ABSORTO
O absurdo do modelo neoliberal, ou da sua profunda degenerescência, está
patente em todo o seu esplendor, no caso GES/BES. Não se trata desta feita da
falência de um quiosque, de uma pequena oficina ou do café da esquina. Não
podemos, neste caso, observar os olhos turvos de lágrimas do comerciante
fechando de vez a porta, nem o olhar triste do funcionário despedindo-se de vez
dos seus clientes habituais... Faz muito tempo que não se via nada assim.
Talvez, para quem tenha vida longa, similitude com os acontecimentos dos
idos de 80, entre 1983/85, para não falar, noutro contexto, no período pós 25
de abril de 74. Mas nestas épocas de crise brava (1974 e 1983) sempre havia
expectativas positivas de futuro, fossem ou não realizadas, a todos agradassem
ou não agradassem. A liberdade em todas as suas vertigens, após 48 anos de
ditadura, e a adesão à actual União Europeia com seu interminável cortejo de
promessas de prosperidade. O que me dá que pensar, ainda com energia para
questionar o que for que queira, é quais as expectativas que povoam a cabeça de
cada um, e de todos nós, no olho do furacão da presente crise. Pode ser que
hajam mas estão ao alcance de muito poucos.
IN Eduardo Graça
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