terça-feira, 29 de março de 2011

ILUSÕES (II)

Na sala da casa de José, que visitava pela primeira vez, Fernando sentado no sofá e olhando para a marquise perguntou
- Onde é que aprendeu isso tudo, José? Você sabe tanto… Ou talvez seja eu que estou convencido disso. Não. Realmente você sabe imenso.
José pendura o lenço de seda acabado de lavar na corda da marquise, volta-se e responde:
- Num livro!
- Num livro?
- Sim, o Manual da Salvação. É uma espécie de Bíblia dos Mestres. Devo ter um exemplar na estante, que lhe posso emprestar se estiver interessado.
- Estou, sim! É um livro que ensina…?
José procurou afanosamente na estante e voltou com um pequeno volume, tipo livro de bolso, encadernado num material que parecia ser camurça. Impresso a letras pretas, podia ler-se:
Manual das Ilusões
Meditação para o Espírito Evoluído
- Manual da Salvação, disse você? Mas neste está escrito Manual das Ilusões.
- É mais ou menos isso, respondeu ele, começando a recolher os vários objectos espalhados sobre o maple, como a preparar-se para se sentar.
Fernando folheia o livro, verificando que se tratava de uma série de máximas e parágrafos curtos. Num deles leu em voz alta “Perspectiva. Se abriste o livro nesta página estás a esquecer-te de que o que se passa à tua volta não é uma realidade. É uma ilusão. Pensa bem nisto”
- José, você leu isto acerca da perspectiva?
- Não!
Tomei a resposta como uma brincadeira. Continuei a folhear o livro; reparei que estava ali tudo o que um Mestre precisava de saber.
“Aprender é descobrir aquilo que já sabemos”, “Todos são alunos e professores” “Ensinar é lembrar aos outros que eles sabem tanto como tu”.
- Está muito calado Fernando, disse José, como se quisesse falar comigo.
- Estou, respondi continuando a ler. Se aquele livro era só para Mestres, não o queria deixar escapar.
- Há uma coisa estranha neste livro, as páginas não estão numeradas!
- Pois não, respondeu. Basta abrir para encontrar aquilo que precisamos.
- É mágico o livro?
- Não. Isso pode acontecer com qualquer livro e até com um jornal, o que interessa é dar atenção ao que se lê. Já experimentou abrir um livro quando está com algum problema e ler o que está escrito?
- Não.
- Então há-de experimentar
Fechei os olhos e tentei fazer o que ele disse, perguntando para comigo o que iria acontecer se eu continuasse na companhia daquela estranha criatura que conhecera há poucos dias. Sempre a pensar nisso, abri o livro e li:



“Os teus amigos ficarão a conhecer-te melhor
nos primeiros encontros?
PURA ILUSÃO”

Montinho

nota - E fico-me com este último encontro.
Espero que outros se encontrem por aqui


1 comentário:

Anónimo disse...

ALó MESTRE

Viva.

Continuo a gostar de te ler. Se calhar por muitas razões.

O certo é que me aliciam. É êxito garantido. Eu penso que está ali, no texto de hoje, muito pano de sobra para muitas mangas.

Gostava que fosses mais longe, mais ao fundo dos sentimentos humanos. Devagar tu ias lá porque pegas bem nos assuntos.

Falar das pessoas em geral, quando amam, quando são rejeitadas, da sua luta interior, das zangas, das dúvidas e das incertezas.... creio que te darias bem nestes terrenos.

Uma coisa é selecionar os temas; vou falar disto. Outra é pegar-lhe.
quer dizer, abrir.E tu abres bem.

Este texto tem carácter e é um texto amigo. Que além de moldar a alma traz muita gente a este espaço.

Tenho a certeza disso. Só que não dizem, por exemplo: estive aqui e gostei, ou não gostei.

Caro Montinho

Eu gosto.

Nunca digas nunca mais.

Ab
JBS