segunda-feira, 18 de julho de 2011

O ESPAÇO, O TEMPO E O SILÊNCIO.

Para todos, especialmente para o Montinho, Zé Elias, Tavares e

É por esta via que podemos chegar à felicidade, melhor, à harmonia social. Pelo menos depreendi isso, num texto que li no Jornal Expresso, quando o articulista se mete a explicar o binómio caçador/ caça, e, lá para às tantas, depois daquelas reuniões de amigos onde não se fala de mulheres, nem de política, nem de cinema, nem de literatura mas apenas de caça e de caçadores, surge o momento mágico no encanto da noite, traduzido num copo inofensivo na mão esquerda, um puro na mão direita, uma soleira de porta alentejana para se sentar, o espaço, o tempo e o silêncio, fazendo deste, o momento magnânimo e único que apetece viver.
O espaço, esse local onde não se passeiem as multidões permitindo-nos olhar e respirar, onde nos possamos encontrar a nós próprios, sem medo e com total confiança, que nos pode até conceder a patente de donos do mundo e onde, efectivamente, naquele momento, pensamos que tudo é nosso. O espaço é fundamental para a nossa afirmação, para a concretização dos sonhos no silêncio das noites.
O tempo, no sentido intrínseco do termo, é o local onde a vida se vive, onde os nossos sonhos se manifestam, onde nos reputamos presentes, é aí o domicílio da nossa vida. O tempo, essa dádiva que nos é concedida e é imprescindível. Sem ele não há nada, nada de nada, nem sequer a esperança. O tempo vive-se melhor no silêncio. E às vezes vive-se sem tempo porque não temos tempo para ter tempo.
È bom viver. Em qualquer circunstância, mesmo naquelas condições do caçador que na hora da deita se lembrou que no dia seguinte tinha uma letra no banco a pagamento. Lembrou-se e gemeu. O colega da caçada, perguntou-lhe, o que é isso ó Fernando, o que é que tens? E ele, amanhã…
Ou aquela cena, em que o bancário visitou o cliente que dormia a sesta, lá para as catorze e tal e a esposa foi-lhe dizer, está aí o homem do banco. E o cliente interrompeu a sesta e veio dizer ao bancário que estava a descansar e que ele, bancário, não tinha o direito de o vir acordar. E ainda lhe perguntou: ouviu o que eu disse?
O espaço, o tempo e o silêncio, funcionam como irmãos na família da vida e às vezes constituem o que há de melhor na nossa existência. O espaço é liberdade, o tempo é liberdade e o silêncio é liberdade. Nessa trilogia espaço, tempo e silêncio o homem encontra-se consigo próprio, estabelece padrões de vida, pensa e age, perspectiva situações, analisa e admite que pode ser feliz. Ou que um dia será. E às vezes até se julga poeta. E escreve umas palavras num papel e chama-lhe poesia. Nesse momento tudo lhe é permitido.
Um dia virá em que não haverá mais espaço nem mais tempo nem mais silêncio. Mas tudo continua, igual ou talvez não, num outro local, que pode ser na porta ao lado. Com uma mão vazia e outra cheia de nada, como disse a poetiza Irene Lisboa. Os poetas dizem cada coisa. Tinha que ser um poeta a dizer. E tinha que ser um poeta a escrever.
Gostava de ir à caça amanhã e usufruir desse tal momento mágico onde o espaço, o tempo e o silêncio fossem de minha propriedade. Única.
Nunca se sabe o que nos pode acontecer. Por enquanto o palco é aqui, neste espaço, neste tempo e neste silêncio.

João Brito Sousa

3 comentários:

Associação Antigos Alunos Escola Tomás Cabreira disse...

Meu caro Ermão.
Não dá para comentar...
Apenas para pensar...
Um abraço do "e"
Roger

Jose Elias Moreno disse...

Falo dos sonhos que não se apagam no tempo.
Os sonhos que sonhamos acordados.
Dependem da sua dimensão, e muitos são realizáveis, quando reduzidos ou ajustados às suas reais possibilidades de sucesso.
Nem sempre condições económicas, ou monetárias são prioritárias, na concretização ou realização dos nossos sonhos.
Às vezes vale mais ter amigos que ser rico.
Depois, se não podermos ter uma floresta, podemos sempre construir um pomar ou um jardim à nossa medida.
Ter um vaso com uma árvore ou uma planta na varanda, ou olhar e admirar as florestas e jardins em volta e dizer: como estão lindos e verdejantes os meus jardins.
Tudo se passa na nossa cabeça.
É preciso é estar a tempo de escutar o silêncio.
Agostinho da Silva disse, que se tivermos um limão, que façamos uma limonada, e se pudermos que lhe juntemos um pouco de açucar.
Referia-se à Vida.
Eu, como gosto de limonada,e se o mestre me permitisse acrescentaria; da casca façamos um aromático e salutar chá, e dos caroços um alfobre de verdejantes novos limoeiros.
E assim, neste maravilhoso espaço, matei algum do meu precioso tempo
e me reduzo ao silêncio.
Quarteira:18.Julho:2011
Gde abraço
JEM

Anónimo disse...

GOSTEI.

Viva.

Este comentário que o Moreno foi buscar ao seu baú cultural, digamos, ao seu património cultural, está muito bem elaborado.

Ir além disto é entrarmos no campo científico para o qual não temos, penso eu,bagagem.

Os sonhos que não se apagam no tempo, são realmente os sonhos comuns, porque duradouros, são igualmente os que sonhamos acordados, os que não se realizam mas que nos alimentam a esperança.

O Zé diz que, muitos são realizáveis; Freud também diz isso.

As condições monetárias nem sempre são prioritárias. Eu diria que nunca serão prioritárias, porque o sonho é,em princípio, hipótese não realizável.

Se o for, passa a ser um projecto, vago, mas projecto, depois do sonho.

Penso eu.

Ab.

JOÃO