimo disse...

PONTO DE VISTA

"O Jorge Tavares foi um excelente aluno e é um homem justo" disse o Dr. Honorato Viegas.

Começo por aqui, porquanto, este texto do Jorge Tavares é um trabalho extraordinário de rcordações e plenamente actual.

Quem escreve, tem a noção que escrever um texto como este que o Jorge escreveu, dá muito trabalho.

E todo nós que escrevemos aspiramos a ser lidos e comentados, no bom ou mau sentido, mas com justiça.

O que acontece aqui é que o texto da Lina, muito bom sim, mas, desnecessario hoje,enterrou o texto do Jorge, que é nosso património e filho da cidade.

Sou a favor dos valores costeletas e gostava que me permitissem dizer não, quando para aí estou virado.

Respeitosamente
JBS