quarta-feira, 8 de junho de 2011


À CONVERSA COM
ALFREDO MINGAU

Por João Brito Sousa

Este texto é inventado.

Passeava na baixa da cidade e ouvi chamar por mim. Voltei-me e vi um sujeito muito aprumado, de calças azuis escuras e pólo branco, que, com o braço direito me acenava, como que a dizer, vem cá. Fui e o cavalheiro disse-me:

Senta-te aqui, precisamos de conversar, melhor, eu gostava de conversar contigo. O que é que achas ?

Ok, disse eu.

E falámos durante duas horas. Ás tantas, o meu companheiro da manhã, disse-me.

Ele – Como vês, a vida, não é bem aquilo que tu pensas e que fazes ou andas a fazer, a vida tem uma lógica, tem um sentido e direcção, tem muitos apedaeiros pelo caminho, mas não devemos descer em todos, porque alguns são autênticos alçapões e, se caíres lá dentro podes não sair mais . É preciso sabermos isto. Vê bem, tu apregoas aí que tiraste este curso, aquele e o outro, mas não tiraste o principal que é o curso da vida, que é de borla, onde nos vamos formando todos os dias. Mas disto tu não quiseste saber. Julgas-te o maior mas qualquer gajo te engana; julgas-te o mais competente mas qualquer gajo te desconsidera, sabes porquê ? porque tens um pouco de vaidade, que te atraiçoa, tens um pouco de ousadia a mais e isso prejudica-te. E tem mais, tu és um bom rapaz mas não enxergas onde está o perigo e às tantas estás dentro do buraco. Sabes, falta-te o equilíbrio porque tu és 80 ou 88. Um conselho só se dá quando se pede, tu não me pediste, mas eu quero dar-to, também não pagas nada, deixa lá.

E eu: Hemingway disse que “é muito difícil ser homem”. É, no fundo é o que estás a dizer.

AM – É difícil para todos, mas para ti então é mais difícil ainda. Porque tu procuras a evidência gratuita, estavas aí danadinho para que eu soubesse que tu conhecias o Hemingway. E se calhar não leste Torga.

E eu: li alguma coisa e acho-o um escritor extraordinário.

AM – Como vês, ler é bom, aprende-se, cultivamo-nos, ficamos a saber mais, mas nunca se sabe tudo. A vida é uma aprendizagem constante, diária, quase diria e que nunca termina. É aqui que tu te deves situar. Respeitar os outros é fundamental.

E eu,. é pá, eu pareço que te conheço, mas …

AM – Alfredo Mingau, conheces ?

E eu, Alfredo Mingau, tu ?

Nem mais, disse ele.

E despedimo-nos.


jbritosousa@sapo.pt

2 comentários:

Anónimo disse...

Meu caro João Brito de Sousa:
Dei a devida autorização para a publicação.
"Ficção inventada"; admiro-te pelo contraste das tuas pluri-facetas de escrita.Quando escreves "que eu disse" deve ser mais concretamente o sentimento com que te analizas.
Assino com pseudónimo as minhas escritas, desejando assim continuar, porque, como o Mingau "ai diz", desejo continuar a descer em qualquer "apeadeiro" que encontre pelo caminho sem estar sujeito a cair no "alçapão". É para mim, neste caso, a lógica da vida.
Tens razão quanto a "Hemingway", de facto "é dificil ser homem" mas sem dificuldade em ser "pseudónimo".
Lá estarei, como sempre, no grande almoço Costeleta.
Um abraço
Alfredo Mingau

Victor Venâncio Jesus disse...

Olá "Alfredo"! Só queria saber se vens ao almoço amanhã, para te poder cumprimentar!?... Um abraço