sábado, 23 de abril de 2011

OPINIÃO DE JAQUES AMAURY
Sobre a "crise portuguesa"
Sociólogo e Filosofo Francês

Este conhecido sociólogo e filosofo francês, Jaques Amaury, professor na Universidade de Estrasburgo, publicou recentemente um estudo sobre “A crise Portuguesa”, onde elenca alguns caminhos, tendentes a soluciona – la.
“Portugal atravessa um dos momentos mais difíceis da sua história que terá que resolver com urgência, sob o perigo de deflagrar crescentes tensões e consequentes convulsões sociais.
Importa em primeiro lugar averiguar as causas. Devem – se sobretudo à má aplicação dos dinheiros emprestados pela CE para o esforço de adesão e adaptação às exigências da união.
Foi o país onde mais a CE investiu “per capita” e o que menos proveito retirou. Não se actualizou, não melhorou as classes laborais, regrediu na qualidade da educação, vendeu ou privatizou a esmo actividades primordiais e património que poderiam hoje ser um sustentáculo.
Os dinheiros foram encaminhados para auto estradas, estádios de futebol, constituição de centenas de instituições publico - privadas, fundações e institutos, de duvidosa utilidade, auxílios financeiros a empresas que os reverteram em seu exclusivo benefício, pagamento a agricultores para deixarem os campos e aos pescadores para venderem as embarcações, apoios estrategicamente endereçados a elementos ou a próximos deles, nos principais partidos, elevados vencimentos nas classes superiores da administração publica, o tácito desinteresse da Justiça, frente à corrupção galopante e um desinteresse quase total das Finanças no que respeita à cobrança na riqueza, na Banca, na especulação, nos grandes negócios, desenvolvendo, em contrário, uma atenção especialmente persecutória junto dos pequenos comerciantes e população mais pobre.
A política lusa é um campo escorregadio onde os mais hábeis e corajosos penetram, já que os partidos cada vez mais desacreditados, funcionam essencialmente como agências de emprego que admitem os mais corruptos e incapazes, permitindo que com as alterações governativas permaneçam, transformando – se num enorme peso bruto e parasitário. Assim, a monstruosa Função Publica, ao lado da classe dos professores, assessoradas por sindicatos aguerridos, de umas Forças Armadas dispendiosas e caducas, tornaram – se não uma solução, mas um factor de peso nos problemas do país.
Não existe partido de centro já que as diferenças são apenas de retórica, entre o PS (Partido Socialista) que está no Governo e o PSD (Partido Social Democrata), de direita, agora mais conservador ainda, com a inclusão de um novo líder, que tem um suporte estratégico no PR e no tecido empresarial abastado. Mais à direita, o CDS (Partido Popular), com uma actividade assinalável, mas com telhados de vidro e linguagem publica, diametralmente oposta ao que os seus princípios recomendam e praticarão na primeira oportunidade. À esquerda, o BE (Bloco de Esquerda), com tantos adeptos como o anterior, mas igualmente com uma linguagem difícil de se encaixar nas recomendações ao Governo, que manifesta um horror atávico à esquerda, tal como a população em geral, laboriosamente formatada para o mesmo receio. Mais à esquerda, o PC (Partido comunista) vilipendiado pela comunicação social, que o coloca sempre como um perigo latente e uma extensão inspirada na União Soviética, oportunamente extinta, e portanto longe das realidades actuais.
Assim, não se encontrando forças capazes de alterar o status, parece que a democracia pré – fabricada não encontra novos instrumentos.
Contudo, na génese deste beco sem aparente saída, está a impreparação, ou melhor, a ignorância de uma população deixada ao abandono, nesse fulcral e determinante aspecto. Mal preparada nos bancos das escolas, no secundário e nas faculdades, não tem capacidade de decisão, a não ser a que lhe é oferecida pelos órgãos de Comunicação. Ora e aqui está o grande problema deste pequeno país; as TVs as Rádios e os Jornais, são na sua totalidade, pertença de privados ligados à alta finança, à industria e comercio, à banca e com infiltrações accionistas de vários países.
Ora, é bem de ver que com este caldo, não se pode cozinhar uma alimentação saudável, mas apenas os pratos que o “chefe” recomenda. Daí a estagnação que tem sido cómoda para a crescente distância entre ricos e pobres.
A RTP, a estação que agora engloba a Rádio e Tv oficiais, está dominada por elementos dos dois partidos principais, com notório assento dos sociais democratas, especialistas em silenciar posições esclarecedoras e calar quem lenta o mínimo problema ou dúvida. A selecção dos gestores, dos directores e dos principais jornalistas é feita exclusivamente por via partidária. Os jovens jornalistas, são condicionados pelos problemas já descritos e ainda pelos contratos a prazo determinantes para o posto de trabalho enquanto, o afastamento dos jornalistas seniores, a quem é mais difícil formatar o processo a pôr em prática, está a chegar ao fim. A deserção destes, foi notória.
Não há um único meio ao alcance das pessoas mais esclarecidas e por isso, “non gratas” pelo establishment, onde possam dar luz a novas ideias e à realidade do seu país, envolto no conveniente manto diáfano que apenas deixa ver os vendedores de ideias já feitas e as cenas recomendáveis para a manutenção da sensação de liberdade e da prática da apregoada democracia.
Só uma comunicação não vendida e alienante, pode ajudar a população, a fugir da banca, o cancro endémico de que padece, a exigir uma justiça mais célere e justa, umas finanças atentas e cumpridoras, enfim, a ganhar consciência e lucidez sobre os seus desígnios.

Fialho

4 comentários:

jctavares@jcarmotavares.pt disse...

Excelente transcrição deste estudo que pelo teor e sobretudo pela enorme quantidade de verdades que encerra,é um documento de reflexão.


Meu caro Rogério,obrigado pela publicação,e ao Fialho (que não conheço)em tê-l enviado.
jorge tavares
costeleta 1950/56

Anónimo disse...

Meu Caro Fialho

Viva.

O sociólogo francês dá-lhe forte, mas não me parecem sérias as razões que apresenta.

Vou situar-me em dois pontos.

1 - CEE, Dinheiros e Formação Profissional.

É claro que daqui nada resultou porque de formação, ou seja, melhoria de conhecimentos para os trabalhadores nada se conseguiu.

Muitas empresas tiveram que devolver dinheiro porque o aplicaram mal.

Porquê ?

Porque ninguém sabia nada acerca da contabilização dos dossiers.

Um exemplo, para utilização da rubrica de Matérias Primas, estava autorizado que se contabilizassem 10 % do valor total do dossier, mas os auditores queriam ver onde foram aplicados os consumos, em quê e onde estavam.

Inicialmente havia os dossiers agrupados que incluiam empresas com condições e sem condições.

Parece-me que houve empresas, onde os sumários das aulas teóricas foram feitos sem ter havido aulas correspondentes.

Mas estes desvarios não aconteceram só aqui em Portugal. Parece ter acontecido noutros Países.

A CEE tem muitas culpas no cartório pelo abandoo a que nos deixou.

A parte política, partidos e companhia não me pronuncio.

Outro aspecto e neste concordo é a lentidão da Justiça.

O Jacques Amaury conhece a formação profissional em França, autenticas escolas profissionais, quero dizer, a sério.

Aqui não é assim mas não me parece ser o que o jacques diz.

Gostava de ver aqui comentários a este texto e ao meu comentário também

Ab
JBS

Anónimo disse...

´´E um texto que se enquadra na realidade Portuguesa !
Por casualidade cheguei a Portugal em 1993 e vi a realidade em que o País gastava o dinheiro que mais tarde teria de pagar( já começou !)

A melhor formação profissional que vi na minha vida , foi nas oficinas da nossa Escola com destaque para os Cursos de Mecânica e Eletricista .
Nos inícios dos anos 70 apareceram os Cursos de formação acelerada e como trabalhava na área senti a pressão para admitir profissionais formados em 03 meses que na realidade eram como se fala aprendizes de primeiro ano . mas não se sentiam como tal!
Em 93 existia inumeros cursos de formação profissional que foram uma forma de gastar dinheiro sem qualquer proveito . Que ... percentual desses profissionais exerce hoje a profissão ?
Na realidade os Cursos eram frequentados pelo subsídio pago.
Claro que ainda tem o Centro de Formação profissional no Areal Gordo com alguns Cursos interessantes que merecem mérito .
Existe a metáfora de que mais vale um exército de Burros comandados por um Leão. Do que um exército de Leões comandados por um Burro !
Foi precisamente o que sucedeu e continua a suceder em Portugal que a nivel humano se chama imcompetência de quem comandou os destinos do País .
António Encarnação

Victor Venâncio Jesus disse...

Obrigado ao Fialho, por ter enviado o texto e ao Rogério por o ter publicado. Estou plenamente de acordo com tudo.
O nosso ensino piorou em todos os aspectos após o 25 de Abril. O ensino Técnico ou Profissional, foi simplesmente suprimido, em vez de ter sido actualizado e acompanhado as novas tecnologias.
Os alunos de hoje, têem, os que têem, um conhecimento geral e muito vago de algumas matérias, porque um conhecimento profundo dos assuntos e das profissões, só os de antes da data histórica.
Os cursos que foram feitos, por diversas entidades, para valorização, foram só de fachada como diz o homem, eu próprio participei em um de apicultura, em que dos cerca de 15 intervenientes, só um poderia estar interessdo no assunto para continuidade os outros eram só para fazer numero, para justificar o gasto.
A justiça não funciona, os delinquentes coitadinhos têem que ser bem tratados por causa dos direitos do homem, aqueles que são assaltados não têem direitos, e os que são mortos, as familias que se desenrrasquem, porque ninguem as protege.
A corrupção é galopante e cada vez se desvia (Rouba) mais dos dinheiros do Estado que deviam servir para pagar as despesas efectivas desse mesmo Estado.
Os politicos após o 25 de Abril, apenas estão substituindo a Realeza da Época Medieval pelo que não me admira a leitura de textos dessa Época e sua comparação e semelhança com a actualidade.
Põem o povo a trabalhar para eles e o país que se lixe, governam-se a "Eles", não o país.
Eu ainda pensava que uma votação maciça de votos em branco, poderia alterar alguma coisa, mas informei-me e não, "Eles" têem a coisa tão bem elaborada que basta irem dez individus votar, nos partidos existentes que ganha aquele que tiver maior numero de votos. Contam apenas para eleição os votos validos, os restantes, não interessam. Uma abraço a todos os costeletas.