domingo, 3 de abril de 2011

Não podia ser mais verdade!!!
Bem-haja a quem não tem medo de ver e muito menos de dizer a verdade.
Leiam este texto escrito por um professor de filosofia que escreve semanalmente
para o jornal O Torrejano.
Tudo o que ele diz, é tristemente verdadeiro.

O atestado médico

por José Ricardo Costa

Imagine o meu caro que é professor, que é dia de exame do 12º ano e vai ter de fazer uma vigilância. Continue a imaginar. O despertador avariou durante a noite. Ou fica preso no elevador. Ou o seu filho, já à porta do infantário, vomitou o quente, pastoso, húmido e fétido pequeno-almoço em cima da sua imaculada camisa.
Teve, portanto, de faltar à vigilância. Tem falta. Ora esta coisa de um professor ficar com faltas injustificadas é complicada, por isso convém justificá-la. A questão agora é:
como justificá-la?
Passemos então à parte divertida. A única justificação para o facto de ficar preso no elevador, do despertador avariar ou de não poder ir para uma sala do exame com a camisa vomitada, ababalhada e malcheirosa, é um atestado médico. Qualquer pessoa com um pouco de bom senso percebe que quem precisa aqui do atestado médico será o despertador ou o elevador. Mas não. Só uma doença poderá justificar sua ausência na sala do exame. Vai ao médico. E, a partir deste momento, a situação deixa de ser divertida para passar a ser hilariante.
Chega-se ao médico com o ar mais saudável deste mundo. Enfim, com o sorriso de Jorge Gabriel misturado com o ar rosado do Gabriel Alves e a felicidade do padre Melícias. A partir deste momento mágico, gera-se um fenómeno que só pode ser explicado através de noções básicas da psicopatologia da vida quotidiana. Os mesmos que explicam uma hipnose colectiva em Felgueiras, o holocausto nazi ou o sucesso da TVI.
O professor sabe que não está doente. O médico sabe que ele não está doente. O
presidente do executivo sabe que ele não está doente. O director regional sabe que ele não está doente. O Ministério da Educação sabe que ele não está doente.
O próprio legislador, que manda a um professor que fica preso no elevador apresentar um atestado médico, também sabe que o professor não está doente.
Ora, num país em que isto acontece, para além do despertador que não toca, do
elevador parado e da camisa vomitada, é o próprio país que está doente.
Um país assim, onde a mentira é legislada, só pode mesmo ser um país doente.
Vamos lá ver, a mentira em si não é patológica. Até pode ser racional, útil e eficaz em certas ocasiões. O que já será patológico é o desejo que temos de sermos enganados ou a capacidade para fingirmos que a mentira é verdade.
Lá nesse aspecto somos um bom exemplo do que dizia Goebbels: uma mentira várias vezes repetida transforma-se numa verdade. Já Aristóteles percebia uma coisa muito engraçada: quando vamos ao teatro, vamos com o desejo e uma predisposição para sermos enganados.
Mas isso é normal. Sabemos bem, depois de termos chorado baba e ranho a ver o 'ET', que este é um boneco e que temos de poupar a baba e o ranho para outras ocasiões. O problema é que em Portugal a ficção se confunde com a realidade.
Portugal é ele próprio uma produção fictícia, provavelmente mesmo desde D.Afonso Henriques, que Deus me perdoe.
A começar pela política. Os nossos políticos são descaradamente mentirosos. Só que ninguém leva a mal porque já estamos habituados.
Aliás, em Portugal é-se penalizado por falar verdade, mesmo que seja por boas
razões, o que significa que em Portugal não há boas razões para falar verdade. Se eu, num ambiente formal, disser a uma pessoa que tem uma nódoa na camisa, ela irá levar a mal.
Fica ofendida se eu digo isso é para a ajudar, para que possa disfarçar a nódoa e não fazer má figura. Mas ela fica zangada comigo só porque eu vi a nódoa, sabe que eu sei que tem a nódoa e porque assumi perante ela que sei que tem a nódoa e que sei que ela sabe que eu sei.
Nós, portugueses, adoramos viver enganados, iludidos e achamos normal que assimseja. Por exemplo, lemos revistas sociais e ficamos derretidos (não falo do cérebro, mas de um plano emocional) ao vermos casais felicíssimos e com vidas de sonho.
Pronto, sabemos que aquilo é tudo mentira, que muitos deles divorciam-se ao fim de três meses e que outros vivem um alcoolismo disfarçado. Mas adoramos fingir que aquilo é tudo verdade.
Somos pobres, mas vivemos como os alemães e os franceses. Somos ignorantes e culturalmente miseráveis, mas somos doutores e engenheiros. Fazemos malabarismos e contorcionismos financeiros, mas vamos passar férias a Fortaleza.
Fazemos estádios caríssimos para dois ou três jogos em 15 dias, temos auto-estradas modernas e europeias, mas para ver passar, a seu lado, entulho, lixo, mato por limpar, eucaliptos, floresta queimada, barracões com chapas de zinco, casas  horríveis e fábricas desactivadas.
Portugal mente compulsivamente. Mente perante si próprio e mente perante o
mundo.
Claro que não é um professor que falta à vigilância de um exame por ficar preso no elevador que precisa de um atestado médico. É Portugal que precisa, antes que comece a vomitar sobre si próprio.
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URGE MUDAR ESTE ESTADO DE COISAS.
ESTÁ NA SUA MÃO, NA MINHA E DAQUELES A QUEM A MENSAGEM CHEGA

Enviado por Mauricio Domingues

4 comentários:

Anónimo disse...

Ao contrário do espírito de honestidade que desde cedo nos foi implantado .
Se ouvia falar no ditado de " Quem não rouba nem mente não é filho de Boa Gente "
Assim como na Política o Slogam de " Faz o que eu digo não faças o que eu faço "

Na realidade quem não omite nas suas declarações , passa a pagar por todos os que o fazem .

Felizmente que existe muito cidadão que não pactuam com esses ditos e na realidade apesar de terem trilhado a honestidade chegam á velhice com muita dificuldade .
No entanto de bem com eles próprios , já que ao passarmos a vida ... não levamos nada !

António Encarnação

Victor Venâncio Jesus disse...

Boa tarde amigo Mauricio. Achei muito interessante o seu artigo, mas cuidado não apareça por aí algum anónimo a não gostar das suas comparações. Um abraço

MAURÍCIO S. DOMINGUES disse...

CAROS COSTELETAS

- VICTOR VENÂNCIO JESUS
- ANTÓNIO DA ENCARNAÇÃO

A AMBOS, E EM ESPECIAL AO VICTOR, QUERO ESCLARECE-LOS QUE O
ARTIGO " ATESTADO MÉDICO" NÃO É DA
MINHA AUTORIA ,MAS SIM DO DR. JOSÉ
RICARDO COSTA, CONFORME CONSTA NO
INÍCIO DO TEXTO .
O MESMO FOI-ME ENVIADO POR PESSOA
AMIGA E, POR ACHAR INTERESSANTE E
DENUNCIAR UMA REALIDADE ACTUAL A
QUE TODOS NÓS JÁ NOS HABITUAMOS, ACHEI POR BEM ENVIAR Á AAAETC NA
EXPECTATIVA DE SER DADO A CONHECER
AOS NOSSOS LEITORES.

AO VICTOR VENÂNCIO DOU UM ABRAÇO, COM OS MEUS AGRADECIMENTOS, PELA
RECOMENDAÇÃO DADA.
AO ANTÓNIO DA ENCARNAÇÃO, NÃO
EXIGINDO MUITO, UMA MELHOR CLARIFI-
CAÇÃO DO TEXTO.

UM ABRAÇO AMIGO PARA AMBOS DO
MAURÍCIO S. DOMINGUES

Anónimo disse...

Maurício

O que escrevi são simplesmentes situações que representam metáforas ao atestado médico , que ... é largamente exigido de forma burocrática em Portugal de acordo com as situações apresentadas no texto descrito de José Ricardo Costa .

Parabéns por ter enviado o mesmo , um abraço.
António Encarnação