segunda-feira, 7 de setembro de 2020

OS MEUS PERCURSOS «SÃOBRAZEIROS»




«OS MELHORES CARACÓIS DO MUNDO»

               Era um oásis reconfortante, naqueles meses de Maio, Junho e A-gosto, após a «maratona» desde a Vila até aos Almargens e regresso. Quando, do alto do serro que domina São Brás de Alportel e onde se situava a vivenda do sr. Perxés, que foi residência do saudoso benemérito e famoso tisiologista Dr. Medeiros Galvão, aparecia a terra sambrazense, era um novo alento e a perspectiva de um frugal, típico e regional lanche. Esperava-nos «um pratinho de caracóis», generosamente servido, ali no Café Montanha, no Largo de São Sebastião, em pleno coração da Vila. Pintado de amarelo, aquele estabelecimento tinha o nome escrito em grandes letras negras e primava nele, para além de outros atributos o acolhimento e a simpatia de todos, de modo próprio dos seus proprietários. Estes estavam ligados aos familiares de um colega de meu pai e, como ele, internado no Sanatório Carlos Vasconcelos Porto. Era a família Minhalma, ori-ginária de Tavira, gente boa e a militar nos mesmos escalões que nós, facto que reforçava a vivência desses tempos.
               Era o petisco os caracóis à algarvia, bem lavados e temperados com todos os ingredientes que mãos sábias sabem colher nos nossos cam-pos, desde as batatinhas brancas tipo «olho de perdiz», um acrescento que lhe adicionava um sabor e um reforço alimentícios notórios, tubérculos criados nas cuidadas hortas de São Brás de Alportel aos orégãos, poejo, hortelã e outros, que faziam os ciclópodes emitirem um odor campesino e motivador. O pão era rústico e apetitoso, dito «caseiro» e a pinga a acompanha um saboroso «tinto do Sales».
                 Decorria num ápice este compasso reconfortante da caracolada ali no Café Montanha, nas tardes estivais de Maio a Julho, a que se seguia o retorno na «camioneta do Santos», logo ali ao lado.

                                                                                        JOÃO LEAL