terça-feira, 21 de julho de 2020

CRÓNICA DE FARO - João Leal


AQUELE CANTO...
                  ... Situado no movimentado cruzamento das Ruas do Alportel, Aboim Ascensão e General Teófilo da Trindade, frente à Igreja de Santo Amaro e ao Cemitério da Esperança, deve merecer um pouco mais de atenção e uma intervenção necessária, quanto antes.
                  É certo que se trata de uma propriedade particular, mas pela situação em que se encontra e o estado em que está justifica plenamente a nossa sugestão. Com efeito o local do demolido, há décadas, edifício onde durante anos e anos funcionou a típica e conhecida Casa de Pasto, Venda como então se dizia, do Quintas, é um indesejável local de arbustos selvagens, de lixos e de passagem a corta - mato, que em nada beneficiam o aspecto urbanístico e qualidade de vida da cidade capital sulina.
                   O «Quintas», juntamente com o seu «vizinho» Belchior, por debaixo do Clube Recreativo 20 de Janeiro, sociedade que nos anos 60 cessou a sua actividade recreativa e cultural, eram locais «obrigatórios» de paragem no retorno dos funerais.
                    Há que se encontrar a plataforma concordatória e legal, que seja conducente à concretização do alindamento deste local: ou a construção do justificado e correcto imóvel; ou a supressão e eliminação da lixeira e mato seco que ali persistem e ou a União de Freguesias da Sé / São Pedro ou a Câmara Municipal de Faro instalam ali um pequeno jardim e lugar de descanso, com bancos e sombras, enquanto o proprietário não procede à construção do prédio.
João Leal

INFORMANDO - Joáo Leal

NOTÍCIAS DO TURISMO ALGARVIO

O Partido Comunista Português (PCP) expressou que «o Turismo do Algarve precisa de medidas urgentes de apoio que garantam a sua sustentabilidade e o futuro da Região».
O «Sandcity», o maior parque temático de escultura em areia do Mundo, localizado entre os nós da E.N. 125 de Lagoa e Porches, com 6 hectares de área e mais de 80 composições, voltou a abrir com a série «A volta do Mundo».
Encontra-se em construção, devendo estar concluído no final do ano, o no-vo passadiço sobre as dunas, com 1 500 metros de extensão e 3 metros de largura, no concelho de Castro Marim, entre as praias da Altura e da Lota. Com um custo de 900 mil euros comportará uma passagem sobre a Ribeira do Álamo e, na 2ª fase, chegará até Monte Gordo.
Dos 4 parques aquáticos existentes no Algarve dois encontram-se em funcionamento, o «Zoomarine», na Guia (Albufeira) e o «Slide & Splash», em Lagoa.
A Câmara Municipal de Lagos colabora com a Universidade do Algarve no projecto «Sustowns», que visa promover a sustentabilidade e aumentar a vocação turística do concelho.
O Governo Português exigiu que o seu homónimo belga retire o Algarve das zonas arriscadas por via do coronavírus.
O Aeroporto Internacional de Faro desceu de 100 voos diários em Julho de 2019 para trinta voos este ano.
O Presidente da República, no decurso de um jantar em Lagos com autarcas algarvios para análise da situação económica e social do Algarve em virtude da pandemia apontou que: «A retoma seja um processo ascendente, difícil, lento a complicado».
A área balnear da Barragem de Odeleite, em construção pela Câmara Municipal de Castro Marim, com um empréstimo do BCE (Banco Central Europeu) ficará concluída em finais do ano comportando piscinas e um conjunto de apoio e serviços.                                                                        

                                                                            JOÃO LEAL



10ª E última de uma série de boas leituras
de autores nacionais
IN MÁRIO HENRIQUE LEIRIA

A Viagem, enfim

Isto de ter sempre o mesmo sonho todas as noites torna-se aborrecido.
Era assim: saía de casa, ia até ao carro e dizia à família «vamos lá fazer essa viagem». Primeiro entravam a mulher e as duas crianças, depois os pais, ele instalava-se ao volante e pronto, não havia lugar para os sogros! Era sempre a mesma coisa. Por mais que empurrassem, não conseguiam metê-los lá dentro.
Acordava a suar, empurrando ainda qualquer coisa que não estava lá.
A mulher aconselhou-lhe uns calmantes, para ver se o sonho se ia.
Mas nada. Lá vinha sempre, todas as noites. É verdade que empurrava menos, talvez os calmantes, mas continuava naquele desespero de não conseguir enfiar os sogros no carro alucinante.
Os sogros disseram-lhe que não se interessavam em ir, não faziam questão, já estavam velhos para viagens.
Os pais prontificaram-se a ceder os lugares deles.
Toda a família colaborava, mas o sonho continuava.
Chegou a fazer experiências, a meter a família completa no velho Citroën arrastadeira. E conseguia, lá se metiam todos, mais ou menos apertados mas entravam. Mas no sonho não.
A coisa tornava-se desesperante.
- Porque é que não vais ao Mora? Ele é psicanalista, explica-te, tira-te isso – insistia a mulher, já arreliada, e preocupada também, com aquelas viagens nocturnas e frustradas em que ele se envolvia sem culpa.
O Mora era amigo de infância, nem sequer permitia que ele pagasse, era extraordinário! Às vezes até ia lá jantar. E respondeu à mulher:
- Tens razão, Xuxa, vou mesmo, que isto assim não pode ser. Tens sempre razão menina.
Contou tudo. O Mora mandou-lhe contar mais, o passado continua sempre oculto, ao que disse. Deitado, contou-lhe o que ele precisava era de derivar, sabem, encontrar qualquer coisa além do carro e da viagem que não fazia em sonhos. Derivar. Substituir o carro. Agradeceu e convidou o Mora para jantar no sábado. O Mora não podia e deu-lhe uma palmada nas costas.
Chegou a casa aliviado e esclareceu a Xuxa:
- Vou derivar, menina.
- Derivar?
Sim, substituir o carro e tudo o mais, excepto tu, as crianças, os velhos e a casa.
(...)
À noite não sonhou. No dia seguinte a Xuxa disse-lhe que até parecia dez anos antes.
Tudo voltou à normalidade, os sogros deixaram de se preocupar com a viagem, as crianças entusiasmaram-se com os estoiros da moto. E o carro na garagem.
E, de repente, tornou a sonhar. O sonho.
Assim: saiu de casa, foi até ao carro e disse à família «vamos lá fazer essa viagem». A mulher e as crianças entraram, depois os pais, e ele instalou-se ao volante. E não havia lugar para os sogros! Começaram a empurrar para os meter lá dentro, e nada. Então virou-se para a garagem. Estava um pouco diferente mas a moto continuava lá dentro. Deixou tudo, montou a moto, pôs o chapéu de palha e avançou pela estrada. Uma estrada larga, muito aberta a tudo. Pareceu-lhe já a ter visto alguma vez. Olhou para trás e lá ao longe, à porta da casa, continuavam a empurrar-lhe os sogros. Acenou uma despedida, acelerou e continuou, olhando árvores e nuvens. Ainda não voltou.