quarta-feira, 28 de maio de 2014

LITERATURA AO ACASO


"Um pequeno conto publicado por acaso"

Um bolo eternamente sujo 



De Nuno Guerreiro Josué
Um velho rico e avarento andava pela rua com um bolo que acabara de comprar quando este lhe caiu das mãos e rolou pela poeira e lama da estrada. Nessa preciso momento, um pedinte passou por ele e pediu-lhe qualquer coisa para comer. O avaro deu-lhe o bolo sujo sem pensar duas vezes, contente consigo próprio por se ter livrando dele. Nessa noite o rico avarento sonhou que estava sentado num enorme café cheio de gente, com os empregados atarefados a trazer para as mesas as mais preciosas delícias de pastelaria. Mas só ele não era servido. Ele esperou até que se lhe esgotou a paciência e decidiu reclamar. Finalmente, depois de muito esperar, um dos empregados trouxe-lhe um pedaço de bolo, sujo e coberto de lama. “Então, o que é isto? Como se atreve a trazer-me um bolo todo emporcalhado? Sabe quem eu sou? Sou um homem muito rico e por isso não mereço ser tratado desta maneira”, barafustou o velho avarento. O empregado encolheu os ombros: “Desculpe-me, mas o senhor está enganado. Aqui não pode comprar nada com o seu dinheiro. O senhor chegou à Eternidade e só tem aqui direito ao que enviou antecipadamente do Mundo dos Vivos. A única coisa que o senhor mandou foi este bolo sujo e enlameado, por isso será a única coisa que lhe poderei servir.”
Colocado por
Rogério Coelho

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