domingo, 10 de agosto de 2014

CRÓNICA DE FARO


À venda a casa do Zeca Afonso


É ali, no coração da histórica “Vila a Dentro”, mais exactamente no n.º 12 da típica Rua Professor Norberto da Silva, que se situa, com traços pombalinos, casa que, durante cerca de três anos, viveu o Dr. José dos Santos Afonso, o conhecido por milhões de portugueses e por esse mundo fora, apenas e só, que para tanto como queria e era de seu timbre e vivência congénita, por “Zeca Afonso”.
Foi nesta casa, tão singular e de tão profundo sentido para as gentes farenses, que durante este triénio da década e sessenta do século passado e a quando do exercício pleno das funções de professor na Escola Tomás Cabreira, que o autor de “Grândola Vila Morena”, canção do alvor de um tempo novo para a Pátria Portuguesa, que Zeca Afonso embalou sonhos, propósitos e poemas.
Expandia a sua pedagogia de verdadeira educador muito para além das paredes da sala de aulas daquela emblemática Escola, para o convívio autêntico e motivador, com o acolhimento fraterno que lhe era congénito e o muito saber que repartia em acontecida comunhão de solidários ensejo.
Ali foi colocada, pelo Município, uma placa onde se pode ler: “Zeca Afonso/Trovador da Liberdade/Professor e Compositor/Viveu em Faro/entre 1961 e 1964/25 de Abril de 2011″.
Pois a conhecida por “Casa do Zeca Afonso”, que com todo o respeito que sempre houvemos e hemos pela propriedade privada e que é uma referência para a capital sulina, está à venda. Não escapou a esta avalanche do “Vende-se” que prolifera por toda a cidade e é uma referência do mercado imobiliário, de há anos a esta parte.
Entendemos que, bem andaria o Município, avaliado o valor do imóvel em termos justos e correctos, sem querermos desconhecer as suas dificuldades financeiras, em adquiri-la e nela fazer uma “Casa Museu” dedicada a quantos nesta Grei se houveram e foram honrados pelo seu empenho em prol da liberdade, da justiça e da democracia, numa homenagem sublime ao homem bom, idealista e generoso e um dos mais conhecidos músicos deste nosso tempo, em cujos gestos e composições aqueles ideais aconteceram. Que bem a mesma ficaria entregue ao merecidamente aplaudido “Ecos de Coimbra”, liderado por esse intérprete excepcional, que é o José Maria Oliveira, que tanto privou com o Zeca Afonso, pelas suas ligações ao Mestre e à Lusa Atenas!

João Leal

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