quinta-feira, 5 de novembro de 2015

A VINGANÇA

A moça chamava-se Joana.
            Não lhe conheci o apelido, e nunca lhe perguntei.
Fazia as limpezas do escritório onde eu trabalhava, com outros executivos, na Av. Joaquim António de Aguiar, ali perto do Marquês, emprego que conseguira após ter feito o Curso Comercial na Escola Tomás Cabreira em Faro.
A rapariga era jeitosa, se bem que não tivesse grande beleza. A nossa relação, no escritório, era boa e, por vezes trocávamos umas palavras de bem dispor.
Um dia chega-se à minha beira e sussurra-me, para que os colegas de trabalho não ouvissem:
- Quero ir para a cama consigo!
Fiquei de boca aberta, abismado, a olhar para ela, perante tal proposta e, porque não gosto de me meter com mulheres casadas, respondi no mesmo nível, quando me passou o espanto:
- D. Joana, a senhora é casada!
Respondeu-me, explicando em voz baixa, que o marido, barbeiro de profissão, era um tirano, descarregando nela com “porrada”, o que não podia fazer com os clientes. E, à socapa, mostrou-me várias nódoas negras no corpo, rematando:
- Quero vingar-me dele, quero por-lhe os palitos porque, não posso responder com “porrada” e quero que seja consigo.
Depois de me passar o espanto e de ponderar naquela proposta, achei que devia aceitar. Afinal eu não era nenhum conquistador de mulheres casadas e, desse modo, ficaria bem com a minha consciência.
- Aceito D. Joana, seja feita a sua vontade de vingança...

Como conhecia uma pensão onde costumava fazer os “meus biscates”, telefonei e marquei um quarto para essa noite, porque, segundo ela não podia ser noutro dia.
Expliquei-lhe que a pensão ficava no Largo da Graça e que lá estivesse cerca das vinte e uma horas.
Quando lá cheguei, a D. Joana já se encontrava na sala, sentada e à minha espera. Nem parecia a mesma. Bem vestida, bem arranjada e pintada. A coisa prometia!
Peguei a chave na recepção e subimos para o quarto.
Não irei contar em pormenor o que se passou mas, foi uma noite “recheada”.
Saí de lá às oito da manhã, todo torcido, para entrar no emprego às nove.
Mas, antes de sair, impus-me com a D. Joana, dizendo-lhe que não me propusesse mais nenhuma “vingança”. Falei-lhe que tinha gostado mas não me sentia bem com a minha consciência.
Mais tarde vim a saber, por acaso, que um colega do escritório andava a satisfazer as “vinganças” da D. Joana.

NOTA: Ficção? Fica ao vosso critério!

Rogério Coelho


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