domingo, 23 de agosto de 2020

POESIA FUTURISTA DE MANUEL INOCÊNCIO




ESPERO-TE NA GALÁXIA


Daqui Via Láctea - cheguei!
Isto é estranho e muito frio.
Apenas uma planta lobriguei
Vento furioso faz assobio

Estamos no planeta duma estrela
Planeta imenso-rochoso:
E daqui, longe dela,
Vemos tudo nubloso

O vai-vem chegou atrasado;
O pessoal da base receava;
Uma nave perdeu-se no passado
Morreram todos - não restou nada!

O próximo vai-vem é em Janeiro,
Não te atrazes - marca a viagem.
Roupas quentes sempre primeiro
Traz a Joana e a sua bagagem.

As vacinas são muito importantes
A farmácia da base está vazia
Porém os alimentos são abundantes
Há de tudo até melancia!

Vem preparada parra esquiar
Esquiar é sempre uma alegria,
Não há noite aqui, nem luar
Todo o dia é sempre dia.

Todos na base esquiam
Esquiam e fazem investigação
Há dias encontraram o que queriam,
Encontraram enorme vulcão!

De 50 quilómetros de altura
Mas, porém, adormecido
Abriu-se champanhe com fartura,
Comemos e dançámos com ruído


A vida aqui é asfixiante,
Tanta investigação cansa,
A tua chegada será calmante
Tu és a minha esperança!

A missão termina para o ano
Então regressaremos à Terra
vejo o meu Alentejo plano
Sinto o perfume que encerra.

São rios, campos e gente
Que me habituei a amar
Cá longe rói-nos uma dor pangente
Que custa a cicatrizar!

Aqui a atmosfera é azulada,
A gravidade é forte
A água está sempre gelada,
E para onde fica o Norte?

Não sabemos - tudo é irreal,
Também o nosso sol pouco aparece
A sua luz ilumina mal,
Vem de longe não aquece!

Das estrelas somos pó,
Para a mãe estamos voltando
Mas somos pobres como Jó,
Vamos apenas sonhando!

                     Manuel Inocêncio