sexta-feira, 5 de agosto de 2011


Produto Nacional
Figos e Amêndoas do Algarve

O artigo sob o título acima do Colega Palmeiro publicado em 2011.07.12, fez-me lembrar duas viagens que em tempos fiz à zona de Granada/Gibralter, para visitar um agricultor conhecido. Posteriormente, o Jornal de Monchique também viu figos da Turquia vendidos como lembrança do Algarve. – Não lhes chamava “secos”. Chamava-lhes “pecos”, cujo termo nós conhecemos.
Isto daria para rir, não fosse o estado calamitoso a que fizeram chegar a nossa agricultura.
Para não estar só à janela como muito bem disse o nosso amigo JEM, saí à rua...

---oooOooo---

Por volta de 1968, na descida abrupta de Granada para Motril vi um agricultor apanhar amêndoas em zona tão acidentada que se segurava a uma corda, (algo que aqui também já vira com a apanha de alfarroba, o que, em termos de rendimento não podia contar para as estatísticas).
Mais tarde, cerca de vinte anos após, numa zona próxima, ao pretender visitar um agricultor granadino, encontrando-me numa encruzilhada junto a uma plantação de oliveiras encontrei outro agricultor, com o seu Jeep, perguntei-lhe onde iria dar aquele caminho rural, ao que ele me respondeu ... “solo Dios sabe”...
Eu pretendia encontrar a herdade e chegar de surpresa e perguntava pelo tal agricultor mas sem referir o seu nome, o que não resultou.
Kms. mais à frente, parei e perguntei pelo agricultor de destino mas referindo o seu nome, disseram-me de imediato – é o Eng. da Azucarera - (fábrica de açúcar de cana em Motril) – pelo que vi que estava no caminho certo.
Encontrado o agricultor e, depois dos cumprimentos iniciais, foi-nos servido um repasto de “habas”, seu prato típico. Passamos pela herdade. Para seu recreio tinha um pouco de quase tudo, - cavalos, ovelhas, coelhos. Com a charrete e cavalos já ganhara prémios em Málaga. O terreno, constituído por socalcos devido ao acidentado do relevo era composto quase exclusivamente por oliveiras e amendoeiras. Via-se, lá nos píncaros, a uns vinte quilómetros, esbranquiçar, a neve da Serra com o seu nome. Por ser época de azeitona estavam as árvores carregadas e a apanha, marcada para breve, era feita em grupos e com rapidez.
Quanto às amendoeiras, já o fruto tinha sido apanhado na época própria e, ao contrario das nossas não tinham uma amêndoa por recolher. Intrigado, perguntei-lhe como apanhava tanta amêndoa, ao que ele me respondeu: – “com um maço de goma”.
Apercebi-me então que apanham a amêndoa em equipa de pessoas que seguram no panal enquanto uma delas bate com o maço de borracha no tronco da árvore, previamente podada para suportar o embate, não caindo a amêndoa ao chão. São acompanhados a poucos metros pelo mini-tractor, devido ao relevo do terreno, com a caixa acoplada. A caixa do tractor é alta. Como as nossas. Uma vez cheia de amêndoa, vai para a organização agrícola. Ao ser pesada é-lhe retirada por cada abertura da caixa, onde cabe uma mão, cerca de 1 kg. de amêndoa, para conhecer a densidade, humidade, verde, etc. Após isso sabe quanto irá receber. Amêndoa em sacas? – Não sabem o que é isso.
No Alentejo, parece que hoje, passados outros vinte anos já se pratica o mesmo processo, mas, parte dessa amêndoa deve ir a salto para outras paragens, já que os donos não são de cá.
Quanto à nossa, varejada com a tal “vara de castanho”, caindo sobre os cardos, resta-nos invocar o Emiliano da Costa.
Júlio Dantas dizia, há muitos anos, no assalto ao convento: “Tanto livro - e ninguém nos ensinou a ler”. Nós poderíamos dizer: Tanta amendoeira e nada nos motivou para a sua apanha.
Um abraço.
Romualdo.

1 comentário:

Associação Antigos Alunos Escola Tomás Cabreira disse...

Meu caro Romualdo
Aprende-se muito lendo.
Já estava a estranhar a falta da tua contribuição para o nosso blog.
Vai aparecendo
Um abraço
Rogério