terça-feira, 28 de julho de 2020

CRÓNICA DE FARO - JOÃO LEAL





RUA FRANÇA BORGES

        Situada na freguesia da Sé esta artéria, referenciada por congregar a maior parte das casas de prostituição legalizada que, durante décadas, existiram em Faro e terminaram a sua actividade em 1 de Janeiro de 1962, com a publicação do Decreto - Lei 44579, de Setembro de 1961, é desde há anos um beco, por via da sua ocupação imobiliária, na zona nascente. Nesta con-fina com a Rua Dr. Justino Cúmano e a poente com a Rua Horta Machado e apresenta ainda num dos seus lados quase todo o aspecto de casas de res-do-chão que eram a dominante da Faro de então.
             A Rua França Borges congregava uma expressiva maioria das ditas «casas de meninas», onde se praticava o negócio do sexo. Esta é uma cróni-ca que enfoca num tema que pode suscitar reacções diferentes dos leitores, mas manda a verdade que, como com outros temas que muitos, respeitando a sua opinião, consideram «tabus» (escravatura, inquisição, expulsão dos judeus, etc.), mas que entendemos devem ser analisados e historiados. Ali se situavam as casas que tinham os nomes das suas «empresárias» - D. Isabel (Jardineira), D. Hermínia, «Lózinha»...
               Outras haviam na cidade capital sulina espalhadas pelo tecido citadino - D. Rita Lagarta, «Maria de Todos», D. Maria Benvinda («Maria de Almodôvar»...
               Degradante, mas acontecia nos termos legais, era a chamada «revista», ou seja, quando, nas manhãs de 5ª feira, as «meninas», portadoras da sua «caderneta» individual de saúde e acompanhadas pela «patroa» iam à inspecção sanitária. Esta decorria na Delegação de Saúde, a funcionar na Câmara Municipal de Faro ou, quando o responsável pela saúde pública, estava de serviço no Hospital da Misericórdia, no banco desta unidade e sendo responsável o Delegado Concelhio de Saúde, funções que durante muitos anos foram desempenhadas pelo ilustre médico Dr. Arnaldo Cardo-so Vilhena, natural de Almeida e destacada figura cultural e cívica da cidade.
João Leal