domingo, 8 de dezembro de 2019

LIVROS QUE AO ALGARVE IMPORTAM




«QUANTICUS»
DR. EURICO DIAS GOMES
E Deus disse: «Haja Tempo/ Surja Espaço», substantivos que configuram em plena criação poética, mais uma obra do conhecido médico e alma grande na ação anti - diabé­tica em terras do Algarve, que é o dr. Eurico Dias Gomes. lntituta-se “Quanticus” e é nes­se tempo e nesse espaço que, tal como agora aconteceu ao longo destas quatro dezenas de poemas, em milénios da história da Humanidade, a mensagem surge sublime (porque de uma pureza como as águas do Nerva), contagiante (de um contágio reverente) e a día­logar com os sentimentos maiores, como o são o cântico à Natureza, o encontro entre os homens ou o diálogo acontecido consigo mesmo. Tem este médico escritor, no percurso gémeo havido com outros clínicos e plumitivos portugueses (Miguel Torga, Fernando Na­mora, Bernardo Santareno ... ) ou no caso regional de outros nascidos nesta Terra Mãe (com relevo para Emiliano da Costa, talvez «o mais algaravista dos poetas algarvios .. ») es­sa rara e pertinaz vocação de sentir o transcendente na vida e morte concretizados a ca­da instante. Mas acontece que este minhoto, nascido em terra de Barcelos e de há muito assumido algarvio, prosseguindo, por exemplo Júllo Dinis, tem o suave encanto, de des­crever em matizes sublimes a paisagem envolvente, dela não se excluindo mas figurando como obreiro integrado no que o rodeia - «Foz do Neiva» - No Verão o rio fica verde ... ;  «Jacarandás» - Este Varão tarda / até os jacarandás estão frios secos mudos/ E os azuis não acontecem ... »; «Ilha de Faro».., Só nos é dado escutar/ O doce cadenciado marulhar… Tal como sucedera com anteriores livros, onde inclusive acontece um testemunho antropológico, com tradições, lembranças, jogos, a petizada irmã de décadas idas, o dr. Eurico Gomes, lega-nos a sua vivência íntima e missiva da fraternidade que descobre em cada gesto. «Ouantícus» teve uma merecida apresentação naquele fim de tarde outonal (“O fim da tarde é calmo/ Não corre ponta de vento/ As folhas da figueira do quintat/ Fi­cam quietas secas mudas...), no Clube Farense, em plena «Cale Mayor» da capital sulina e uma digna moldura humana. Usaram da palavra o Eng. Augusto Miranda (presidente daquela centenária tnstítutção), o autor, o ilustrador José Maria Oliveira (que desenhou uma duzia de excelentes gravuras, bem merecedoras de uma edição numerada) e o sem­pre apreciado “mestre” Afonso Dias, que cantou, declamou e afirmou “Eurico Gomes é um homem de afetos que escreve poesia limpa, escorreita e lírica, que convive muito com as suas memórias e que, para além do homem de ciência se interroga com uma soli­dão serena que com ele convive…”.
João Leal

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