sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

RELEMBRANDO O JORNAL "AÇOTEIA"


Quem Sou Eu?


Quem sou eu?

Sei lá!

Sou um nada,

Um píncaro de flor,

Que nasceu,

E anda cá

Nem sequer sou amado

E que só sinto a dor,


Sou uma gota de água

perdida no Atlântico,

Procurando amparo.

Sou infeliz...

Sinto-me cheio de mágoa.

Soltando meu cântico

Sou raro...

Deus me perdoe o mal, que fiz.


Poesia de João Sequeira

(IN AÇOTEIA ANO I - Nº 3 - Maio 1962)


Recolha de Rogério Coelho


GRANDE EXEMPLO DE TOLERÂNCIA


HISTÓRIA DE UM COSTELETA MALANDRECO
por Jorge Tavares

Decorriam os anos 1950/52.

Um grupo de costeletas, frequentava algures em Faro, o mesmo explicador.
Desse grupo faziam parte o signatário, o Romualdo Cavaco, Alberto Rocha, Jacinto Nunes (o morgadinho de Salir)....

Ao costeleta malandreco, por comportamento menos correcto, foi-lhe aplicada pelo explicador uma boa ponteirada. Lembro que os métodos disciplinadores na altura, passavam também pelo uso do ponteiro, e em geral aplicado na cabeça.

O agredido, para se defender, instintivamente levantou o braço, e o ponteiro acertou-lhe no relógio, partindo-o. Esta máquina do tempo, tinha sido oferecida pelo seu pai, como prémio por ter feito os exames da quarta classe e de admissão com distinção.

A sua reacção foi de desgosto profundo, gerando desde logo, o pensamento de retaliação da agressão e consequentemente, ao agressor.

O explicador tinha uma namorada, que toda a gente sabia ser leviana, dando “ bola” a todos os rapazes que se aproximassem, com intenções de receber os seus olhados de especial carinho.

Como início da retaliação, o costeleta malandreco, encontrou no talho da Rua Filipe Alistão, conhecido como do “pau-preto”, um par de cornos de carneiro muito velho e como tal, grandes e retorcidos.

Recebido o objecto sem custo, embalou-o, e comunicou aos companheiros de explicação, a sua intenção. Assim, no dia do aniversário do explicador, encabeçando o grupo de colegas, foi ofertar-lhe os ditos como prenda de aniversário.

Após a entrega, e sem esperar pela abertura da prenda e pelos consequentes agradecimentos, debandaram de imediato. Obviamente que o costeleta malandreco, só com a intervenção e muito solicitada, do seu pai, voltou a ser readmitido na explicação.

Pouco tempo passado, a namorada do explicador acabou com o namoro, para “fugir” com um galã da época... este desenlace veio certamente, aliviar a consciência do malandreco.

A amizade que se cimentou entre todos os intervenientes desta “estória”, e o explicador, deve ser registada como exemplo de grande tolerância.

Recolha de
João Brito Sousa