sábado, 3 de junho de 2017

Um texto de Lina Vedes
BANHOS DE MAR III  (Continuação)

     A ida para a costa obrigava a uma longa caminhada pelo areal, sem passadeira e coberto de picos, soltos dos cardos, que o vento se encarregava de espalhar.
A duna era enorme, podíamos montar o toldo sem a preocupação de colidir com alguém. Arrumávamos a comida e todos os pertences, enterrá­vamos junto das ondas, o garrafão de vinho e a melancia, para refrescarem.
A hora do almoço era complicada. Toalha esten­dida, pratos espalhados, comida distribuída e, num azar de um gesto brusco, lá ia a areia por cima de tudo. Vinha logo a reprimenda:
       - Não consegues parar?              
       Enquanto durava o tempo de digestão as mulheres do grupo lava­vam a louça no mar esfregando-a com areia e enterravam as sobras no areal.
Os homens ficavam debaixo do toldo ou iam para a tasca da Maria Almodôvar conviver e beber um copito.
As crianças rebolavam e davam cambalhotas na areia, brincavam com um ringue, uma bola ou um prego ... Sobretudo importunavam pergun­tando com insistência:
- Posso ir para a água?
Navego recordando o ontem com satisfação, consciente que a felicidade não depende daquilo que nos falta. Sabíamos, instintivamente, construir alegria dando um bom uso ao pouco que tínhamos.
Os fatos de banho dos anos 40/50 ... obedeciam a regras rigorosas.
As mulheres tinham de disfarçar as curvas corporais usando fatos de banho subidos nas cavas e no decote e descidos nas pernas, com uma pequena saia na frente.
Os calções dos homens não eram cavados, tinham 2/3 dedos de perna.
    Eram obrigados ao uso de uma camisola de meia manga ou de alças. Não podiam andar de tronco nu. Os tecidos desses fatos de banho não tinham elasticidade e quando molhados, principalmente os dos homens, molda­vam e avolumavam "as partes".

Continua no próximo dia

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