domingo, 14 de agosto de 2011


História de uma garrafa de Medronho
Romualdo Cavaco

O texto de Lina Vedes sobre Faro sugeriu-me o artigo seguinte:

Dois trabalhadores, cunhados, Paulo de Penafiel e Fabrício de Alvor, após a refeição costumam tomar sempre digestivo.
O primeiro aprecia bagaço enquanto que o segundo vai pelo medronho. Ambos defendem as suas damas.
Para o algarvio, um bom bagaço é inferior a um mau medronho. Para o duriense é o inverso.
Falam das respectivas formas de fabrico, bagaço/medronho, desde a origem até à destila, parecendo bons conhecedores do ramo além de apreciadores do seu produto final.
Em Monchique diz-se que se trata de “Diamante em estado líquido” “ouro em saco de plástico” “Motivo de orgulho nacional – 36º. entre 1000 candidatos, (in jornal local), para além de, segundo dizem estimular a digestão, melhorar a visão, ruborizar a face, dar força aos fracos, alegria aos tristes, riqueza aos pobres, aumentar o PIB, etc. Com três bagas de zimbro em cada garrafa, endireitam todas as curvas de Monchique.

Como a conversa é no intervalo do serviço, eu, por vezes, até colaboro no dialogo.
Há dias, após o almoço perguntei ao Fabrício em que ano tinha nascido.
Disse-me: 1987.
Vou oferecer-te um medronho com a tua idade.
Pode lá ser??!! – Pode, respondi-lhe.
A rolha da garrafa, levemente trabalhada, estava intacta e é sempre substituída por uma nova até à próxima utilização.
A garrafa tem o nome do produtor e ano de fabrico. Este é de Monchique. Procedia de uma pipa (sempre cheia devido à volatilização), cujo diâmetro era maior que a largura do portão (havia sido construída manualmente dentro de casa).
O Fabrício apreciando o ambarino néctar não se continha em elogio.
Dizia-lhe o Paulo: - Olha que ainda não provaste o medronho que está no Moinho (referindo-se ao medronho de Sta.Catarina, do Alberto Rocha). – Como??!! – perguntou a dona de casa – intrigada – ao que lhe esclarecemos que tinha sido oferta de cortesia do nosso amigo e colega.
O Paulo não apreciou a nossa bebida e preferiu a sua que também cá temos (pomada especial de Marco de Canavezes).
Saíram os dois cunhados para refrescar, tendo o Fabrício regressado apressadamente à procura da garrafa de Medronho 1987 que tinha deixado sobre a mesa. Só que..., desilusão ... a garrafa já tinha novo selo de cortiça trabalhada ... e... lacrada só seria aberta em próxima sessão.
E... assim vamos mantendo duas ou três garrafitas do sec.passado.
Se alguém tiver dúvidas mande e-mail que eu confirmo. O produto pode esgotar antes de terminar o prazo do folheto.
Um abraço.
Romualdo.

3 comentários:

Associação Antigos Alunos Escola Tomás Cabreira disse...

Meu caro Romualdo.
Medronho???
Não há bebida que se compare a um bom medronho.
Ainda não há muito tempo, numa excursão da Associação de Professores, estivemos em Monchique numa destilaria. Uma beleza! Ainda tenho algum.
Um abraço
Rogério

Jose Elias Moreno disse...

Caro Romualdo:

Gostei do teu texto.
Dos nectares ambarinos que falas, realmente os melhores que consegui reservar, foram os produzidos nos anos sessenta e obtidos por compra, nos entrepostos do Ervilha e do Antonico da Caldeira em S.Brás, ou no Ti Sebastião da Cortelha, em Vale Maria Dias,quando ia e vinha de boleia nos camiões da fruta e hortaliça, e ultimamente em Cachopo, por via do sr Martinho, que como funcionário dos CTT, percorria e possívelmente testava as melhores destilarias.Mas em Faro, no Cantinho da Ronha e no Agostinho, ainda se pode degustar um paneleirinho do puro .Refiro-me ao Medronho, claro está.Sem desfazer do bagaço, sempre digo que as aguardentes mais nobres ainda são as provenientes do fruto integral,como é o caso da pera, do medronho ou do figo.
Deste último produzo eu mesmo, para consumo restrito, um excelente Elixir da Longa Vida, que, não é por me gabar, mas pede meças a muita pomada que por aí se bebe.Na versão "Limanito" ou "Figuelimo"-marcas reg.-ainda vai muito que falar.
Então...à nossa!!!!

Gde abraço

JEM

Anónimo disse...

AH! grande Costeleta Romualdo.
És cá dos nossos.
Desde 2008 que sou leitor assíduo do blog. Escreves poucas mas boas...
Quanto ao medronho prefiro o de Monchique. Tenho pouco que comprei na destilaria do Cimalhas. Uma del
ícia.

Leitor assíduo